O presidente Jair Bolsonaro publicou, nesta terça-feira, uma alteração no decreto que dispõe sobre a padronização de bebidas no país. Com as mudanças, as cervejas agora poderão ser produzidas com substitutos do lúpulo, espuma artificial e qualquer tipo de corante. Outras mudanças também foram feitas, como a eliminação de regras para a utilização de adição de álcool e de água de fora das fábricas.
“A qualidade das grandes cervejas no Brasil já é baixa”, afirma Felipe Lima, biólogo, cervejeiro e integrante do grupo “Cervejarias populares”. “Com as alterações no decreto, as grandes cervejarias vão conseguir baratear ainda mais seus custos, mas não vão produzir um produto melhor. Elas vão apenas lucrar mais”, avalia.
A edição no decreto retira a obrigatoriedade de quase todos os pontos dos oito artigos que tratam sobre a a padronização da produção de cerveja, como, por exemplo, o que obriga que a cor da cerveja seja proveniente das substâncias corantes do malte da cevada. Agora, ela poderá ser colorida com qualquer tipo de corante (antes, só era permitido o uso do corante caramelo).
Para Felipe Lima, a mudança é prejudicial para o pequeno produtor. “A mudança não visa, por exemplo, dar melhores condições para as pequenas cervejarias se regularizarem. Ela apenas barateia o custo do insumo para a grande produção”, afirma. Segundo o biólogo e cervejeiro, as mudanças “abrem o precedente para a cerveja se tornar cada vez mais artificial, com uma espuma de mentirinha, um sabor de mentirinha, e fazendo mal à saúde”.
Diogo Cavalheiro, cervejeiro popular do Rio de Janeiro, também alerta para a questão da saúde. Ele afirma que, “somado à liberação de agrotóxico”, a utilização de cereais não maltados, como o milho, irá naturalmente “aumentar a carga de transgênicos” presentes na bebida. “Você vai ter mais cereais (presentes na cerveja) em que foram utilizados agrotóxicos em seu plantio”, completa.
Cavalheiro avalia que as mudanças no decreto “podem ser interessantes para o pequeno produtor, porque abrem brecha para a produção cervejas com uma criatividade maior”. Mas, ao mesmo tempo, elas são “excelentes” para o grande produtor, “porque o barateamento do custo vai ser gigantesco”, e “péssimas para o consumidor”.
“Ela é péssima para o consumidor, que é a maior parte da população brasileira, por causa da questão da saúde”, afirma. “O que freava um pouco a quantidade de agrotóxicos dentro das cervejas produzidas aqui, é que a maior parte do malte que é utilizado no Brasil vem de países onde a legislação é mais rígida, por exemplo a Alemanha e a Bélgica. Como a gente não vai mais ser obrigado a utilizar esses produtos, a quantidade de agrotóxico que vai pra bebida vai ser muito maior”, conclui.
Em nota, a Ambev afirmou que o decreto “passa a apoiar ainda mais a criatividade cervejeira e a variedade de ingredientes e sabores, principalmente as microcervejarias, que são também uma das maiores provocadoras da inovação e da diversidade cervejeira. Nós da cervejaria Ambev também acreditamos que os ingredientes trazem características diferentes para cada rótulo. A qualidade sempre foi e continuará sendo o principal foco das nossas receitas”.
Fonte: Meia Hora
Créditos: Meia Hora