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A morte de João Pessoa - Por Ítalo Rocha Leitão

Quando o barulho dos tiros ecoou pelas ruas do centro do Recife, todo mundo saiu correndo. Ninguém seria capaz de imaginar que aqueles estampidos marcariam para sempre a história da República Brasileira. Era uma tarde tranquila do dia 26 de julho de 1930, uma sexta-feira. Na elegante confeitaria Glória, na Rua Nova, tinha acabado de tombar sem vida o presidente da Paraíba, João Pessoa, atingido por 3 balaços disparados pelo seu inimigo figadal e conterrâneo, o advogado João Dantas.

Quando o barulho dos tiros ecoou pelas ruas do centro do Recife, todo mundo saiu correndo. Ninguém seria capaz de imaginar que aqueles estampidos marcariam para sempre a história da República Brasileira. Era uma tarde tranquila do dia 26 de julho de 1930, uma sexta-feira. Na elegante confeitaria Glória, na Rua Nova, tinha acabado de tombar sem vida o presidente da Paraíba, João Pessoa, atingido por 3 balaços disparados pelo seu inimigo figadal e conterrâneo, o advogado João Dantas.

Naquele que seria seu último dia de vida, João Pessoa acordara cedo mais do que de costume. Precisava ir ao Recife para tratar de questões políticas sobre a guerra que seu Governo travava com os revoltosos do município de Princesa, uma insurreição encabeçada pelos coronéis do interior da Paraíba que não se conformavam com o aumento de impostos da reforma econômica implantada pelo seu governo.

Às 7 da manhã, já estava sentado no banco traseiro do Buick preto saindo do Palácio do Governo da Paraíba. A primeira parada no Recife foi no Hospital Centenário, que hoje é o Hospital dos Servidores do Estado, na Avenida Rosa e Silva. Visitou um dos pacientes, o juiz Cunha Melo, um amigo de longas datas. João Pessoa expôs uma pendenga jurídica, a liberação de material bélico que estava no Porto do Recife e serviria para o Governo da Paraíba combater os revoltosos de Princesa.

Depois, o chefe político paraibano, que havia disputado como vice de Getúlio Vargas as eleições presidenciais de março (a chapa vitoriosa foi a de Júlio Prestes com apoio do presidente Washington Luís), se encontra com  o usineiro Caio de Lima Cavalcanti para dar um passeio pelo centro do Recife. Vão à Joalheria Krause, na Rua do Imperador. O visitante ilustre compra uma joia para a filha que mora no Rio de Janeiro e dá o endereço para o mimo lhe ser entregue.

Em seguida, continua o passeio a pé pelas ruas centrais da capital pernambucana. É reconhecido pelos recifenses e saudado com entusiasmo. Ao meio-dia, a fome começa a dar sinais e João Pessoa vai almoçar no Restaurante Leite, que até hoje funciona no mesmo lugar, na Praça Joaquim Nabuco, ao lado da Antiga Casa de Detenção. Caio de Lima Cavalcanti havia convidado também Agamenon Magalhães – futuro interventor e governador de Pernambuco. A conversa girou em torno do movimento golpista encabeçado por Getúlio Vargas, conhecido como “Revolução de 30”, que derrubou o presidente Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e levou Getúlio a sentar na cadeira de Presidente do Brasil por longos 15 anos. Os líderes políticos de Pernambuco queriam convencer João Pessoa a aderir ao movimento. De tradição legalista, o político paraibano não se convenceu.

Perto das quatro da tarde, saem do Leite e vão ao atelier do fotógrafo Piereck, na Rua da Imperatriz, seu amigo pessoal, que o fotografa. O líder paraibano jamais imaginaria que aquele seria seu último retrato. Do ateliê, caminham em direção à Confeitaria Glória para tomar um chá antes da volta de João Pessoa à Paraíba. Pouco tempo depois do chá, quando ainda estão na mesa, entra na Confeitaria o advogado João Dantas.

Aproxima-se da mesa, saca um revólver calibre 32 e dispara três tiros certeiros no seu desafeto político. A vítima ainda recebe atendimento numa farmácia, mas não resiste aos ferimentos. Estava morto um dos líderes políticos de destaque na Paraíba e no Brasil. Seu algoz foi preso logo em seguida e confessou o crime alegando a “defesa da honra”, pois  tinham sido divulgados no jornal do Governo da Paraíba, A União, cartas de amor que havia trocado secretamente com sua amante, a professora Anayde Beiriz.

Por esperteza dos próceres da Revolução de 30, o cadáver de João Pessoa ficou insepulto por quase duas semanas, tempo gasto entre o velório no Palácio do Governo da Paraíba e numa viagem de navio para ser enterrado no Rio de Janeiro, a capital do Brasil. Na tarde do dia 8 de agosto, o líder paraibano foi finalmente enterrado no cemitério São João Batista. Em outubro, os “revolucionários” derrubaram o governo de Washington Luís.

 

Fonte: Diário do Pernambuco
Créditos: Polêmica Paraíba