POR THOMAS TRAUMANN – Poder360
A Terceira Via – a articulação de que seria possível ter um candidato viável à Presidência que não se chamasse nem Luiz Inácio Lula da Silva, nem Jair Bolsonaro– parece ter se dissipado feito aquelas febres de verão. O núcleo formado por João Doria, Luciano Huck, Luiz Mandetta, Eduardo Leite, Tasso Jereissati e João Amoêdo (Ciro Gomes corre em faixa paralela) parece exaurido antes do tempo. Faltando 17 meses para as eleições, até o mercado financeiro, o setor que outrora comparava o segundo turno Bolsonaro x Lula com o armagedon, entregou os pontos.
Em duas lives distintas promovidas nessa semana, executivos naturalizaram a escolha:
“Apesar de os candidatos que são hoje favoritos serem de polos antagônicos, a eleição vai ser decidida ao centro, não necessariamente por um candidato de centro. Minha expectativa é que a racionalidade prevaleça nas eleições. As reformas são uma conquista da racionalidade”, disse André Esteves, do BTG.
Rogério Xavier, da SPX, previu que “o mercado ainda chegará à conclusão que, se Lula vencer a eleição em 2022, vai ser como no primeiro mandato (fiscalista)”. Luiz Stulbergher, do Fundo Verde, também contemporizou. “Todo mundo se lembra do Lula como uma época boa, o lado dele genial. O Lula vai acabar achar um vice bom e o Bolsonaro vai ser mais do mesmo”.
Mesmo com a turma do dinheiro colocando suas fichas nessa final, é preciso cautela. O favoritismo de Bolsonaro e Lula é evidente, mas parafraseando o economista John Kenneth Galbraith, “a única função de previsão eleitoral é fazer com que a astrologia pareça respeitável”. Em 2014, Marina Silva quase venceu pela emoção causada por acidente aérea que matou Eduardo Campos. Em 2018, Bolsonaro estava na frente, mas foi favorecido pela comoção nacional ao sobreviver o atentado.
Mesmo sem tragédias, a política é uma arte que foge dos modelos. Ninguém imaginava em março que Lula recuperaria tão rápido o seu potencial eleitoral. Nem mesmo Lula, aliás.
Para que apareça um terceiro candidato é preciso acatar algumas premissas:
– Com Lula e Bolsonaro no páreo, um terceiro competidor só terá chances de passar de 25% dos votos no primeiro turno. Abaixo disso, é improvável que ele alcance o segundo turno.
– Se 25% é o número mágico, não dá para pensar em ter mais um candidato. Vai ser preciso, sim, juntar nomes liberais como João Amoêdo com desenvolvimentistas como Ciro Gomes, o que ser um saco de gatos ou uma frente ampla, dependendo do ângulo que se olha.
– Apesar dos egos dos pré-candidatos, no entanto, a maior dificuldade não é chegar a um nome, mas a um propósito. Terceira Via para quê? Se for para tirar Bolsonaro, Lula basta. E vice-versa. Falta aos postulantes da Terceira Via definir um programa mínimo que não apenas supere a instabilidade política e da areia movediça econômica que estamos mergulhados desde as Marchas de 2013, mas que aponte para algum lugar.
Lula lidera as pesquisas hoje não pelo futuro que promete, mas pelo passado que representa. Bolsonaro tem cacife não pelo governo que faz no presente, mas porque é a negação do mesmo passado louvado pelo PT. A única opção -sem garantia de sucesso- da Terceira Via é prometer o futuro.
No xadrez, que uma espécie de política por outros meios, aprende-se que só se consegue resultados diferentes cometendo erros diferentes, eliminando os erros velhos. O Centro perdeu seu espaço de antagonista do PT para Bolsonaro. Se quiser retomar o lugar, terá de reagir com a mesma intensidade. Ou sair do jogo.
Fonte: THOMAS TRAUMANN
Créditos: THOMAS TRAUMANN – PODER360