Exercício de redundância dizer que o governo Bolsonaro tem enfiado os pés pelas mãos, em tranches diárias, nos seus 75 dias de gestão. Até para um calouro no Palácio do Planalto, há excesso nos desacertos, recuos, gafes, omissões e demissões. Torna-se ameaçador, no entanto, quando a bússola desnorteada também serve à área econômica.
Antes do primeiro mesversário da reforma da Previdência, a ser completado na próxima quarta-feira (20),o ministro Paulo Guedes(Economia) apontou para outra direção. O que no seu discurso de posse fora tratado como plano B, no caso de insucesso nas mudanças das regras para aposentadorias, ganhou imediatismo. O economista passou a defender a tramitação simultânea da PEC previdenciária e de uma outra para desvincular o Orçamento.
A estratégia de Guedes mostrou-se equivocada. O “Posto Ipiranga” de Jair Bolsonaro ouviu críticas de governadores, parlamentares e especialistas em contas públicas. Foi obrigado a recuar em seus planos e tentou jogar para as mãos dos políticos a decisão sobre o timing da medida. O secretário especial de Previdência, Rogério Marinho, se antecipou ao ministro (a quem é subordinado) e declarou que a proposta de mexer no Orçamento não seria mais enviada ao Legislativo no curto prazo.
O ministro é neófito nas agruras de Brasília. Jogou a cenoura da PEC da desvinculação na tentativa de criar uma agenda positiva para políticos em meio à aridez da reforma da Previdência. Ruído desnecessário.
Diante do fracasso nesse front, o governo agora ensaia um plano C. De forma prematura, pretende abrir as discussões com o Congresso sobre a reformulação do sistema tributário, usando como ponto de partida o redesenho do PIS e da Cofins. A dispersão de energia não ajuda a aprovar a nova Previdência, demonstra falta de foco e desespero em acertar.
Guedes usa a metáfora da queda de um avião para descrever o futuro do sistema de aposentadorias, sem a reforma. Biruta de aeroporto é termo que cai melhor à atual situação.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo