
À medida que Jair Bolsonaro (PL) fica mais perto da prisão, com o julgamento da quadrilha golpista pelo Supremo Tribunal Federal (STF), aliados que já foram próximos se afastam do ex-presidente para começar a circular no entorno da “terceira via”, que tem em Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) a principal aposta para ser o candidato “anti-Lula” em 2026.
O próprio Tarcísio, como a Fórum revelou, estaria traindo Bolsonaro atuando nos bastidores, juntamente com Hugo Motta (Republicanos-PB), para inviabilizar o PL da Anistia na Câmara.
Como álibi para engavetar o projeto Motta, Tarcísio e Republicanos usaram o ataque de Silas Malafaia, a mando de Bolsonaro, ao presidente da Câmara.
No entanto, a traição não se restringe a Tarcísio. Nove deputados do PL deram de ombros para a orientação do partido e votaram pela urgência de um projeto que, segundo Malafaia, foi colocado na pauta por imposição de Alexandre de Moraes.
No vídeo em que desfere os ataques com uma “denúncia gravíssima”, Malafaia diz que Motta é “mentiroso” ao retirar da pauta a votação para o regime de urgência ao PL da Anistia e colocar projetos de interesse de Moraes.
“Agora vem a denúncia gravíssima. Preste atenção a isso, gente, ao absurdo. Hugo Motta acaba de pautar a urgência de quatro projetos do Judiciário, sem assinatura dos líderes e que não tinha pedido de urgência, não passou pelas comissões. Ele acaba de pautar quatro projetos de interesse do judiciário, que não tem assinaturas dos líderes. E eu provo: PL 769/2024, PL 4303/2024, PL 1/2025, PL 2/2025”, lista Malafaia no ataque a Motta.
Dos projetos citados, apenas um, o PL 769/24, é do STF e cria 160 funções comissionadas na corte – os demais são do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
E foi justamente na votação da urgência desse PL em que Bolsonaro foi traído por nove deputados – 10% da bancada de 93 parlamentares -, que viabilizou a urgência ao projeto na pauta.
A aprovação da tramitação de urgência do PL foi aprovada por 262 dos 257 dos votos necessários, com a adesão dos 9 parlamentares do PL que traíram a orientação da liderança da minoria e votaram sim ao projeto “de Moraes”, segundo Malafaia.
Se os 9 parlamentares tivessem seguindo a orientação e votado “não”, o placar seria de 253 votos favoráveis – abaixo dos 257 necessários – e não seria aprovada a urgência no tema.
Entre os traidores, estão um ex-ministro, Marcelo Álvaro (PL), e o pai de Fábio Faria, que comandou a pasta de Comunicações no governo Bolsonaro.
Saiba quem são os 9 traidores de Bolsonaro:
Saiba quem são os 9 traidores de Bolsonaro.
– Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG): ex-ministro do Turismo de Jair Bolsonaro, demitido por participar do “laranjal” do partido nas eleições de 2018, com lançamento de candidaturas fantasmas de mulheres para pegar dinheiro do fundo partidário.
– Luiz Carlos Motta (PL-SP): Presidente da Federação dos Comerciários do Estado de São Paulo (Fecomerciários) e figura próxima ao vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). Ele já havia traído o clã em 2019 ao votar contra a retirada do Coaf do escopo do Ministério da Justiça, numa manobra para livrar Flávio e Carlos Bolsonaro das investigações das “rachadinhas”.
– Robinson Faria (PL-RN): pai do ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, com uma longa ficha de serviços prestados ao Centrão.
– Pastor Eurico (PL-PE): Outra figura do Centrão, Eurico está na Câmara desde 2011 e foi um dos precursores da pauta homofóbica e misógina na casa. Ficou conhecido nacionalmente por atacar a apresentadora Xuxa no plenário – “conhecida Rainha dos Baixinhos que no ano de 82 provocou a maior violência contra as crianças em um filme pornográfico” – e por dizer que “o STF está a serviço da esquerda”.
– Soraya Santos (PL-RJ): a deputada é conhecida pela relação estreita e pela bajulação a Michelle Bolsonaro.
– Wellington Roberto (PL-PB): do mesmo estado de Hugo Motta, Roberto é oriundo da “Tropa de Choque de Cunha”, e tem como principal inimigo de Marcelo Queiroga (PL) na Paraíba, para quem perdeu o comando do partido no Estado. Responde a processo por corrupção e foi alvo da Operação Sanguessuga, sobre desvios no Ministério da Saúde.
– Rosângela Reis (PL-MG): eleita em 2023, foi vereadora em Ipatinga e faz parte do grupo de Marcelo Álvaro Antônio.
– Adilson Barroso (PL-SP): após armar confusão dentro do Patriotas, em negociata para vender o partido para Bolsonaro, se filiou ao PP e foi eleito deputado federal. Bajulador contumaz do ex-presidente, propôs um PL sobre o Dia do Patriota, a ser celebrado na data de aniversário de Bolsonaro.
– Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP): figura lendária da política paulista, já transitou por uma ampla esfera partidária e chegou a ser ministro de Dilma Rousseff, na cota de Michel Temer, com quem nutre uma relação de amizade e que fez a ponte com Alexandre de Moraes. Em 2017 teve a prisão decretada pela Polícia Federal na Operação Caixa D’Água por crimes eleitorais. Também foi protagonista da fraude no painel eletrônica da Câmara dos Vereadores de São Paulo em 2012, por registrar ponto sem estar presente na sessão.
Revista Fórum