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Brasil precisa de atos que mudem a má fama no mundo, diz embaixador alemão

Em entrevista, Witschel detalhou como essa mudança na percepção seria possível. Para o diplomata, essa é uma tarefa importante e que cabe ao Brasil.

Quando deixou o encontro com o presidente em exercício, o vice-presidente e general Hamilton Mourão, Georg Witschel, o embaixador da Alemanha no Brasil, falou aos jornalistas que gostaria muito de ajudar o Brasil a melhorar uma “reputação do Brasil, que pode ser meio errada”, no exterior.

Em entrevista, Witschel detalhou como essa mudança na percepção seria possível. Para o diplomata, essa é uma tarefa importante e que cabe ao Brasil.

“Não queremos medir o novo governo segundo as palavras e tuítes da campanha”, disse o embaixador. Witschel avalia que, em parte, a reputação negativa do país no exterior se deve a declarações de Bolsonaro feitas durante a corrida eleitoral.

Leia pontos de destaque da conversa:

Como a Alemanha poderia ajudar o Brasil a melhorar a percepção que tem no mundo?

Georg Witschel: Essa é uma tarefa para o Brasil. (…) O novo governo pode melhorar essa imagem com atos e discursos cuidadosos, sempre levando em consideração que, no exterior, há muitas pessoas e organizações, além da imprensa, tensas com a campanha eleitoral depois de tudo o que foi dito, incluindo o presidente. Tenho a expectativa de que o novo governo tenha um interesse próprio de continuar as parcerias com a Alemanha, como a nossa cooperação em prol dos direitos humanos, do meio ambiente, da luta contra a mudança do clima e dos refugiados, por exemplo. São mensagens positivas com base em uma cooperação verdadeira, são fatos positivos.

Em Davos, Bolsonaro falou sobre gases estufa [o presidente citou a busca pela redução de CO2]. Esse é um sinal importante e mostra ao mundo que ele considera que, sim, há uma mudança climática, há um papel dos seres humanos, uma responsabilidade dos governos. As palavras são importantes. [A fala de Bolsonaro hoje é] um discurso positivo sobre o Tratado de Paris, sobre a necessidade de preservar as florestas, sobre preservação e as safras do Mato Grosso do Sul. O importante é que são sinais que indicam que o Brasil vai continuar o rumo de um parceiro internacional.

É dar sinais positivos para que a leitura seja positiva?

Com certeza. Além disso, nós, como parceiros, não queremos acreditar em todas as notícias na imprensa ou das ONGs. Somos parceiros, então a Alemanha vai monitorar, observar este governo de acordo com seus atos, e não com o que as organizações da sociedade civil ou da imprensa dizem. Pode ser verdade, pode ser exagero, mas queremos monitorar, avaliar e cooperar a fim de conquistar nossos objetivos conjuntos. Opinião é uma consequência de palavras, fatos e atos. Esperamos fazer muito na cooperação para melhorar a reputação do Brasil para que esta imagem melhore.

O que seria esta visão negativa?

Na Europa e em quase em todo o mundo, a reputação do Brasil que é bastante complicada, até mesmo ruim. Parte da sociedade alemã e parte da imprensa internacional reportam de uma maneira que produz uma imagem bem negativa do Brasil. Não digo que os culpados são a imprensa, mas durante a campanha eleitoral brasileira foram feitas observações que foram extremamente problemáticas. Mas não queremos medir o novo governo segundo as palavras e tuítes da campanha.

Queremos observar quais são os atos do novo governo, esperando que ele mostre que tem responsabilidade em manter os direitos dos cidadãos brasileiros, em seguir no rumo de uma política exterior razoável e balanceada. Mas é claro que depende muito do que o governo brasileiro faz. Mas campanha é campanha, governo é governo.

Campanha é campanha, governo é governo. No caso do Brasil, como vocês avaliam estas diferenças?

Em todos os países, uma campanha eleitoral é uma temporada bastante quente, com discursos e observações nem sempre equilibradas. Temos que distinguir entre candidatos em campanha e um presidente, um governo depois da posse. Nunca houve uma maior diferença entre Brasil e Alemanha sobre política externa, por exemplo. Já existiram menores discordâncias ou problemas, mas sempre tivemos uma parceria muito boa nos foros internacionais. Explicamos ao novo governo as prioridades da nossa política, como o Tratado de Paris. Para o governo alemão, é algo muito importante e acreditamos que não faz sentido sair dele.

Apresentei a Bolsonaro antes da posse um pequeno documento com alguns pontos de interesse alemão, como a reforma e a modernização do Conselho de Segurança da ONU, a luta pela paz nas áreas de desarmamento, combate ao crime organizado e cibernético, ao tráfico internacional de drogas. Outro ponto é a participação do Brasil em forças de paz da ONU. E acho que queremos cooperar juntos porque, para os dois países, participar do capacetes azuis da ONU é algo importante.

Mas atualmente nós não integramos nenhuma força de paz.

Ouvi somente o vice-presidente [que assume nesta semana o cargo de presidente em exercício] e o antigo secretário-geral do Itamaraty, mas o Brasil está interessado em uma nova participação nas forças de paz, independentemente da política e de outras circunstâncias. Acho que o novo governo tem as portas abertas para uma nova participação nas forças de paz da ONU.

Além disso, falei sobre manter a nossa cooperação na proteção de direitos humanos no mundo. Acreditamos que o Brasil exerce uma posição importante, nesse sentido, no Grupo de Lima [criado no continente americano para lidar com a crise na Venezuela]. Temos um papel maior na Colômbia, onde apoiamos o processo de paz com bilhões de euros. Então não queremos que a situação da Venezuela deteriore ainda mais a situação na região. Queremos evitar uma guerra civil, por isso estamos interessados no papel tão positivo do Brasil neste processo de procurar uma solução pacífica para estabelecer um novo governo democrático na Venezuela.

Disse ao Mourão também que apoiamos o acordo entre a União Europeia e o Mercosul e o fortalecimento da OMC. Além disso, enfatizei ao novo governo que economia e ecologia não são opostos e, pelo contrário, avanços na proteção ambiental também garantem competitividade à economia brasileira. Também ressaltei a questão da mudança climática, o Acordo de Paris e que gostaríamos que o Brasil mantivesse as condições para o ensino da língua alemã. Hoje temos 180 mil alunos, podemos manter e aumentar esse número.

É claro que nada disso foi feito de forma hostil. Temos muitas áreas de concordância e cooperação. Não estamos apontando para os brasileiros e dizendo: ‘olha, eles desmatam tudo’, não é isso. Não somos pessoas morais, que querem dar ordens aos brasileiros sobre o que eles devem ou não fazer. Nós cooperamos. Temos o dinheiro e investimos junto com nossos parceiros brasileiros. Não queremos pregar o que o Brasil deve ou não fazer, é uma parceria.

Fonte: UOL
Créditos: UOL