No sábado (4), a ex-BBB Josy Oliveira morreu após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) durante uma cirurgia para tratar de um aneurisma. A cantora mineira nascida em Juiz de Fora, MG, estava em coma induzido no Hospital Santa Catarina, em São Paulo.
O neurorradiologista intervencionista e neurologista Fabricio Buchdid Cardoso explicou ao G1 o que é um aneurisma, como identificá-lo, o tratamento e o AVC. Fabricio trabalha nos Hospitais de Clínicas Unicamp e no Centro Médico de Campinas, além do Instituto Neuron Campinas.
Segundo Fabricio, existem dois tipos de AVC:
Hemorrágico: onde há o extravasamento do sangue na artéria que nutre o cérebro
Isquêmico: onde há a interrupção do fluxo de sangue na artéria que nutre o cérebro
1 – O que é um aneurisma cerebral?
Os vasos cerebrais são constituídos de artérias e veias, assim como todos os órgãos do corpo. As artérias são constituídas por uma quantidade de músculos na parede maior que nas veias, então elas são mais resistentes. O aneurisma cerebral é uma dilatação na parede da artéria por uma determinada fragilidade, uma descontinuidade muscular em uma determinada parte da parede e que, ao longo do tempo, ocasiona uma dilatação. Essa região mais frágil é submetida à pressão sanguínea que vai abaulando, aumentando de tamanho, e fica cada vez mais frágil e irregular até o momento em que estoura.
2 – Há uma idade em que seja mais comum, ou predisposição?
Não tem predileção por idade. É mais comum em adulto jovem, mas pode acometer todas as faixas etárias, incluindo crianças. Nas crianças, uma das principais causas são as pós-traumáticas, após acidentes em que há traumatismo craniano.
É importante citar a genética no caso de predisposição, ou seja, quando uma pessoa da família é diagnosticado com aneurisma, pais, tios, primos, irmãos e filhos devem passar por exames.
Existem fatores de risco, como tabagismo, por conta da fragilidade da parede vascular ocasionada pelo uso do cigarro, e doenças renais como rins policísticos, o que pode causar a formação de aneurismas cerebrais ou em outras partes do corpo.
3 – Como pode ser detectado?
Muitas pessoas ao longo da vida podem acabar tendo um aneurisma cerebral que passa desapercebido, que não é roto. Contudo, o aneurisma pode ser detectado por exames seja na fase em que haja a ruptura como quando ainda não há sintomas.
Sem sintomas: o paciente pode descobrir o aneurisma durante exames de rotina;
Com sintomas: o principal sintoma é uma cefaleia, dor de cabeça súbita, intensa e explosiva e, segundo o neurologista Amaury Bara, também com paralisia de algum lado do corpo ou até coma. Fabricio completa a explicação com “perda de força geralmente em um hemicorpo, alteração da fala, alteração visual, sonolência até coma, dentre outros”;
Existem graus de sangramento diferentes, como a escala de Fischer Modificado, que considera níveis de 0 a 4. Quanto maior a escala, mais grave e com riscos de piora.
O aneurisma pode ser detectado por exames de imagens que contrastam os vasos cerebrais, como a angioressonância (que pinta as artérias cerebrais), a angiotomografia (que injeta um contraste que passa por dentro das artérias) e a angiografia cerebral (uma espécie de cateterismo cerebral pela virilha ou braço que chega à artéria do pescoço –é injetado um contraste direto na vasculatura arterial para permitir a detecção via exame de imagem).
4 – Como é o tratamento?
Existem critérios de tratamento conforme o quadro do paciente: o cirúrgico se dá com uma “clipagem” do aneurisma, ou via endovascular, uma embolização por dentro da artéria. Para definir o melhor tratamento, é preciso uma série de exames que definirão se o aneurisma é grande ou pequeno. Para aneurismas menores de 5 milímetros há uma tendência de monitorar anualmente; mas, se for irregular, em bifurcações, tanto o tratamento endovascular ou cirurgia aberta devem considerados.
Cirurgia aberta do crânio: há uma exposição do tecido cerebral até a chegada do vaso sanguíneo no qual há o aneurisma. Ele então recebe um clipe metálico para excluir o aneurisma da circulação, protegendo os vasos sanguíneos ao redor e evitar oclusões e complicações.
Endovascular: um cateter é colocado na artéria da virilha (femoral) ou na do braço (radial) e segue o trajeto até o pescoço. Então, realiza um cateterismo das artérias até chegar ao aneurisma. Na região, são usados dispositivos metálicos, muitas vezes do diâmetro de fios de pesca, para entrar no aneurisma e exclui-lo da circulação, muitas vezes utilizando para este fim, molas de platina; ou outras técnicas disponíveis no método endovascular.
Foi esse o procedimento adotado para tratar Josy Oliveira, segundo a irmã dela declarou ao G1. Fabricio disse que houve uma complicação: “São colocados materiais metálicos dentro de uma artéria frágil e isso pode ter gerado uma complicação. Existem estratégias para conter o sangramento, mas nem sempre é possível”.
Técnicas endovasculares têm baixas taxas de complicação, mas, como todo procedimento, pode ocorrer problemas, como no caso de Josy. Estas podem ser: ruptura aneurismática no momento da manipulação, perfuração vascular, que pode causar um AVC hemorrágico ou oclusão arterial, a qual pode ocasionar um AVC isquêmico.
5 – O AVC durante o tratamento de correção de um aneurisma cerebral
Durante o tratamento corretivo do aneurisma cerebral, complicações podem ocorrer e a ruptura aneurismática com AVC hemorrágico secundário, pode ser uma complicação temerária. A hemorragia intracerebral faz expandir a pressão intracraniana. A caixa craniana, formada por ossos, dificulta o inchaço do cérebro por ser um ambiente contido.
Associado a isso, uma das complicações é a hidrocefalia: dentro do cérebro existem espaços em que há produção do liquido cefalorraquidiano, produzido pelo próprio cérebro e que fica contido em alguns bolsões dentro do cérebro, chamado ventrículos. No caso da hemorragia intracraniana, isso dificulta que esse líquido seja reabsorvido, ou seja, o líquido é mais produzido do que reabsorvido.
Isso faz com que o líquido se acumule dentro do cérebro e o ventrículo aumenta, o que se chama hidrocefalia. Para tentar controlar a complicação, é feita a sedação para que o paciente fique com o menor metabolismo cerebral possível, intubado, em coma induzido. Pode ser necessária a aplicação de medicamentos na veia para diminuir o inchaço e a colocação de um dreno para que esse líquido em excesso diminua a pressão.
Fonte: g1
Créditos: Polêmica paraíba