Nos últimos tempos, uma espécie de competição obscura e não oficial se infiltrou nas conversas entre psiquiatras e especialistas em medicina do sono no Brasil: identificar quem atendeu o paciente que consumiu uma dose maior de comprimidos de Zolpidem em um único dia. Este medicamento, utilizado para combater a insônia e presente no mercado há mais de três décadas, ganhou destaque na última década devido a uma série de fatores que serão explorados ao longo desta reportagem, incluindo a facilidade na prescrição médica e um apelo quase irresistível para um problema generalizado, a dificuldade em pegar no sono.
Alguns profissionais ouvidos pela BBC News Brasil revelam que é cada vez mais comum encontrar pacientes em seus consultórios que consumiam 40 ou até 50 comprimidos do medicamento de uma só vez. O psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Programa de Transtornos de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-FMUSP), relata casos extremos, como internações de pessoas que consumiram até 300 comprimidos de Zolpidem em um único dia. Ele destaca que essa substância se transformou em uma das drogas de abuso no Brasil, chegando a comparar a situação no país com o cenário de abuso de opioides nos Estados Unidos.
Mudar os móveis de lugar, mandar mensagens de texto sem pé nem cabeça, fazer compras absurdas pela Internet, decidir cozinhar uma refeição completa no meio da madrugada e até mesmo ver um tigre atravessando a rua são só algumas das “histórias de Zolpidem” relatadas por quem toma o medicamento. Sobre os efeitos colaterais do zolpidem mais comuns, podemos destacar a sonolência, dor abdominal, boca seca, dor de cabeça, diarreia, gosto de metal na boca, cansaço e vômito.
As vendas do medicamento cresceram no Brasil, principalmente durante a pandemia de Covid-19 — momento no qual os quadros de ansiedade e depressão, que apresentam a insônia como um dos sintomas, também dispararam.
Em 2018, a Anvisa (Agência Nacional da Vigilância Sanitária) estima que tenham sido vendidas 13,1 milhões de caixas de Zolpidem no Brasil. Já em 2022, a estimativa disparou para 21,9 milhões de caixas, um aumento de 67% nas vendas.
Fonte: Polêmica Paraíba com informações de BBC
Créditos: Polêmica Paraíba