Quem gosta de política, possivelmente, já leu Nicolau Maquiavel, o mais astuto dos diplomatas florentinos, famoso por debruçar-se sobre as acrobacias do poder. Embora os cientistas políticos costumem classificá-lo como o autor que inaugura a tradição política moderna, um de seus livros mais conhecidos, O Príncipe, foi convertido (injustamente, diga-se de passagem) em um manual para tiranos.
De fato, o autor não vê na natureza humana a vocação para o exercício do bem, mas a inclinação para o interesse próprio, para a ambição e vontade de domínio. Assim, em formato de singelos conselhos, Maquiavel elabora corolários aos monarcas que desejam lograr êxito em suas empreitadas, ainda que para isto seja necessário utilizar alguns subterfúgios “maquiavélicos”, dentre os quais o de não ser exatamente virtuoso, mas parecer virtuoso.
A atualidade de um livro escrito no século XVI é algo realmente espantoso. Talvez, por isso, o livro permaneça sendo um clássico que extrapola as fortalezas de príncipes e reis medievais para embrenhar-se no século XXI com vigor. De uns tempos para cá, alguns empresários paraibanos do ramo da comunicação têm circulado entre os poderes do estado apresentando-se como a Associação de Mídias Digitais da Paraíba (Amidi). O objetivo deste agrupamento é, vale destacar, absolutamente legítimo: profissionalizar e regular a relação do mercado digital com os órgãos públicos e seus setores, padronizando os critérios de audiência para definir “o tamanho” de cada um. Espera-se, assim, que o Poder Público possa investir a verba de comunicação de maneira mais transparente e eficaz.
É muito importante saber que há pessoas preocupadas em aperfeiçoar o mercado digital da Paraíba propondo operar com parâmetros mercadológicos modernos. Ocorre que a autorreferida associação não representa ninguém, embora pareça representar. A sede da associação é uma incógnita, os filiados são um mistério à parte, o site oficial está há anos fora do ar – http://www.amidi.online/ – , o perfil no Facebook não é atualizado desde novembro de 2015, ninguém viu a Ata de Fundação ou o Estatuto Social, sequer sabe como, quem ou quais critérios abalizaram a eleição de seu presidente e diretoria.
Faltou empenho, cooperação e/ou vontade política para submeter os critérios propostos de regulação das mídias ao escrutínio do amplo conjunto de profissionais que compõem o mercado digital paraibano, do Sertão ao Litoral. Pelo contrário, o diálogo com a maioria dos profissionais de comunicação que compõe o mercado digital foi sumariamente vituperado, de modo que nada falta para a Amidi reinar, exceto o reino.
Que fique bem claro: não questionamos a credibilidade daqueles que fazem parte da Amidi, nossos colegas de profissão com quem mantemos relações cordiais, mas somos forçados a advertir que não se faz associação com o intuito de representar um segmento, senão com extensa participação do setor. Paradoxalmente, talvez, falte um trabalho de comunicação mais efetivo do próprio grupo que almeja representar os profissionais da comunicação. Afinal, nunca é demais destacar que embora Maquiavel tenha afirmado que a aparência seja elemento indispensável à atuação política moderna, reinados que surgem subitamente – como tudo o que nasce e cresce depressa na natureza – não são capazes de lançar raízes profundas e desenvolvidas, de modo que a primeira tormenta pode abatê-los.
Fonte: Blog do Ninja
Créditos: Blog do Ninja