Era uma vez um país onde a censura ao jornalismo independente fazia parte do seu cotidiano, quando profissionais críticos ao governo sofriam perseguições por suas opiniões e matérias, e o governo incitava apoiadores contra a imprensa, por considera-la adversária, além de cooptar, com as benesses do Estado, a grande mídia, em troca da veiculação de suas “verdades únicas”. Para os que imaginaram que estivesse me referindo ao Brasil dos anos de chumbo, ou me reportando a um país de governo totalitarista, sinto muito decepcioná-los, pois estou mesmo é traçando o retrato do Brasil atual, governado ou desgovernado, como preferirem, pelo então presidente Bolsonaro.
E se isso te incomoda, então “é bom Jair se acostumando”. Pois bem, Bolsonaro não tolera o jornalismo livre, assim como não suporta a autonomia do pensamento, tampouco o desenvolvimento do conhecimento, uma vez que se esforça em desmontar a educação superior, atenta contra a autonomia das universidades, nega o conhecimento científico e, frequentemente atua para ameaçar organismos de comunicação, a exemplo do grupo Folha – antes mesmo de assumir a presidência.
O estilo bolsomínio, praticado igualmente pelo núcleo militar e pelos olavistas, é o de produzir sua versão particular dos fatos, ou seja, dar vazão às fakes news. Na verdade, é no terreno da mentira, e da polêmica incipiente, que sobrevivem, dada a ausência de preparo para governar, pois passado seis meses de gestão ainda não disse ao que vieram.
De fato, as vítimas desse conjunto de atentados à democracia são muitas e, entre elas também estão jornalistas de grande prestígio nacional, a exemplo do âncora do Domingo Espetacular, Paulo Henrique Amorim (Record), cuja cabeça foi exigida aos bispos da igreja universal; da jornalista paraibana Raquel Cherazade (SBT), que teve sua demissão sugerida por um empresário bolsonarista anunciante da emissora (Havan); e, mais recentemente, o jornalista americano Glenn Greenwald, do blog The Intercept Brasil, que passou à condição de alvo da “tropa de choque bolsonarista”, indignada com a publicação da verdade sobre o julgamento de Lula e os crimes praticados pelo então juiz e justiceiro Sérgio Moro, vale ressaltar o pedido de proteção à vida de Glenn por parlamentares do congresso nacional.
Até Marco Antonio Vila, desatentado repórter de direita da Jovem Pan, achou que poderia criticar Bolsonaro, ledo engano, está fora da Jovem pan. Indiretamente, contudo, e, por força de tática orquestrada, outros tantos profissionais da imprensa e organismos de comunicação estão sofrendo ataques por parte dos grupos neofacistas que se acostaram ao projeto de extrema direita. E para despertar a irá deles basta uma crítica às suas “verdades absolutas”, desencadeando reações violentas e perseguição ostensiva à liberdade de imprensa. Atacam como cães raivosos, alvejam com franco atiradores. E, diga-se de passagem, não fazem acepção entre veículos conservadores e progressistas, muito menos entre os organismos livres e os cooptados.
Não o fazem por falta de capacidade crítica, característica que lhes é inerente. Lembro que alguns jornalistas na cobertura das investigações do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco foram sistematicamente ameaçados. Também tivemos o caso do repórter Carlos de Lannoy (TV Globo) e da jornalista Juliana Dal Piva (Época/ O Globo), responsáveis pelas reportagem sobre das mortes em blitz do Exército no Rio e a morte de um músico e segurança de 51 anos, atingido por um dos mais de 80 tiros disparados por militares, ambos foram ameaçados de morte.
Da mesma forma, os blogs 247Brasil; Diário do Centro do Mundo; Jornalistas Livres e Brasil de Fato, entre inúmeros outros, igualmente foram e estão sendo atacados por suas coberturas independente dos fatos do Brasil recente. A morte acidental do jornalista Ricardo Boechat, foi comemorada, pois, segundo uma lógica acéfala, era ateu e questionava o governo.
Criticar a imprensa, questionar a consistência da matéria, denunciar a parcialidade de uma narrativa e disputar a versão dos fatos, são mecanismos legítimos, próprios das sociedades livres e dos regimes democráticos, mas ameaçar profissionais de morte, assediá-los, perseguir seus familiares, desrespeitá-los com uso de fakes e ameaçar seus empregos, com o intuito de intimida-los e, silenciá-los, são práticas criminosas, merecedoras de uma reação firme por parte da sociedade, e sendo assim, não devemos aceitá-las.
Fonte: Marcos Henriques
Créditos: Marcos Henriques