Levantamento

A radiografia do genocídio bolsonarista - Por Weiller Diniz

Jair Bolsonaro e o general que vadiou pelo Ministério da Saúde irão enfrentar muitos processos em decorrência do morticínio da Covid-19 dentro e fora do Brasil. No Tribunal Penal Internacional algo já começa a se mexer diante genocídio perpetrado. O desdém sepulcral de Bolsonaro e de alguns mitômanos, sabotando a ciência, está fartamente documentado e gravado. O capitão convocou e participou de aglomerações, estimulou a invasão de hospitais, prescreveu ilegalmente medicamentos inúteis, cancelou as compras do kit intubação, ofendeu brasileiros, deixou faltar oxigênio, desativou leitos de UTI, conspirou contra o isolamento e espalhou terror sobre o uso de máscaras. Reprovado nas pesquisas tenta, tardiamente, se reposicionar, mas sempre distorcendo a realidade e reiterando a mentira como método. O cinismo é de matar.

Na questão vital, vacinas, o capitão chafurdou no obscurantismo macabro, rejeitando doses de imunizantes e retardando a imunização. O desprezo às ofertas de laboratórios potencializou o morticínio. A recusa de 70 milhões de doses da Pfeizer em agosto de 2020 e os deboches preconceituosos contra a Coronavac, que hoje responde por 90% das doses aplicadas no Brasil, são públicos. “A pressa pela vacina não se justifica”, “virar jacaré”, marcaram o descaso com a pandemia. Contra a vacina chinesa foram, no mínimo 10 sabotagens: “não será comprada”, “mandei cancelar”, “procura outro para pagar”. O resultado da carnificina: o Brasil responde por quase 30% das mortes no planeta e caminha para um apartheid sanitário.

O negacionismo do mascate da morte teve maior aderência em seus redutos eleitorais mais robustos. Os estados e municípios com picos em mortes e casos são os mesmos onde Bolsonaro dominou a eleição. Uma radiografia da hecatombe: Bolsonaro venceu com folga nos 10 estados com maior número de mortes/100 mil habitantes. O capitão foi vitorioso em 9 de 10 estados com maior número de casos. Partidos de oposição ou não bolsonaristas venceram em 9 dos 10 estados com menor número de mortes. Nas 10 unidades federativas com menor percentual de infectados, Bolsonaro ganhou em 3 deles. Em números absolutos, a contaminação nos 16 estados vencidos por Bolsonaro representa 72% dos casos nacionais e o percentual de mortes 74%. Nos municípios com maior incidência de mortes e casos, Bolsonaro triunfou em mais de 80%. Entre as 50 cidades com aumento vertiginoso de mortes na 2 onda, Bolsonaro superou o adversário em 49 delas.

Entre os 10 estados que apresentam o maior número de infecções/100 mil habitantes, Bolsonaro venceu em 9. Entre os 5 estados campeões de casos, 4 registram as maiores votações de Bolsonaro no segundo turno da eleição, com índices superiores a 70% dos votos, muito acima dos 55% do resultado nacional. Os 5 líderes de casos da Covid são: Roraima, Distrito Federal, Amapá, Santa Catarina e Rondônia. Bolsonaro ganhou em todos, com larga vantagem em 4 deles. Os desempenhos de Bolsonaro em estados com mais infecções foram: Roraima (71,55% dos votos), Distrito Federal (69,99%) Santa Catarina (75,92%), Rondônia (72,18%). No Amapá, terceiro em número de casos da Covid-19, o capitão venceu com 50,2%.

Entre os 5 estados com maiores incidências de casos estão os 3 governadores eleitos pelo PSL na onda extremista e cavalariços do obscurantismo: comandante Moisés (SC), Antônio Denarium (RR) e o Coronel Marcos Rocha (RO). Santa Catarina é o quarto na quantidade de contágios. Lá Bolsonaro recebeu o segundo melhor resultado, com 75,92% dos votos válidos. Em Rondônia, quinta colocação em casos, Bolsonaro obteve seu terceiro melhor resultado entre os estados brasileiros. No estado campeão por infectados, Roraima, o capitão obteve a quarta melhor performance eleitoral do país. No Distrito Federal, segunda unidade da federação em infecções, Bolsonaro conquistou seu 5 melhor desempenho. O recorde eleitoral de Bolsonaro foi no Acre, com 77,21%. É 10 estado com maior número de casos. Retribuiu os votos com a morte.

Bolsonaro perdeu nos estados onde estão as menores quantidades de casos/100 mil. Os menores números de infectados estão em 8 estados da região Nordeste, em 3 estados do Sudeste, onde Bolsonaro venceu, e no Pará. Na região Nordeste e no Pará, Jair Bolsonaro foi derrotado. A rejeição desse eleitorado na eleição explica a maior resistência a apologia da ignorância. Fernando Haddad só venceu na região Nordeste, com 69,7%. O Maranhão tem a menor taxa de casos/100 mil. Lá Fernando Haddad conquistou 73,26% dos votos. O segundo estado com menor número de contaminação é Pernambuco, onde o petista obteve 66,5%. A quarta menor taxa de contágios é Alagoas. Haddad venceu por lá com 59,92% dos votos. Roraima, o campeão de casos proporcionalmente, tem 4 vezes mais infectados que o Maranhão, menor estado em contágios.

