Revolução

Blogueira usa necessidade para revolucionar maneira como se compra lingeries

Quando Cora Harrington começou seu blog sobre lingerie, em 2008, ele era, por um lado, uma necessidade, e, por outro, uma paixão.

Quando Cora Harrington começou seu blog sobre lingerie, em 2008, ele era, por um lado, uma necessidade, e, por outro, uma paixão. A empreendedora queria algumas lingeries, mas não conseguia encontrar nenhum site de avaliações para ajudá-la em suas compras. Então, começou a avaliá-las em um blog que batizou de “The Stockings Addict”. “Todas as minhas primeiras avaliações eram focadas em meias-calças, collants e coisas do tipo”, lembra. “Eram itens mais acessíveis para eu escrever.”

Nove anos depois, o blog virou o “The Lingerie Addict” e passou a contemplar todos os tipos de roupas íntimas. E Cora transformou seu projeto paralelo em um trabalho em tempo integral. Ela fez com que sua criação, que chama pela abreviação TLA, se transformasse no principal blog de lingerie do mundo.

Fazer do TLA algo que se sustentasse era uma jornada complicada. Quando Cora conseguiu dezenas de milhares de leitores, decidiu que era hora de vender anúncios. “Eu me lembro de quando comecei a querer mergulhar na publicidade. Estava realmente com medo que meus leitores odiassem”, conta. Ela começou utilizando o Google AdSense, um serviço que permite que os usuários exibam anúncios direcionados do Google em seus próprios sites. Mas, rapidamente, o AdSense considerou o TLA inelegível para seu serviço, pois, na visão deles, tratava-se de conteúdo adulto.

“Isso diz muito sobre o que pensamos de lingerie e como enxergamos algo que centenas de milhões de pessoas usam diariamente, mas que é considerado um tabu, inapropriado”, afirma. “Mas também diz muito sobre o que pensamos ser aceitável falar em público.”

Em seu site, o Google AdSense afirma: “embora reconheçamos que as interpretações de conteúdo adulto podem variar entre países e culturas, nós submetemos os editores às mesmas exigências, para que possamos garantir um ecossistema global de publicidade seguro e saudável”. E eles não são os únicos com essa abordagem. “É um tema recorrente entre as redes de anúncios online”, diz Cora.

Ela passou, então, a lidar diretamente com as marcas e vice-versa, criando relações valiosas. “Isso me deu uma boa base para construir os negócios.”

Desde o início, Cora trabalhou para garantir que o TLA fosse útil para todas as pessoas. “Ser uma mulher negra e queer tem a ver com tudo o que acho relevante”, afirma.

A maneira como a indústria tradicionalmente se apresentou deixou muita gente de fora. Cora afirma que existem os dois modelos principais de marketing na indústria de lingerie: ou você é uma angel da Victoria’s Secret ou está vestindo o tamanho errado de sutiã. “Onde está a diversão dessas narrativas?”, questiona.

Ela também enfatiza que o frequente marketing da lingerie como algo “que o seu homem quer” elimina o desejo das mulheres queer. A perspectiva externa de Cora na indústria ajudou a enxergar esses gaps e trabalhar para preenchê-los. Ela estudou sociologia com foco em raça, classe e gênero.

Estrear na indústria está longe de ser algo fácil e Cora enfrentou resistência no início. “Muitas pessoas deixaram claro que pensavam que eu não me encaixava nesse mundo.”

Lições aprendidas

Desde cedo, Cora percebeu que nem todos iriam gostar dela ou do seu trabalho e que precisava focar naqueles que gostavam. “Você precisa descobrir quem é o seu público-alvo e a opinião de quem é mais relevante para você.”

O The Lingerie Addict é guiado por seu público e não pelas críticas da indústria ou das marcas. “A única razão pela qual as pessoas do setor estão interessadas em mim é por causa dos meus leitores”, afirma Cora. “Então elas são as pessoas que eu preciso agradar.”

Fundar sua própria empresa também ensinou lições a Cora sobre confiança. O TLA fez algo inédito e ela teve de criar seu próprio caminho. “É assustador fazer coisas novas”, confessa.

Esse trabalho ensinou a Cora a arte de ser uma especialista. Apesar de ter entrado na indústria por meio de um contexto não tradicional, ela sabia como trabalhar e estudar para se tornar a especialista que seu público precisava. Ela também entendeu o valor da contribuição de novas vozes. “Eu queria que o The Lingerie Addict fosse um recurso e uma plataforma de nível especializado e não necessariamente um lugar sobre mim e minhas roupas”, explica.

Cora acredita que o mercado de lingerie tem um futuro promissor. Muitas coisas já mudaram e ficaram mais acessíveis. “Eu cresci no centro da Geórgia e não em uma cidade grande. Lá não existiam lojas de lingerie”, conta. “Se não fosse no shopping, era impossível consegui-las.”

O aumento do e-commerce, segundo ela, mudou esse cenário. Os consumidores têm mais opções do que nunca. E marcas pequenas têm mais oportunidades para triunfar. “Grifes que nunca conseguiriam crescer na indústria, agora conquistam seu espaço, já que podem alcançar seus consumidores diretamente.”

Cora espera que as pessoas entendam que é normal ter uma variedade de tamanhos na sua gaveta de lingeries. “Os modelos podem ficar melhor em você em diferentes épocas do mês”, diz. Ela admite que encontrar o tamanho perfeito pode ser difícil, mas que é possível descobri-lo com um pouco de tempo e generosidade com você mesma.

Fonte: Forbes Brasil
Créditos: Forbes Brasil