Sem unidade nacional, o plano de vacinação contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, tem seguido regras dos governos locais. Um dos exemplos vem das capitais, em que a diferença de idade do público-alvo da campanha chega a variar em até 27 anos. Atualmente, segundo levantamento do Metrópoles, a faixa etária oscila de 18 anos a 45 anos.
O problema, segundo especialistas, é que a falta de igualdade pode criar bolsões de contaminação, além de desorganizar o plano de imunização do Ministério da Saúde.
Neste sábado (17/7), a campanha completa seis meses.
São Luís e Manaus são as capitais em que o público-alvo vacinado hoje é o mais jovem: 18 e 19 anos, respectivamente. A capital maranhense foi a primeira a começar a imunizar essa faixa etária. Já a amazonense, após o colapso no sistema de saúde e o surgimento de nova variante do vírus na cidade, recebeu prioridade no envio de doses pelo Ministério da Saúde desde a chegada dos primeiros imunizantes.
Cuiabá e Palmas são os locais em que o calendário tem pessoas com mais idade na vacinação. Nessas capitais, o público-alvo atual são moradores com 45 e 43 anos, respectivamente
No Distrito Federal, a campanha está imunizando pessoas acima de 40 anos. Na quinta-feira (15/7), o governador Ibaneis Rocha (MDB) autorizou o cadastramento para esse grupo, e o agendamento começou na sexta-feira (16/7).
Cada capital articula a vacinação com cronograma próprio. Algumas cidades exigem o agendamento ou organizam por sexo, como no Rio de Janeiro, onde homens e mulheres se dividem por faixa etária e dia de atendimento.
Por falta de vacina, a aplicação da primeira dose ficou restrita ou suspensa em algumas capitais. Como aconteceu em Campo Grande, Manaus, Curitiba, João Pessoa, Aracaju, Natal e, na última semana, em Vitória.
Calendário próprio
Vale ressaltar que as secretarias de Saúde têm reservado doses para garantir a aplicação do reforço. Isso ocorre para evitar o desabastecimento e a paralisação da campanha, já que o país ainda enfrenta escassez do produto.
O Ministério da Saúde já distribuiu 153,2 milhões de doses. Ao todo, 118,8 milhões de unidades de imunizante foram aplicadas — entre primeira, segunda e dose única.
Desde o início da pandemia, o país registrou 19,3 milhões casos de Covid-19 e 539 mil óbitos por complicações da doença.
“Desestruturação injustificável”
Para o presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez, essa diferença pode impactar no controle da doença.
“Escancara a ausência da coordenação centralizada do PNI [Programa Nacional de Imunizações], que estaria garantindo a equidade na aplicação da vacina, princípio indispensável na execução do programa”, explica.
Além disso, para o especialista, a discrepância pode criar bolsões de adoecimento no país e prejudicar a campanha da vacinação.
“Mais um capítulo da desestruturação injustificável que vem caracterizando o manejo da pandemia. Isso cria mais do que bolsões, enormes desigualdades que se traduzem em casos e mortes”, conclui.
Versão oficial
O Ministério da Saúde informou, em nota, que o cálculo de distribuição de vacinas e a estratégia de imunização, incluindo o percentual para primeira e segunda dose, são pactuados semanalmente entre representantes da União, estados e municípios, de forma tripartite, a partir dos lotes de vacinas entregues pelos laboratórios.
“A recomendação da pasta é para que os gestores locais do SUS [Sistema Único de Saúde] sigam à risca essas orientações e o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, para garantir o esquema vacinal de todos os grupos. No entanto, estados e municípios têm autonomia para seguir a própria estratégia de vacinação, conforme as demandas regionais – a responsabilidade pela distribuição de doses aos municípios é da gestão estadual”, destaca o texto.
Na última quarta-feira (14/7), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criticou as mudanças efetuadas pelos estados, como antecipação de doses e ampliação de público.
“O PNI se reúne toda semana com o grupo de secretários estaduais e municipais. Ocorre que alguns secretários tomam deliberações baseadas no entendimento deles, e isso, de certa maneira, rompe o pacto tratado no PNI. A decisão que tomamos hoje é que se mantenha a rigidez do PNI. Se algum secretário entende de maneira divergente, ele apresenta a sua irresignação, e o grupo vai deliberar de tal maneira que consigamos avançar”, destacou.
Na sexta-feira (16/7), Queiroga voltou a reclamar de regras distintas. “Não podemos ter municípios criando regras próprias”, frisou, em Mato Grosso do Sul.
Veja a faixa etária de vacinação por capital:
Rio Branco: 27 anos
Macapá: 35 anos
Manaus: 19 anos
Belém: 30 anos
Porto Velho: 35 anos
Boa Vista: 26 anos
Palmas: 43 anos
Maceió: 36 anos
Salvador: 39 anos
Fortaleza: 31 anos
São Luís: 18 anos
João Pessoa: 35 anos
Recife: 37 anos
Teresina: 40 anos
Natal: 37 anos
Aracaju: 33 anos
Goiânia: 39 anos
Cuiabá: 45 anos
Campo Grande: 35 anos
Distrito Federal: 40 anos
Vitória: 30 anos
Belo Horizonte: 41 anos
São Paulo: 34 anos
Rio de Janeiro: 30 anos
Curitiba: 39 anos
Porto Alegre: 35 anos
Florianópolis: 38 anos
Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba