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Brasileiro acusado de se unir ao Estado Islâmico é condenado na Espanha

Detido desde 2014, Kayke Luan Ribeiro Guimarães recebeu uma pena de oito anos de prisão.

O brasileiro Kayke Luan Ribeiro Guimarães, 21, acusado de tentar viajar à Síria para se unir à facção radical Estado Islâmico, foi condenado nesta terça-feira (10) pela Justiça espanhola a oito anos de prisão pelo crime de formação de organização terrorista.A sentença chega mais de três anos depois de sua detenção em dezembro de 2014 na fronteira entre a Bulgária e a Turquia, em um dos casos mais emblemáticos de radicalização no território espanhol.

Guimarães diz que estava a caminho da Turquia para passar as férias com amigos, versão repetida pela família, que entrará com recurso. A Justiça espanhola afirma que ele pretendia rumar à Síria.

Na sentença de 198 páginas, obtida pela Folha, o juiz afirma que a polícia encontrou na casa de Guimarães cópias de manuais extremistas, incluindo um guia produzido pela Al Qaeda. Um dos textos descreve em detalhes as táticas terroristas, enquanto o outro expõe a ideia de guerra santa.

Do brasileiro, também foi encontrada pela polícia uma carta escrita a sua namorada, identificada como Yousra El Gaiat, antes de partir à Síria.

“Nunca te esquecerei e sempre te amarei. Perdoe-me por não ter cumprido minha promessa, mas há uma causa maior e você já sabe. Não sei como me despedir de você. Desfrute desta vida, que é passageira. Você foi o único amor da minha vida e pode ser que voltemos a nos ver. Apenas Deus é quem sabe.”

Na casa de outro dos condenados, o espanhol Antonio Sáez Martínez, líder do grupo, foram encontradas anotações sobre como produzir bombas.

“Os acusados constituíram uma célula terrorista com a única finalidade e motivo de cumprir os postulados apontados pelo Estado Islâmico”, diz a sentença, “atentos para realizar a qualquer momento um ataque contra instituições como a polícia, entidades bancárias ou interesses judeus no país”.

O goiano Guimarães vivia na cidade de Terrassa, na região da Catalunha. Quando a Folha esteve ali, após sua detenção, ouviu de colegas de mesquita que ele vinha se radicalizando depois de se unir a um grupo local de radicais. O jovem, à época com 18 anos, havia abandonado o nome de nascimento e se apresentava como Hakim.

A cédula, chamada de Fraternidade Islâmica, foi constituída a partir de 2014 em torno da mesquita de Terrassa, segundo Madri. Jovens como Guimarães foram cooptados para, após a radicalização, viajar à Síria ou ao Iraque e se unir à milícia.

“Essa intenção de levar a cabo os princípios do Estado Islâmico não era apenas compartilhada por todos os membros da cédula, mas inclusive um deles, Abdellatif Chahmout, se deslocou à Síria e morreu no Iraque em 2015”, afirma o auto. Os demais, como Guimarães, tinham planos de seguir o exemplo e fazer a viagem.

Outros nove membros de sua célula também foram condenados, e suas penas chegam a 12 anos de prisão. Há entre eles espanhóis e marroquinos, para além do brasileiro. Havia, segundo a Justiça espanhola, planos de organizar um ataque a Barcelona —como aquele realizado em agosto de 2017, que deixou 16 mortos.

Fonte: Folha Uol
Créditos: Folha Uol