O soldado Leandro Prior, 28, apresentou nesta segunda-feira (24) à Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo a denúncia de que estaria sendo alvo de ameaça e crime de racismo desde que se tornou pública a intenção dele em pedir o namorado em casamento.
O pedido foi feito nesse domingo (23) com Prior fardado e próximo à base em que estava de plantão, nos arredores da Cracolândia (região central de São Paulo). Ele havia solicitado à corporação na semana passada que pudesse fazer o pedido, de farda, na 23ª Parada do Orgulho LGBT, mas não obteve autorização – a negativa veio horas depois de o ofício de Prior à PM vazar em grupos de policiais no WhatsApp.
À Corregedoria, o soldado apresentou cópia de ameaça que recebeu via mensagem direta no Facebook. A ameaça, segundo apurou a Universa, teria sido feita por um policial reformado que atuou no 39º Batalhão da Capital.
Na ameaça recebida via Facebook, à qual a reportagem teve acesso, o homem usa xingamentos e ameaças de conteúdo homofóbico ao se dirigir ao soldado.
“Bichona filha da put* pede baixa [ou seja, pede exoneração] seu viadão do caralh*, vou te caçar atrás te catar te encontrar e vou te quebrar todo seu viado do caralh* (sic)”, diz a mensagem, que enfatiza a Prior que ele não vai “desonrar a minha gloriosa PMSP [Polícia Militar do Estado de São Paulo].” Em tom direto, finaliza: “VOU TE CAÇAR E TE ENSINAR A VIRAR HOMEM NA PORRADA”.
A reportagem também teve acesso a outras mensagens que circularam em grupos de WhatsApp de policiais desde ontem, após o pedido de casamento ser consumado. Em áudios, por exemplo, supostos policiais afirmam que Prior estaria “ofendendo a dignidade” da classe “e a instituição”, enquanto “mártires estão na rua caçando ladrão, prendendo, trocando tiro”. “Eles não fazem nada”, reclama o suposto PM sobre o comando da polícia a respeito do caso.
Também nesses grupos circularam fotos de Prior com o noivo e memes ridicularizando o pedido de noivado. Já no sábado (22), de acordo com o próprio soldado e com vizinhos do noivo dele, na Grande São Paulo, um homem teria fotografado e monitorado a área em que Silva mora.
A ameaça e as hostilidades não são exatamente uma novidade para o policial. Ano passado, após ser filmado, sem seu conhecimento, dando um selinho no então namorado, trajando farda e no metrô, Prior recebeu ameaças de morte e as levou à Corregedoria. Uma delas era contra um policial da Rota, a tropa de elite da PM paulista. A investigação não gerou nenhuma punição.
O caso de agora está em sigilo no órgão interno. Além de ameaça, será investigada também prática de racismo -sob o qual a prática de homofobia foi criminalizada, este mês, pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
PM apura conduta de soldado; pedido de noivado teve clima tenso
A PM informou por meio de sua assessoria de comunicação que a conduta de Prior no domingo é alvo de apuração disciplinar por parte do comando ao qual o soldado está subordinado.
O pedido de noivado feito domingo foi rápido – não durou nem 5 minutos – e acompanhado apenas por poucos amigos mais próximos do casal. O clima, no entanto, era de tensão: uma viatura da PM com insulfilm parou bem em frente ao local escolhido pelos noivos e saiu tão logo o pedido de casamento foi feito. Ao final, o casal se beijou e foi cumprimentado por frequentadores da praça.
Após o “sim”, o soldado voltou a seu posto de trabalho na base operacional em que estava de plantão.
À Universa, um major da assessoria não confirmou a autenticidade de um ofício que começou a circular ontem, ao comando do 13º Batalhão – ao qual Prior está subordinado –, pedindo providências contra o militar. No documento, por exemplo, consta que uma equipe da Inteligência monitorou o pedido de noivado com filmagens, fotos e viatura à paisana.
“Acho que era uma primeira versão, ou um rascunho”, resumiu o porta-voz da PM, major Emerson Massera. Ele disse desconhecer uma suposta versão original.
Fonte: Uol
Créditos: Uol