Os partidos de esquerda sofreram nas eleições para prefeito deste ano, com as principais siglas desse campo político perdendo prefeitos pelo Brasil afora. Em consequência disso, o único estado que terá a partir do ano que vem uma maioria de mandatários municipais de esquerda será o Ceará. Por outro lado, onze terão uma maioria de chefes dos executivos municipais filiados a siglas de direita.
O movimento vem na linha de guinada à direita do eleitorado que se iniciou em 2016 com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). As informações são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foram analisadas pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles.
O mapa a seguir mostra a orientação política do partido dos prefeitos eleitos para todos os municípios brasileiros. Os de esquerda estão coloridos de vermelho, enquanto os de direita estão em verde. As cidades em azul têm partidos de centro.
Além do Ceará ser governado por Camilo Santana (PT), o estado também é o berço do ex-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT). Os dois fatores pesam para a força dos partidos de esquerda no local, que em uma coalizão conseguiu eleger José Sarto (PDT) como prefeito da capital do estado, Fortaleza.
“O Ceará é cartão de visitas de Ciro e, portanto, do PDT. Logo, é natural o esforço e o foco do partido naquele estado”, apontou o advogado e cientista político Rafael Favetti. Para ele, entretanto, é necessário fazer uma ressalva: “Eleger o prefeito da capital contra um candidato abertamente de oposição à aliança que os Gomes costuraram não é um fato que podemos dizer que foi uma vitória no sentido de uma conquista a mais. Se perdessem, sim, seria uma derrota”, avaliou.
Perder é rebaixamento
Comparando com o futebol, Favetti explicou que “no campeonato da política, ganhar em casa não vale 3 pontos. Soa como empate somente. Mas perder em casa é o rebaixamento direto. Em outras palavras: em política, ganhar em casa é obrigação”.
O sucesso da esquerda no estado não está contido no PDT. O PT conseguiu aumentar o número de prefeitos no estado. Foram 15 eleitos em 2016 e 18 em 2020. O movimento está na contramão do observado em nível nacional, no qual a sigla teve uma perda líquida de 71 mandatários e não conseguiu fazer sequer um prefeito de capital.
Um governador popular pode ajudar os candidatos a prefeito de seu partido no estado. Em Goiás, por exemplo, cujo chefe do Executivo estadual é Ronaldo Caiado (DEM), o ganho de prefeitos do seu partido foi de 52, ao sair de 10 em 2016 para 62 em 2020. Com isso, o estado passou a ter 61,4% das prefeituras comandadas por partidos de direita. Ao todo, onze estados têm mais de 50% dos seus municípios com um prefeito de direita.
Dos 26 estados que tiveram eleições municipais neste ano, apenas em seis o partido do mandatário estadual perdeu prefeitos. Em cinco deles, o partido é de esquerda. O único caso em que isso aconteceu com a direita foi com o PSL em Roraima. O gráfico a seguir mostra como evoluiu a quantidade de prefeitos do partido do governador do estado.
“Governadores detêm poderes administrativos significativos para cidades médias e pequenas. Então, mesmo se o governador não for popular, eles tendem a exercer muito poder local, até porque dialogam mais de perto com as assembleias legislativas e com os tribunais de contas, que são lugares que podem inviabilizar a vida dos prefeitos”, pontuou Favetti.
Além disso, “quando populares, os governadores podem sim emprestar essa popularidade aos prefeitos ou candidatos a prefeito, o que nos leva a crer que um governador tem sempre poder formal e um governador popular tem poderes formais e informais”, acrescentou.
Fonte: Metropoles
Créditos: Polêmica Paraíba