Reportagem de ontem do Jornal Nacional, da TV Globo, revelou que um porteiro citou o nome do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao prestar depoimento sobre o caso dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, que aconteceram em março de 2018.
Esta foi a primeira vez que uma citação nominal a Bolsonaro nas investigações sobre o assassinato veio a público. Relembre a seguir, os principais pontos do caso e entenda a cronologia do caso.
Marielle e Anderson passavam de carro pelo bairro do Estácio, no centro do Rio, por volta das 21h30, quando o crime aconteceu: outro veículo emparelhou ao deles e efetuou pelo menos 14 disparos.
Segundo policiais da Divisão de Homicídios, que os responsáveis pelo crime tinham conhecimento sobre a posição exata que a vereadora ocupava no veículo, que possuía vidros escuros.
26 de abril de 2018: Carlos Bolsonaro relata discussão com assessor de Marielle
Pouco mais de um mês após o assassinato de Marielle, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) relatou em depoimento à Polícia Civil ter tido uma discussão com um assessor da vereadora. O caso ocorreu antes do crime, mas nem Carlos nem outras testemunhas ouvidas souberam informar a data exata em que o bate-boca aconteceu.
Segundo o vereador, a própria Marielle “intercedeu para acalmar os ânimos, encerrando a discussão”.
8 de maio de 2018: PM aponta Orlando Curicica e Marcello Siciliano como mandantes
Um mês e meio após o assassinato, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira apontou, em depoimento à polícia, o miliciano Orlando Curicica e o vereador Marcelo Siciliano (PHS) como mandantes do crime.
Ferreirinha, como é conhecido, trabalhou para um grupo paramilitar e disse ter presenciado quatro conversas entre o vereador e o miliciano sobre o planejamento do crime. Ele prestou três depoimentos à polícia em troca de proteção. Os acusados negaram envolvimento no crime. Posteriormente, Ferreirinha assumiu que mentiu (veja abaixo).
12 de março de 2019: Polícia do Rio prende Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
Prestes a ser completado um ano do crime, o policial reformado Ronnie Lessa, 48, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 46, foram presos sob suspeita de participação direta nos assassinatos de Anderson e Marielle.
Lessa é apontado como o autor dos disparos que matou os dois. Já Queiroz, que foi expulso da PM, estaria conduzindo o carro usado no crime, de acordo com as investigações. Os dois foram denunciados pelo MP (Ministério Público) por duplo homicídio qualificado. Eles negam participação no crime.
Lessa foi preso em sua casa, no condomínio Vivendas da Barra —o mesmo onde o Bolsonaro tem uma casa. À época, o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios, afirmou não haver qualquer relação entre Bolsonaro e o crime.
Uma suposta foto de Bolsonaro ao lado do ex-PM Élcio de Queiroz passou a circular nas redes sociais no mesmo dia. Perguntado sobre as imagens, o presidente minimizou e disse ter “milhares de fotos com policiais civis e militares, do Brasil todo”.
12 de março de 2019: Filha de Lessa namorou filho de Bolsonaro, diz delegado
O delegado Lages confirmou ainda que uma filha de Lessa, acusado de efetuar os disparos contra Anderson e Marielle, namorou Jair Renan, o filho mais novo de Bolsonaro.
“Isso tem (o namoro), mas isso, para nós, não importou como motivação delitiva”, afirmou o delegado.
Já Bolsonaro disse não saber informar se seu filho realmente namorou uma filha de Lessa. “Meu filho Jair Renan disse naquele linguajar: “Papai, namorei todo mundo no condomínio, não lembro dessa menina”, disse o presidente.
31 de maio de 2019: PM diz que mentiu ao apontar Curicica como mandante
Ferreirinha, que havia testemunhado nas investigações sobre o caso Marielle e apontado o miliciano Orlando Curicica como um dos mandantes do crime, mudou sua versão e afirmou ter mentido nos depoimentos.
Em depoimento à Polícia Federal, Ferreirinha confessou que prestou falso testemunho com o objetivo de se vingar de Curicica, que havia tomado sua central clandestina de TV a cabo em uma área da zona oeste do Rio. Não ficou claro, no entanto, se o PM retirou também sua versão dos fatos sobre o vereador Marcello Siciliano, que também havia sido apontado por ele como um dos mandantes dos assassinatos.
9 de outubro de 2019: Bolsonaro diz que Witzel contou a ele sobre citação de seu nome
Segundo Bolsonaro, o governador do Rio, Wilson Witzel, o teria avisado da citação do seu nome nas investigações do caso Marielle e da subida do processo ao STF (Supremo Tribunal Federal) no dia 9 de outubro. A investigação acontece sob segredo de Justiça.
De acordo com o presidente, Witzel teria dito a ele que que “o processo está no Supremo [Tribunal Federal]” em um encontro inesperado entre os dois no Clube Naval do Rio de Janeiro. Ao ser questionado sobre qual processo seria esse, Witzel teria confirmado se referir ao de Marielle.
Bolsonaro relatou, ainda, que após perguntar ao governador qual seria a sua relação com o processo de Marielle, Witzel teria dito que o porteiro do condomínio citou o nome do presidente.
25 de outubro de 2019: PGR diz que Domingos Brazão “arquitetou” assassinato
Em denúncia ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmou que o político Domingos Brazão “arquitetou o homicídio de Marielle e, visando manter-se impune, esquematizou a difusão de notícia falsa sobre os responsáveis pelo homicídio”.
Ex-deputado estadual, Brazão é conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) e também é suspeito de usar a estrutura do seu gabinete para obstruir a investigação sobre o caso.
29 de outubro de 2019: Reportagem da Globo cita nome de Bolsonaro
Uma reportagem da TV Globo afirma que o porteiro do condomínio onde Bolsonaro mantém residência no Rio afirmou que o suspeito de matar a vereadora Marielle pediu para ir à casa do presidente no dia do crime.
Segundo a reportagem, o porteiro disse que alguém com a voz dele autorizou a entrada. Bolsonaro, no entanto, estava na Câmara dos Deputados neste dia, segundo registro de presença da Casa.
30 de outubro de 2019: Bolsonaro aciona Moro para que porteiro preste depoimento à PF
Bolsonaro disse estar conversando com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, para que o porteiro possa ser ouvido novamente, pela Polícia Federal.
Horas depois, Moro pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a instauração de um inquérito para apurar o depoimento do porteiro.
Fonte: Uol
Créditos: Uol