Após demissão, Luxemburgo dispara contra direção do Flamengo

Técnico foi mandado embora após nova derrota do clube

imageVanderlei Luxemburgo escolheu o hotel na Barra da Tijuca que o Flamengo se concentra antes dos jogos para dar uma entrevista coletiva sobre sua saída do clube na manhã desta terça-feira. Bastante frustrado e surpreendido com a demissão, na noite desta segunda-feira, feita por telefone, um dia após a derrota para o Avaí, o treinador não poupou críticas à diretoria.

– Há três semanas, quando surgiu uma proposta oficial para eu treinar o São Paulo, o presidente Bandeira de Mello disse que eu era essencial no projeto do Flamengo. Agora, 20 e poucos dias depois, eu não sou mais essencial? Fiquei surpreso porque a derrota faz parte do futebol, mas o mais importante é saber o que você está fazendo. E esse grupo gestor não entende nada de futebol – acusou Vanderlei.

Confira os trechos mais importantes da entrevista:

‘NÃO SABE NADA DE FUTEBOL’

“A diretoria tem pessoas boas, mas a relação profissional é um pouco complicada. O Flamengo trabalha com um grupo gestor. Eu e o Rodrigo Caetano, que é um excelente profissional, dos melhores com quem trabalhei, simplesmente não somos ouvidos. Quem resolve as coisas é um grupo gestor que não sabe absolutamente nada de futebol. Pode ser competente nas coisas deles, mas não sabe nada de futebol. Simplesmente veta. Que experiência eles têm de gestão de futebol?”

QUEREM PESSOAS QUE DIGAM AMÉM

Segundo o treinador, ele foi demitido mais por sua personalidade do que pelos resultados dentro de campo.

“Não tenho dúvidas que a minha personalidade pesou bastante na demissão. Eles querem pessoas alinhadas que digam amém para eles. Querem alguém que não discorde deles. Fui demitido pelo grupo gestor e, pela informação que eu tenho, o único contrário à minha demissão foi o presidente dentro do grupo. Sai como o Jayme (de Almeida), o Ney Franco.

PROJETO DE 20 DIAS

“Ele (o presidente Bandeira de Mello) disse que eu ficaria e era fundamental. Como mudou de 20 dias de ser fundamental e três semanas depois não ser fundamental? O presidente falou que eu era uma peça fundamental para o projeto. Talvez para um projeto de 20 dias, e não até o final do ano.”

CRISES E PRESSÃO

“Quando a situação aperta, pois no futebol você não passa só por mares calmos não, voo de brigadeiro, passa por momentos difíceis no clube. Em todas essas vezes que apertou no Flamengo, as críticas foram extremamente fortes e cai na parte administrativa, cortamos aqui e continuamos. Aconteceu no ano passado quando chegieui, agora acontece de outra maneira.”

BOM É SER CAMPEÃO

Luxemburgo ironizou os elogios que a diretoria do Flamengo recebeu de jornais estrangeiros como o “New York Times” pela gestão financeira do clube.

“Ganhar prêmio é muito bom, mas também é bom ser campeão brasileiro, da Copa do Brasil…”

TEM QUER CRAQUE NO TIME

“Se você tem um craque no time, todo mundo cresce junto. O cara que é mais ou menos fica bom, o que é bom fica ótimo, e o que é otimo fica excepcional”

SEM TÍTULO, MAS LIVRE DA SÉRIE B

“Cheguei ano passado num momento em que Fla estava morrendo afogado. Não queria ter trabalhado ano passado. Vim porque achei importante para o Fla minha chegada. Saímos da confusão. Não me arrependo. O Flamengo não ir para a segunda divisão foi grande título que ganhei, até para os gestores continuarem seus trabalhos. Orgulho foi não deixar o Flamengo cair.”

SEM CULPA EM DEMISSÕES ANTERIORES

“Não sou o culpado. Pega a história do Kleber Leite e Romário, Patricia e Ronaldinho Gaúcho, Marcio Braga e a falta de bola para treinar. Agora nessa gestão acontece o mesmo. A culpa não é minha. E não me arrependo de ter continuado no Flamengo e não ter ido ao Inter (no início do ano) e nem São Paulo (há 20 dias), que foram propostas oficiais.

CRÍTICAS À FALTA DE ESTRUTURA

“Já estava determinado que eu ia sair do Fla. Em Atibaia, Wrobel (Alexandre, vice de futebol), e Fred (Luz, diretor executivo) foram lá incomodados com as minhas entrevistas sobre o CT ser acanhado. E continua acanhado. Eles pinçaram uma frase e não ouviram a entrevista toda. O CT é o melhor do Rio, mas dentro do Brasil está acanhado. E desde então não melhorou nada. Não falei isso para denegrir a imagem dos caras, porque precisa fazer algo. Nada foi feito lá depois que esta nova diretoria assumiu. Está tudo do jeito que a Patricia (Amorim, ex-presidente) deixou.”

MANDAR JOGO FORA DO RIO

“A diretoria acha que mandar jogos em outras praças gera receita. Mas não entende que se montar um time forte, usar o fator casa e disputar títulos a torcida vem junto, lota todos os jogos. Quando perguntaram sobre jogar fora, eu disse que prefiro jogar na minha casa, mas o Flamengo tem proposta para jogar de quatro a seis jogos fora, mas estou junto com eles. Só que o conselho gestor ficou incomodado. Eles não querem. Querem que você seja subserviente a eles.”

CONTRATO ATÉ 2016

“Quando surgiu a proposta do São Paulo quiseram mudar a minha multa para 50% até o final do ano. Eu só queria continuar até 2016. O tempo todo queria continuar e contribuir para melhorar o Flamengo. Se estou sendo solicitado para ir para outros clubes, gostaria que reconhecessem o meu trabalho que está sendo feito aqui. Se em 2016 será o ano do Flamengo, por que não renovamos até 2016? Fico no Flamengo até lá. Não queria aumento de salário, só queria participar dessa gestão que vai ser muito boa para o futebol, pois esse ano vai ser sofrível ainda. O projeto era continuar no Flamengo.”

Em sua quarta passagem pelo clube como treinador, Luxemburgo assumiu o comando do time na 12ª rodada do Brasileiro do ano passado. Na ocasião, o time estava na zona de rebaixamento, e a missão de Vanderlei era evitar o rebaixamento para a segunda divisão. Ele teve sucesso. O time reagiu no campeonato e terminou na 10ª colocação.

O Globo