Os nove estados do Nordeste estão entres as 12 unidades da federação com menores taxas de infecção. Na Bahia, Fernando Haddad teve a preferência de 72,69% dos eleitores; no Ceará 71,1%; no Rio Grande do Norte 63,41%, na Paraíba 64,98% e, no Piauí 77,5% da preferência eleitoral. No Pará, atualmente a quinta menor taxa de casos/100 mil, o candidato do PT venceu por 54,81% contra 45,19% do capitão. Nestes estados estão prevalecendo as orientações de isolamento dos governadores locais, ainda que sabotadas rotineiramente por Bolsonaro com declarações e até recursos jurídicos inúteis ao STF. Bolsonaro teria dito que “lockdown” no NE significaria sua derrota eleitoral.

Analisados através de um segundo critério, a quantidade de mortes/100 mil habitantes, os dados eleitorais registram que a maior receptividade ao negacionismo letal de Bolsonaro se dá em suas maiores bases eleitorais. Morre-se mais onde Bolsonaro venceu com folga e a letalidade é significativamente menor onde ele foi derrotado. Bolsonaro perdeu a eleição em 9 dos 10 estados com as menores taxas de mortalidade, a ampla maioria, 7 deles, na região Nordeste, além do Pará e Tocantins. Os estados onde se morre menos de Covid-19/100 mil habitantes são na ordem: Maranhão, Bahia, Alagoas, Minas Gerais, Pará, Tocantins, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba. Bolsonaro triunfou em Minas Gerais. O estado com maior número de mortes/100 mil (Amazonas) tem 3, 5 mais óbitos que o menor, o Maranhão.

Entre os 10 estados com maior relação de óbitos/100 mil habitantes, Bolsonaro venceu em todos. Eis a ordem das maiores mortalidades: Amazonas, Rondônia, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Distrito Federal, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo. Os aproveitamentos eleitorais de Bolsonaro foram maiores em: Rondônia (72,18% dos votos), segundo no ranking de mortes; Roraima (71,55%) terceiro em óbitos; Distrito Federal (69,99%), sexto colocado; São Paulo (67,97%) décima posição; Rio de Janeiro (67,95%) quarto em vidas perdidas; Mato Grosso (66,42%) quinto posto; Goiás (65,62%) na nona posição e Rio Grande do Sul (63,24%), oitavo em falecimentos.

Em números absolutos de casos e mortes por Covid-19, o cruzamento dos votos de 2018 com os dados oficiais do Ministério da Saúde (atualizados em 26/03/2021) confirmam que a estupidez de Bolsonaro faz mal à saúde e mata muito mais. Nos 16 estados onde o capitão sagrou-se vitorioso o número de casos é de 8,9 milhões (72% do total de 12,3 mil infectados). Isso representa duas vezes e meia os 3,3 milhões de contágios nos 11 estados vencidos por seu oponente. Em número de mortes, as unidades federativas em que Bolsonaro venceu respondem por 226 mil óbitos (74% do total de 303,8 mil mortes). O número de mortes nos 11 estados onde Bolsonaro perdeu é quase 3 vezes menor. Nos estados onde negacionismo tem baixa aderência na sociedade a propagação do vírus é muito menor.

Os estados de Santa Catarina, Goiás e Maranhão têm populações quase iguais, em torno de 7,1 mil de habitantes. Bolsonaro venceu em SC e em GO. Perdeu no MA. No Maranhão o número de casos é de 238 mil. Isso representa menos 550 mil ocorrências do que Santa Catarina e menos 250 mil infecções comparado a Goiás. O Maranhão apresenta, até aqui, 5,8 mil mortes. 5 mil óbitos a menos que Goiás e menos 4 mil mortes do que Santa Catarina. Amazonas, Espírito Santo e Paraíba têm populações muito próximas, perto de 4 milhões. Bolsonaro venceu no Amazonas e no Espírito, perdeu na Paraíba. O número de infectados da Paraíba é menor em 100 mil casos em relação ao Espírito Santo e menos de 200 mil infecções na comparação com o Amazonas. Na quantidade de óbitos, a Paraíba tem menos 6 mil mortes (a metade) que o Amazonas e 2 mil a menos que o Espírito Santo.

O Distrito Federal tem uma população muito próxima a de Alagoas e Piauí. Dos 3 estados Bolsonaro venceu na Capital Federal. O número de casos no DF, 335 mil, é mais que o dobro de Alagoas e 150 mil infectados a mais que o Piauí. No comparativo de mortes, o DF apresentou 2,2 mil mortes a mais que Alagoas e Piauí. O mesmo cotejo se aplica ao Rio Grande do Norte e Mato Grosso. Ambos estados possuem perto de 3,5 milhões de habitantes. Bolsonaro venceu no MT e perdeu no RN. O estado nordestino apresenta 3 mil mortes a menos e menos 100 mil infecções do que Mato Grosso.

