Um estudante de 16 anos mostra as marcas roxas pelo corpo e rosto. É o resultado da sessão de espancamento que ele diz ter sido submetido por sete seguranças da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), na estação Corinthians-Itaquera, zona leste da capital, na última sexta-feira (25).
Eram 18h30 quando ele e um colega tentaram pular a catraca e foram impedidos pelos funcionários. Os dois tinham só um bilhete e pediram ajuda a outros passageiros para inteirar R$ 2 e comprar o segundo.
Com as passagens, a dupla tentou embarcar, mas, de novo, foi expulsa pelos vigilantes, sob xingamentos e empurrões, segundo a família do adolescente. Irritado, ele tentou jogar uma pedra na direção dos funcionários, mas não acertou.
O adolescente foi pego e levado a um vestiário, onde os seguranças exigiram que tirasse a roupa.
No chão, ele conta ter apanhado com cassetete, tapas, socos e chutes. A cada agressão, sua cabeça batia num cano de ferro. A boca sangrava, cortada pelo aparelho dentário.
A sessão de tortura em que sete funcionários se revezaram durou 40 minutos.
Nas fotos é possível ver que o estudante teve ferimentos no rosto, nas costas, braços, peito e pescoço.
“Ele errou, mas poderiam ter chamado a polícia. Agora, pegar e bater? Não é justo. Ele nem gosta de falar sobre, começa a contar e chora”, diz a irmã do adolescente, Jahya Rosa Silva, 21.
O jovem só conseguiu falar com a mãe mais de uma hora depois, às 19h40. Ela foi até a estação, mas conta que o chefe da segurança disse que não poderia fazer nada e riu.
A família mora no bairro periférico Itaim Paulista, no extremo zona leste, e vive com dois salários mínimos. A mãe trabalha como diarista e a irmã faz bicos. O adolescente estuda de manhã e à tarde tenta complementar a renda da casa vendendo chocolate ou carregador de celular no trem.
No dia da agressão, ele tinha umas poucas mercadorias, que foram apreendidas.
Na 50ª DP, a ocorrência foi registrada como lesão corporal e o adolescente foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para realizar exame de corpo de delito.
Ele está sendo acompanhado por membros de organizações como a Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio e a Amparar, que pedirão auxílio à Defensoria Pública.
A CPTM é uma empresa comandada pelo governo do estado, sob gestão de João Doria (PSDB).
Em nota, a companhia informou que está levantando as imagens do circuito interno e vai abrir investigação para apurar os fatos. Caso seja comprovada a agressão, ainda segundo o texto, os seguranças envolvidos podem ser afastados ou demitidos.
“A CPTM não admite e não compactua com casos de violência”, afirmou a empresa.
Em maio deste ano, três seguranças foram afastados do serviço acusados de agredir um passageiro e vendedor ambulante, em uma plataforma da estação de trem da Luz.
Em agosto, um grupo de ambulantes tentou entrar na estação de Botujuru, extensão da Linha 7-Rubi, em Campo Limpo Paulista (Grande SP) sem pagar a tarifa. Mas, ao serem surpreendidos por uma dupla de vigilantes da estação, os vendedores agrediram os dois com paus e pedras. Um dos seguranças, de 51 anos, morreu.
Levantamento feito pelo Agora, do grupo Folha, mostrou que os registros de casos de agressão entre ambulantes e seguranças da CPTM cresceram neste ano com a política de endurecimento das ações de combate ao comércio ilegal.
O número de apreensões realizadas nos trens e estações da companhia no primeiro bimestre de 2019 cresceu. Foram 13.073 retenções realizadas em janeiro e fevereiro por agentes da companhia. Em igual período de 2018, foram 8.295. Um aumento de 57,6%.
No início da gestão Doria, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos chegou a anunciar que iria alocar policiais militares em horário de folga nas estações para combater os ambulantes. A iniciativa, no entanto, não saiu do papel.
Fonte: Folha
Créditos: Folha