Depois de 17 dias internado com covid-19, a saída de Elyton Prado de Souza, de 41 anos, do hospital, foi marcada pela notícia de que ele havia perdido os pais para a doença em um intervalo de pouco menos de uma semana. Ele descreve o momento como um pesadelo. Internado no Instituto de Traumatologia e Ortopedia, em Rio Branco, desde o dia 28 de fevereiro, Souza recebeu alta na terça-feira (16). Foi quando soube que a mãe, Maria das Graças Prado de Souza, de 71 anos, morreu no último dia 6, e o pai, Edmilton Daniel de Souza, de 81 anos, também não havia resistido à doença e faleceu no dia 11.
“O sentimento, na hora da alta, foi uma alegria, porque Deus tinha me dado mais uma oportunidade. Só que quando cheguei lá fora, me deram a notícia que meus pais tinham morrido. Sempre falava que se precisasse dar minha vida por eles eu daria. Não tive condições de velar meus pais, foi a coisa mais difícil para mim, e está sendo até agora porque parece que vivo um pesadelo diário sem entender porque foram os dois juntos. Ao mesmo tempo, sei que Deus sabe de todas as coisas”, chorou ao relembrar o momento.
O pai estava em estado grave na UTI do Into-AC. Edmilton não chegou a saber da morte da esposa. A mãe foi a primeira a testar positivo para a doença e morreu após sete dias de internação à espera de um leito de UTI.
Souza não chegou a ir para a UTI, mas respirava com a ajuda de aparelhos e fazia ventilação não invasiva. Quando deram entrada no hospital ele estava com 55% do pulmão comprometido e o pai com 40%. Elyton lembra que foi um momento muito duro, pois da ala onde estava podia ver o sofrimento do pai. “Isso me matava porque eu tinha que me acalmar, porque a minha saturação estava dando 80%”, relatou.
Para Elyton a dor da perda dos pais é indescritível. Emocionado, ele lembrou como era sua convivência com eles. “Não tenho palavras para dizer a dor que sinto hoje. Meu primeiro café da manhã era com eles, vivia intensamente com meus pais. Meus irmãos disseram que depois da dor de perder nossos pais o que era mais difícil era ter que me passar a notícia, porque sabiam o elo que tinha com eles. Então, está sendo muito duro”, contou.
Ele agora se recupera da doença, mas a maior luta é lidar com a partida dos pais. “A lição que fica é prosseguir, cuidar da minha família, dos meus filhos, ser uma pessoa melhor a cada dia porque, nestes 17 dias no Into, eu falava para mim mesmo que se eu cuidava da minha família isso ia se multiplicar, porque a base de qualquer ser humano é a familiar. O legado que meus pais deixaram vou passar para meus filhos, que precisam de mim, minha esposa, então, preciso me recuperar”, pontuou.
Outros membros da família também foram infectados
Ao todo, quatro pessoas da família de Elyton foram infectadas pela covid-19. Ele, os pais e uma sobrinha, Raniella de Souza Anastácio, de 28 anos. Raniela ficou internada 13 dias, mas já recebeu alta médica. O marido dela também foi infectado, mas não precisou ser internado.
Irmã de Elyton e mãe de Raniella, a professora Elisângela Anastácio, de 47 anos, diz que tentou de tudo para salvar a vida de sua mãe. A última tentativa, poucos antes da morte de dona Maria das Graças, foi a compra de um medicamento com custo de R$ 4 mil. Após o uso, ela recuperou a saturação, mas não resistiu. Elisângela diz que tenta juntar forças para superar a morte dos pais, mas que comemora a alta médica do irmão.
“Nossa mãe era o alicerce da família, era aquela que sempre foi protetora, que nunca passava dois dias sem ligar para o filho. Os filhos almoçavam na casa dela, tomavam café com ela. No bairro Aeroporto Velho, onde morava, era muito querida, houve muitas homenagens para ela. Era uma pessoa muito boa. Se você perguntar quem era dona Maria e seu Edmilton no bairro, todo mundo diz quem eram, moravam há 50 anos lá. Os vizinhos e os comerciantes estenderam um pano preto em luto”, lamentou.
Fonte: POLÊMICA PARAÍBA
Créditos: UOL