O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, prestou depoimento na CPI da Pandemia durante toda a tarde e pedaços da manhã e noite da terça-feira (04). Foram 8 horas de perguntas respondidas aos senadores no primeiro dia de depoimentos. Mandetta afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contrariou orientações do Ministério da Saúde baseadas na ciência para o combate à pandemia do coronavírus. Ele também avaliou que o chefe do Executivo adotou discurso negacionista que pode ter contribuído para espalhar mais rapidamente a Covid-19.
A Folha de São Paulo separou cinco pontos do depoimento que podem ser usados contra o Governo pela CPI:
Imunidade de rebanho
O ex-ministro disse ter a “impressão” de que o governo buscava a imunidade de rebanho como estratégia para vencer a pandemia. “A impressão que eu tenho era que era alguma coisa nesse sentido, o principal convencimento, mas eu não posso afirmar, tem que perguntar a quem de direito”, afirmou o ex-ministro, que disse sempre ter se balizado pela ciência.
Isolamento social
De acordo com o ex-ministro, Bolsonaro foi alertado que, no início da propagação do novo coronavírus, entre março e abril do ano passado, o ideal era que se fizesse isolamento social, mas, ainda assim, o presidente decidiu atacar a medida. “Todas as recomendações as fiz com base na ciência, a vida e a proteção. Eu as fiz nos conselhos de ministros e diretamente ao presidente”.
Carta a Bolsonaro
Mandetta disse que chegou a escrever uma carta para o presidente defendendo o isolamento social. Ela foi entregue em um reunião com outros ministros no Alvorada.
No documento, com data de 28 de março de 2020, Mandetta “recomenda expressamente” ao presidente que reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, “uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população”.
Mandetta diz ainda que “em que pese todo esforço empreendido por esta pasta para proteção da saúde da população e, via de consequência, preservação de vidas no contexto da resposta à epidemia da Covid-19, as orientações e recomendações não receberam apoio deste Governo Federal, embora tenham sido embasadas por especialistas e autoridades em saúde”.
Cloroquina
O ex-titular da Saúde também disse aos senadores que não partiu do Ministério a orientação para a produção do medicamento pelo Exército. Segundo ele, durante sua gestão, havia quantidade suficiente do medicamento pela Fiocruz para aquilo que lhe convém, como o tratamento da malária.
O ex-ministro também relatou que foi chamado a um gabinete no Palácio do Planalto, onde apresentaram uma sugestão de decreto para alterar a bula da cloroquina e incluir entre suas recomendações o uso para o tratamento da Covid-19. O ex-ministro já havia revelado no ano passado a tentativa do governo de alterar a bula do medicamento. Nesta terça, ele usou o exemplo para mostrar que havia outras pessoas aconselhando Bolsonaro sobre a pandemia.
Relação com o presidente
Mandetta disse que nunca teve discussões ríspidas com Bolsonaro, mas que sempre explicava ao presidente quais seriam as medidas indicadas por especialistas para o enfrentamento da pandemia. “O presidente, no mais das vezes, ele compreendia, ele falava: ‘Então, vamos, vamos… Dê seguimento!’, porque você não pode ser ministro sem relatar. Eu achava que eu estava fazendo um bom trabalho, inclusive, mas passavam-se dois, três dias, e ele voltava para aquela situação de quem não havia, talvez, compreendido, acreditado, apostado naquela via”.
Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Polêmica Paraíba