No corte entre as cidades brasileiras, tanto em incidência de casos quanto em mortes, prevalece a lógica de que redutos eleitorais bolsonaristas apresentam maior letalidade e elevado número de contágios, tanto em números absolutos quanto em casos e mortes por 100 mil habitantes. Os maiores colégios eleitorais do capitão em 2018 são mais permeáveis às suas pregações mortíferas. Entre as 30 cidades com maior número de casos, Fernando Haddad foi superior em apenas 5 delas (Salvador, Fortaleza, Aracajú, Recife e Teresina). Foi suplantado por Bolsonaro nas outras 25 cidades. Em 21 desses municípios Bolsonaro obteve mais de 60% dos votos e, em 8 cidades, os percentuais passaram dos 70% dos votos. No ranking relativo às mortes, Haddad venceu em apenas 6 cidades (as 5 capitais acima e São Luís). Bolsonaro o suplantou nas outras 24 cidades. Bolsonaro venceu em 80% das cidades com maiores incidências de mortes e infectados.

Entre as grandes cidades com as maiores incidências de casos da Covid-19, a vitória do capitão se deu com percentuais muito superiores aos resultados finais da eleição nacional (55% dos votos válidos). Ele venceu em 21 das capitais, 16 delas estão no topo da contaminação. Os maiores desempenhos foram em Boa Vista (78,61%), Curitiba (76,54%), Goiânia (74,20%) e Campo Grande (71,27%), Cuiabá (69,94%) e Porto Velho (68,94%). Além das capitais, grandes cidades que hoje sucumbem com salto de mortes e infectados, descarregaram votos em Bolsonaro: Joinville (83,18%), Londrina (80,42%), São José do Rio Preto (78,26%), São José dos Campos (76,21%), Aparecida de Goiânia (67,01%), Vila Velha (68,18%) e Uberlândia (63,03%). Na incidência de mortes destaques para a performance do capitão em Ribeirão Preto (72,27%), São Gonçalo (67,35%), Santo André (66,84%), Guarulhos (66,13%) e Osasco (63,14%).

Na segunda onda da Covid-19 houve uma explosão de óbitos em 50 grandes municípios, listados pelo jornal “Folha de S. Paulo” em março. Cruzando os mesmos municípios onde a pandemia na 2 onda ceifou mais vidas e o pleito 2018, constata-se a mesma equivalência. O rastro da morte está onde Jair Bolsonaro venceu e onde há uma conexão maior entre o eleitorado e a retórica primitiva do capitão. Nas 50 cidades, onde o índice de óbitos subiu mais de 80% em relação ao ano passado, Bolsonaro venceu em 49 delas. Seu adversário só foi vitorioso em Petrolina (PE), com 68,03% dos votos. Nas demais o êxito de Bolsonaro se deu com votações superlativas.

Nas 50 cidades listadas pela “Folha de S. Paulo”, em 43 municípios Bolsonaro conquistou mais de 60% dos votos. Em 23 do total, o desempenho superou os 70% dos votos. Em Jaú Bolsonaro obteve 82,48% dos votos, seguido por Criciúma (81,90%) Londrina (80,42%), Ariquemes (80,81%), Marília (80%), Teresópolis (78,99%), Guaratinguetá (78,76%), Apucarana (77,60%), Ji-Paraná (77,39%), Cabo Frio (76,07%) Caxias do Sul (75,07%), Ourinhos (74,67%), Assis (74,43%), Resende (74,28%), Petrópolis (74,20%) e Varginha (73,24%). Em Araraquara, onde Bolsonaro obteve 63,57% em 2018, o PT venceu a prefeitura em 2020 e implementou um rigoroso lockdown que reduziu a transmissão em 57% e as mortes em 35%. A hiperbolsonarista São José do Rio Preto e outros municípios também adotaram restrições recentemente.

Um estudo da Universidade de Cambridge, em 2020, concluiu, através de monitoramento de celulares, que, em cidades onde Bolsonaro venceu, a adesão ao isolamento caiu entre 10 a 20% após falas contra o distanciamento. Obviamente o eleitor, traído em sua boa-fé, não é responsável pelas irresponsabilidades fúnebres do capitão. Até porque os 57,7 milhões de votos dados a Jair Bolsonaro em 2018 representam apenas 39,3% dos 145 milhões de eleitores brasileiros. O eleitor, mais uma vez, foi manipulado, ludibriado e frustrado. A trajetória infecta do capitão recende a morte, a morte cultuada no armamentismo, na idolatria a tiranos sanguinários, às milícias e o extermínio de opositores. A patogenia resume seu ideário que multiplicou por 10 a psicopatia original: “Só vai mudar… matando uns 30 mil”. A morte é sua meta, o ódio o método. O bolsonarismo, além de deformar o caráter, também mata.

Fonte: Os Divergentes
Créditos: Os Divergentes