Para realizar um sonho e auxiliar a filha, que é autista, a se preparar para o vestibular, a dona de cada Elizandra Sila de Moura, de 47 anos, moradora de Campo Grande, decidiu após “20 anos sem pegar em um caderno”, voltar a estudar.
Em casa, durante todo ano de 2020 e mesmo diante da pandemia de Covid-19, Elizandra e a filha, Eloisa Elena Silva de Moura Lima, 18 anos, dedicaram todas às tardes estudar reforçando os “pontos fracos”, fazendo simulados on-line e trocando ideias sobre redação.
Elas fizeram as provas em janeiro deste ano no vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O resultado saiu na madrugada da última sexta-feira (5). Eloisa, fez até um vídeo, das duas consultando o site da universidade, às 3h. O resultado? A mãe ficou em quarto lugar para o curso de Geografia e a filha em segundo para Farmácia.
No dia seguinte a divulgação do resultado, elas fizeram a pré-matrícula e agora se preparam para o inicio do ano letivo, no dia 11 de março.
“Eu tive oportunidades de prestar vestibular em outros lugares, mas sempre quis a UFMS porque moro perto. Peguei o edital e foquei no que mais tinha dificuldade. Minha mãe, que é uma mulher batalhadora e que sempre correu atrás dos seus objetivos, queria retomar os estudos. Nós então nos dedicamos e agora vamos entrar juntas na faculdade”, afirmou ao G1 a estudante Eloisa Elena Silva de Moura Lima, 18 anos.
Segundo Eloisa, o sonho de fazer faculdade parecia distante no ensino médio. “Eu sempre ouvi da boca das pessoas e criei pensamentos errados na minha cabeça. Diziam que autista não entra no mercado de trabalho. Na época da escola, este era o meu estereótipo. Estava realmente desgastada nessa época, só que ainda assim tinham pessoas que acreditavam em mim, como minha família e professores”, relembrou.
Em 2019, quando prestaria vestibular pela primeira vez, Eloisa esqueceu o prazo de pagamento e perdeu a chance de fazer a prova. “No outro ano, criei a rotina de estudos em casa com a minha mãe. Há 3 dias, quando saiu o resultado por volta das 3 horas da manhã, eu a acordei e ela achou que fosse brincadeira. Nunca tive ninguém para corrigir a minha redação e mesmo assim tirei 950. É uma alegria enorme”, disse.
Conforme Eloisa, o pai trabalha como caminhoneiro e o irmão mais velho, de 25 anos, já concluiu os estudos e trabalha. “Minha mãe sempre foi a minha maior inspiração. Ela largou os estudos para nos cuidar e por isso a incentivei tanto. Quando saiu o resultado, falei pra ela: eu só te ajudei, isso tudo é o seu esforço. Considero tudo isso uma vitória e, quando falei da minha história, veio muitas mulheres e pessoas me pedir ajuda na redação. Vou fazer isso com o maior prazer, porque acho que educação é algo que todos devem ter acesso”, argumentou.
A mãe, agora estudante de geografia, fala que a filha “foi uma peça muito importante” neste período de estudos. “Parei o ensino médio com 16 anos, então ela se dedicou em mostrar os pontos chaves, em como fazer o melhor em uma boa redação. Tinha muito tempo longe da escola e, pra falar a verdade, não tinha nenhuma esperança, mesmo tendo o sonho de voltar a estudar”, ressaltou.
Na época da adolescência, Elizandra relembra que precisou trabalhar em tempo integral e chegou a transferir a escola para o período noturno. “Minha família não chegava a ser carente, só que era a renda só do meu pai e foi necessário trabalhar cedo. Aí eu casei com 21 anos e, com 22, já estava grávida e meu primeiro filho teve problemas de saúde no pulmão. Por muito tempo, fiquei levando ele em hospitais”, contou.
Já no caso da filha caçula, Elizandra fala que percebeu o quanto ela era saudável, porém, tinha algo na questão comportamental. “Foi bem difícil também, porque passamos por inúmeros médicos até ter o diagnóstico. Meu marido é um homem maravilhoso, excelente, só que a profissão dele sempre me fez ficar muito tempo sozinha. E agora estou realizando o meu sonho. E tudo continua sendo em prol da minha família, por eles e para eles”, finalizou.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: G1 GLOBO