Há um aparente paradoxo político no Brasil pós-Lava Jato que pode ser resumido da seguinte maneira. Mesmo com a hecatombe que atingiu indistintamente grandes e médios partidos, com exceção do PT, todas as outras organizações continuam a agir como se nada no Brasil tivesse ocorrido.
Por uma questão de sobrevivência, o PT procura superar, depois do leite derramado, as incongruências que marcaram suas alianças nos 13 em que esteve à frente do Governo Federal. A própria Dilma Rousseff reconheceu essa semana que seu grande erro foi ter feito a aliança que fez com o PMDB.
No caso dos outros partidos, nem mesmo a ameaça que pode levar de roldão lideranças até então intocadas da politica nacional – como Aécio Neves, José Sarney e Romero Jucá, – a montagem das alianças eleitorais segue a mesma lógica: montar palanques que mais parecem arcas de Noé e que não expressam nenhuma identidade programática entre os partidos que as compõem, apenas o interesse de ratear espaços nas futuras administrações.
Notem que nesse campo Luciano Cartaxo e Cida Ramos em nada se diferenciam. Comportam-se como se as eleições continuassem a ser um mero ajuntamento de forças, um pega-na-rua ideológico onde o que menos importa é a identidade programática dos possíveis aliados.
Em qualquer lugar do mundo as demarcações de diferenças quanto a visões do fazer político e do papel do Estado constitui uma fronteira ideológica instransponível de um campo mais do que partidário, mas de forças sociais, que impõem, até por exigência do eleitorado, que as alianças sejam feitas levando em conta essas aproximações.
É difícil imaginar uma aliança entre a direita e a esquerda na Europa, a não ser por razões puramente circunstanciais ou quando uma grande questão exige que essas diferenças sejam postas de lado.
Mas, no Brasil e na Paraíba, parece que isso não. Aqui, faz tempo que muita gente engoliu esse discurso pragmático-conservador de que as eleições locais tem uma “dinâmica” própria e não devem ser reproduzidas nos municípios as alianças nacionais.
É como se os partidos nos municípios estivessem descolados de uma realidade nacional. E isso tudo para quê? Para acomodar os interesses das lideranças dos partidos em busca de espaços nas administrações públicas.
Então, passa-se a considerar legítimo que, por exemplo, o PCdoB suba no palanque de Luciano Cartaxo, do direitista PSD. E Dem e PPS – para ficar só nos exemplos mais notórios – se abracem à candidatura de Cida Ramos, do PSB, com as possíveis bênçãos do MST e dos aguerridos jovens do Levante Popular da Juventude!
É como se a eleição fosse um momento à parte, só que as alianças se mantém na hora da montagem dos governos, e essas forças normalmente ficam à margem.
Talvez algum leitor mais atento estranhe esse questionamento, afinal, faz tempo que os socialistas deixaram de se alinhar à esquerda do espectro político nacional.
Mas, aqui na Paraíba – o que também não deixa de ser paradoxal e os motivos precisam de uma análise política mais real – o PSB mantém uma linha de proximidade com os movimentos sociais que se unificaram contra o impeachment de Dilma Rousseff e lutam, hoje, para evitar a permanência de Michel Temer na Presidência e o consequente desmonte das políticas dos governos petistas em várias áreas, o que já está acontecendo, mesmo na “provisoriedade” peemedebista.
Isso, por exemplo, não representaria um óbice para o PSB contar com o apoio do PMDB em João Pessoa. Aliás, se dependesse dos socialistas o PMDB já estaria de mala e cuia na chapa de Cida Ramos colhendo as flores do jardim girassolaico. Como depende de José Maranhão, o senador deve mesmo é perder os cargos que tem – que são muitos! − no governo estadual.
E ninguém sabe os motivos da crise política atual. E por que esses partidos não desejam um reforma política.