O calendário registra que hoje o ano está se findando, embora tenhamos a consciência de que muito do que vivemos nele terá continuidade ainda por algum tempo. Gostaríamos que 2021 viesse diferente. Esse desejo, no entanto, esbarra em muitas incertezas e no negacionismo praticado por muita gente, que insiste em desdenhar da pandemia e desrespeitar todas recomendações que a ciência e a medicina têm estabelecido. Não sabemos quando voltaremos às nossas rotinas completamente. Não temos controle sobre o que vai acontecer. Longe de ser pessimista, estou sendo realista, mas sem perder a esperança de que isso tudo um dia vai passar. E que seja o mais breve possível.
A sensação de “não finitude” está determinada pela crise sanitária que está assolando o planeta – a pandemia da Covid 19. O pior é a percepção de que estamos numa “nau sem rumo”, sem comando, em que pesem os esforços de alguns governantes para enfrentamento dessa tragédia. Queríamos que ao encerrar deste ano, tivéssemos a intuição de que todas as crises e dificuldades que vivenciamos estariam sendo lembradas como coisas do passado.
Ainda que tenha sido um ano de dor, angústia e preocupações, há de se considerar que ele ofereceu alguns aprendizados que nos deixam mais preparados para enfrentar 2021. Aprendemos a valorizar cada minuto que passamos ao lado de pessoas que amamos ou admiramos. Descobrimos que, em muitos casos, é possível trabalhar à distância. Nos acostumamos a refletir sobre a vida, em razão do confinamento a que estamos obrigados a experimentar. Isso tem nos ensinado a encontrar novas formas de vencer o caos e superar as dificuldades que nos são apresentadas inesperadamente.
Todavia, apesar dos embaraços, precisamos estar prontos para encarar o desafio de fazer o ano de 2021 diferente do que está terminando. A pandemia não terminou, mas façamos com que ela nos oriente a viver com mais responsabilidade e mais empatia. Que o futuro incerto não nos assuste a ponto de perdermos a esperança de dias melhores. Tudo é uma questão de construirmos formas de superação dos momentos difíceis.
Em Eclesiastes o sábio rei Salomão afirma: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou… Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar…” Precisamos identificar as lições oferecidas pelas dores e sofrimentos experimentados nessa crise sanitária, para que possamos num futuro próximo aproveitar o tempo da reconstrução de um mundo melhor. Nada acontece por acaso.
É necessário que o senso de coletividade seja despertado em cada um de nós em 2021. Sem esquecermos de que quando usamos a máscara estamos não só nos protegendo, mas também ao outro. Saibamos vencer a ansiedade que se fez presente desde março deste ano. Extraiamos do confinamento social o que de positivo ele nos tem mostrado : a importância da convivência familiar mais próxima, o tempo disponível para reflexões e realinhamento de nosso comportamento, a oportunidade de focarmos em adquirir novas habilidades. Respeitemos as novas dinâmicas sociais que a pandemia está a exigir. Trabalhemos nossa capacidade de resiliência. Desenvolvamos a paciência e saibamos moldar as adaptações.
E que venha 2021. Que o réveillon não seja apenas uma mudança no calendário, mas seja efetivamente o ingresso num ano que proporcione mudanças em nossa vida. Mesmo sendo impactados pela pandemia, possamos transformar pesadelos em sonhos, medos em perseverança, abatimento em ânimo, tristeza em entusiasmo. Depende só de nós. Sejamos solidários. Fortaleçamos o espírito de fraternidade humana e o sentimento de empatia.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Polêmica Paraíba