Coronavírus

Bolsonaro se autoimpôs um confinamento político - Por Josias de Souza

O Brasil pós-redemocratização elegeu cinco presidentes: Collor, FHC, Lula,
Dilma e Bolsonaro. Dois foram enviados para casa antes de concluir os seus
mandatos: Collor e Dilma. Isso corresponde a uma taxa de mortalidade política
de 40%. De acordo com o Ministério da Saúde, o índice de letalidade do
coronavírus no Brasil é, por enquanto, dezenove vezes menor: 2,1%.
Tomado pelo comportamento ciclotímico e pelas declarações mais recentes,
Bolsonaro parece movido pelo desejo secreto de elevar o índice de mortalidade
política dos presidentes brasileiros para 60%. Ao defender a suspensão
imediata do isolamento social, o presidente se autoimpôs um confinamento
político. Isolou-se dos governadores, dos prefeitos e também do Congresso.
Muitos ainda procuram uma lógica política para a movimentação de Bolsonaro.
Mas não se deve buscar fundamentos políticos em algo que pode ser explicado
adequadamente pela estupidez. Não há na argumentação do presidente
nenhum vestígio de ciência, apenas achismo.
Para um presidente que foi salvo pela medicina depois de sofrer uma facada na
campanha de 2018, o abandono da ciência revela uma patologia. Bolsonaro
deixou-se infectar pelo vírus da ignorância. Suas manifestações indicam que o
contágio atingiu o grau máximo, que é quando o doente ignora a própria
ignorância.
Bolsonaro defende que os brasileiros se exponham ao contágio do coronavírus
sob o argumento de que é “nossa vida tem que continuar”, “os empregos devem
ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado.” Bolsonaro sugere
uma falsa opção: o risco de um número maior de mortes em troca de um PIB
melhor.
Nesse ritmo, o presidente vai acabar convencendo a maioria dos brasileiros de
que é melhor matar mais um mandato presidencial do que manter no comando
um presidente que coloca em segundo plano a vida dos cidadãos que deveria
defender. Com sua insensibilidade, Bolsonaro recolocou a carta do
impeachment no baralho.

Fonte: Uol
Créditos: UOl