São duas as características que a extrema direita mantém em seu currículo: a insensibilidade e a truculência.
Insensibilidade, diga-se, humana e social. Humana no sentido de produzir assassinatos em massa, e social vinculada a ausência de qualquer preocupação com a qualidade de vida das populações periféricas
A truculência está conectada com as metodologias pouco sutis para atingir e/ou manter seus projetos.
Na História, os dois personagens mais reluzentes desse time atendem pelos nomes de Mussolini, do fascismo italiano, e Hitler, do nazismo germânico.
Durante a primeira metade do século passado, insensibilidade e truculência de mão dadas trucidaram democracias, produziram genocídios.
Mas, de olho na pura verdade, há de se convir que o extremismo de direita se modernizou.
Adaptaram-se ao contexto da democracia, montaram na vitrine de crises econômicas e no antipetismo midiático para vencer eleições, por exemplo, nos EUA e no Brasil.
Esqueceram-se, no entanto, de trocar a roupa da insensibilidade e da truculência.
Reconheça-se também o seu pragmatismo.
Surfando nas ondas da insensibilidade, atropelam a razão, pisoteiam o normatismo oficial vigente, para enxergar apenas seus objetivos políticos.
Essa realidade foi explicitamente patenteada na condução da atual pandemia do coronavírus pelos presidentes daqueles dois países.
A máxima incontestável dentro de qualquer epidemia é “quanto mais contatos, mais contágios”.
E mais infecção, e mais doença, e mais mortes.
Simples assim!!!
Matéria do respeitado jornal americano Washington Post expõe a frieza de Trump quando foi alertado pelos serviços de inteligência, nos meses de janeiro e fevereiro, da gravidade da epidemia, que já estaria entrando no país.
O presidente preferiu comparar a uma gripe comum.
Pouco tempo depois, mesmo diante das evidências de uma invasão violenta e irreversível da Covid-19, o republicano, na contramão das recomendações de todas autoridades sanitárias mundiais, desaconselhou o isolamento social.
Na carona do arrependimento tardio do presidente, o gigante, tão competente no seu poder econômico, imbatível no seu potencial bélico, em menos de dois meses exibia uma escalada de infecções, batendo todos os recordes no índice de incidência e taxa de letalidade. Recorde, registre-se, ultrapassando a barreira de dois milhões e quinhentos de infectados e quase empatando com a soma dos casos e mortes ocorridas em todos os países ao redor do mundo.
Ressalte-se, ainda, que o coronavírus não vive só de produzir doenças e cadáveres.
No seu rastro, seguiu uma dispneia econômica, sem se enxergar, no curto prazo, oxigênio para sequer amenizar o declínio aterrorizante do PIB americano de 2020, ano crucial de reeleição.
O jeito foi apelar para o pragmatismo cruel, com granadas disparadas em direção à China, morteiros atingindo a Organização Mundial de saúde.
Cometeu uma heresia: A OMS é co-responsável pela epidemia.
E um absurdo: O vírus foi produzido em laboratório chinês.
Alguns oligofrênicos acreditam.
No Brasil, reconheça-se, a insensibilidade é mais evidente, a truculência mais persistente.
A curva epidêmica em plena evolução, hospitais e UTIs esgotando sua capacidade de atendimento, a multiplicação diária de cadáveres, e o presidente contra-atacando o distanciamento social.
Convenhamos que 2022, ano da reeleição do brasileiro, está bem mais distante do que a do americano, mas as previsões são pra lá de sombrias na área do Euro – queda de 7,5% do PIB; nos EUA – declínio de 5%, e a economia brasileira enterrada em 5%.
A recuperação da economia mundial, conforme projeções do grupo dos países ricos (OCDE), não deve ocorrer no período imediato do pós-coronavírus.
Apeado a essa realidade, o pedigree do presidente entra em cena, e o pragmatismo perverso segue estimulando, no discurso e nos gestos, os contatos, os contágios, as infecções, as mortes.
Resumindo:
O gigante norte-americano batendo recordes mundiais na modalidade produção de cadáveres, e abaixo da linha do equador, o gigante sul-americano exibindo a medalha de ouro na mesma categoria, em toda extensão da América Latina.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Sebastião Costa