15 DE MARÇO: Medo maior é de que descambem para a violência. A maioria ficará em casa, diante da televisão - Por Rubens Nóbrega

A angústia de esperar por esse pior, tenho certeza, domina a maioria da população que não estará nas passeatas, marchas ou carreatas de sexta ou de domingo. , ao pé do rádio ou zapeando freneticamente na Internet, acompanhando entre preocupada e perplexa a pancadaria ou o vandalismo que de dois anos pra cá virou a mais perfeita tradução da intolerância política, social e até racial

O ódio vai às ruas

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Por Rubens Nóbrega

Do Jornal da Paraíba

Milhões de brasileiras e brasileiras devem concordar com o direito que a democracia dá a todos de se manifestarem pró ou contra qualquer governo. Acredito, contudo, que a maior parte dessas pessoas teme aflitivamente pelo que pode ocorrer nas manifestações programadas para sexta próxima e domingo que vem. Medo maior é de que descambem para a violência. Faço parte desses temerosos, medrosos. Meu ubaldismo aflora com força em momentos de grande tensionamento político.
Penso mesmo que será um milagre se tudo transcorrer na paz, tanto no dia 13 como no dia 15. Mais fácil prever e mais ainda acontecer é o revide à provocação, à ofensa, ao insulto que inevitavelmente virá de um ou de outro lado. E assim, com cada lado mais exaltado que o antagonista, da troca de impropérios para a troca de sopapos será um nada. Ou tudo. Afinal, com tanta gente na rua carregando ódio no coração e gosto de sangue na boca, qualquer refrega verbal pode virar agressão física ou coisa pior.
A angústia de esperar por esse pior, tenho certeza, domina a maioria da população que não estará nas passeatas, marchas ou carreatas de sexta ou de domingo. , ao pé do rádio ou zapeando freneticamente na Internet, acompanhando entre preocupada e perplexa a pancadaria ou o vandalismo que de dois anos pra cá virou a mais perfeita tradução da intolerância política, social e até racial. Porque os protagonistas de cenas tão deploráveis quanto previsíveis são intolerantes, odientos, incapazes de conviver com o divergente ou até mesmo com o simples diferente.
Não me surpreenderá de modo algum se reeditarmos aqui um caracazo às avessas, por ação de black blocs ou milicianos treinados e pagos para espalhar terror e morte entre manifestantes, muitos dos quais vítimas da própria credulidade, anestesia em geral aplicada por lideranças tão inescrupulosas quanto ambiciosas que não fazem outra coisa com o povo a não ser usá-lo como massa de manobra. E os ingênuos, coitados, sequer desconfiam um pingo da enorme serventia deles ao projeto daqueles que tentam se manter no poder ou conquistá-lo. Por todo e qualquer meio, custo ou preço. Numa empreitada desse porte, com esse grau de perversidade, se um cadáver ou um massacre puder ajudar a causa não tenho dúvida de que será providenciado.

 

Só lembrando
Para a sexta-feira 13 estão sendo convocados os militantes de centrais sindicais, movimentos sociais, entidades estudantis e partidos políticos de esquerda. Eles deverão sair às ruas em pelo menos 16 capitais “por uma reforma política com participação popular, contra a retirada de direitos trabalhistas e em defesa da democracia e da Petrobras”. O mote é esse, a pauta é essa, mas está mais do que na cara: trata-se de uma mobilização de forças governistas que tentam, embora tardiamente, fazer um mínimo de contraponto à marcha do dia 15 pelo impeachment da Presidente Dilma, há mais tempo mobilizada e bem mais e melhor articulada pela oposição ao governo petista.
‘Erro de sistema’
Esta seria a única, razoável e plausível explicação da UFPB para o pagamento dos salários de outubro de 2014 a janeiro deste ano a um funcionário da instituição que atende pelo nome de Ricardo Vieira Coutinho, farmacêutico dos quadros do Hospital Universitário Lauro Wanderley, Campus de João Pessoa. O problema já foi corrigido e suspenso o depósito mensal dos proventos do servidor federal que é o governador do Estado. Como tal, ele não pode acumular ganhos de uma e outra função porque, evidentemente, não dá conta das duas cumulativamente. Só não se sabe se o governador cuidou ou vá cuidar de devolver espontaneamente o que lhe foi pago indevidamente, em tese por culpa da administração, não dele. Sabe-se menos ainda se ele vai esperar ser cobrado pelo governo federal para então questionar e se negar a fazer a restituição. Perfeitamente possível, vez que recebeu de boa-fé os salários (de R$ 5,8 mil ano passado, reajustados para R$ 6 mil e pouco no réveillon).
Greve no Estado
Esta vai ser mesmo a semana das manifestações de rua, uma delas prevista para amanhã, convocada pelo Fórum dos Servidores Estaduais contra o reajuste de 1% concedido por Ricardo Coutinho à maioria do funcionalismo. A organização do movimento espera a adesão de médicos, professores, policiais militares e bombeiros, auditores fiscais, servidores da Fundac, da UEPB e dos técnicos-administrativos. Caso não compareçam a qualquer ato público, muitos desses servidores deverão pelo menos paralisar suas atividades por toda a quarta-feira. Principalmente os de nível médio que teriam sido penalizados com um decréscimo de salário. Do contracheque deles sumiram R$ 60 mensais pagos a título de vale alimentação. O benefício é conhecido como vale coxinha, embora insuficiente para comprar um salgadinho do gênero por dia.
Fisco vai ao MP
Cansado de pedir providências para proteger os postos fiscais da violência que assola a Paraíba, o Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado (SindifiscoPB) decidiu na última semana recorrer ao Ministério Público do Trabalho. A entidade considera que a inoperância governamental soma-se a uma insegurança tamanha que faz do trabalho nesses locais uma atividade de alto risco. Como exemplo, cita o caso do Posto Fiscal de Guaju, onde recentemente “um caminhoneiro foi atingido por um disparo de arma de fogo após tentativa de assalto”. Acionada, a Polícia demorou tanto a acudir que ao chegar deixou bem visíveis a precariedade com que opera a própria força pública.