Mesmo dentre os grupos daqueles que votaram no presidente da República, Jair Bolsonaro, durante as eleições de outubro de 2018 já é possível encontrar pessoas descontentes com as ações do Governo Federal. Mesmo que estes se posicionem mais timidamente contra a atual gestão, como que não desejando dar aos seus adversários políticos a possibilidade de afirmarem que eles estavam certos durante o último pleito eleitoral, já nota-se um descontentamento com o atual presidente e sua forma de conduzir o país. Um dos maiores símbolos do que seria o eleitor de Bolsonaro, o cantor e aluno de Olavo de Carvalho, Lobão vem gravando para o seu canal no youtube diversos vídeos criticando o presidente e seu antigo mentor intelectual.
Não, Lobão muito provavelmente não voltou a ser de esquerda agora que a direita se encontra no poder. Apesar da inerente característica que o cantor de rock possui de constantemente buscar opor-se a aqueles que estão com o poder em suas mãos, acredito que o seu mal desta vez seja realmente a decepção. Lobão foi durante os governos Lula e Dilma um ferrenho crítico dos petistas, inclusive não poupando as estratégias de política cultural adotadas durante os governos do PT que em seus ataques foram condensados na figura do ex-ministro Gilberto Gil. Lobão assim como muitos outros eleitores de Bolsonaro que também votaram em Lula e quem sabe até mesmo em Dilma durante a sua primeira eleição, deveria estar buscando finalmente poder assentar-se e dizer “eu estava certo”. Para a tristeza do cantor o caos que se instaurou no atual governo não permite que ninguém possa apontar algum acerto que faça valer tudo que se passou no último pleito presidencial. Em um artigo publicado por este mesmo portal de notícias o jornalista Felipe Nunes afirmou em um artigo que caso Bolsonaro não desse coesão ao seu “reinado” ele ruiria, pois bem parece que o terreno sobre o qual ele construiu seu castelo era muito arenoso e já não terá mais chances de recuperar seu reinado.
Muitos afirmam que os ratos são os primeiros a fugirem de um navio que afunda, mas considerando o atual estado de cegueira em que a divisão política pôs os dois espectros da população brasileira, eu apontaria que na realidade aqueles que estão passando a criticar o governo são como iluminados que saem da caverna de Platão para ver a realidade do mundo externo. Na atual situação do país não podemos ficar nos atendo a detalhes passados como se eles fossem a única explicação para que o país siga patinando enquanto Bolsonaro e seus filhos preocupam-se muito mais em chamarem a atenção dos seus seguidores nas redes sociais e agradarem ao astrólogo da Virgínia.
Todo esse caminho de arrependimento traçado pelos eleitores de Bolsonaro me recordam de um artigo escrito pelo terceiro Arcebispo da Arquidiocese da Paraíba, Dom José Maria Pires, em que ele relata todo o seu processo de apoio ao que ele nomeia no texto como Revolução de 1964 e sua decepção com o que tornou-se o movimento com a tomada do poder pelos militares. Em seu texto Dom José teve a maturidade de assumir que após quatro anos de Regime Militar não arrependia-se de ter apoiado a “revolução”, mas que sentia-se decepcionado com o rumo que o Governo Federal tomou durante os quatro anos que haviam se passado desde então ao tentar conduzir o país. Algo que ainda busco pinçar no texto de Dom José é sua reclamação em relação a cegueira dos governantes para tudo mais que não fosse combater a possível instalação do comunismo no Brasil, pois esse nunca teria ido problema no Brasil afirmava o arcebispo. Ao meu ver, hoje o governo Bolsonaro sofre da mesma cegueira e trombará nos mesmos muros.
Por fim deixo o questionamento: quanto tempo demorará para que Bolsonaro goze de baixíssimos níveis de aprovação dentre a população brasileira assim como seus antecessores e para que criticar-lo já não seja uma missão em meio a tantos defensores alucinados. Bolsonaro não consegue criar uma estratégia de governo que agrade nem mesmo seu difuso eleitorado e poderá em breve ser mais um presidente a cair antes mesmo de completar os quatro anos de seu mandato.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba