A ENCRUZILHADA DE VENEZIANO

Gilvan Freire

veneziano

                  Diferentemente do casamento entre homens e mulheres (e agora também entre pessoas do mesmo sexo), onde o que une é o amor e as afinidades decorrentes, na política o que une são as ocasiões e os interesses materiais, no geral subalternos e pouco explicáveis. É assim: faz-se de tudo e não se explica nada, porque é moralmente inaceitável o que acontece às escondidas dos eleitores. E ai entra de dinheiro de origem criminosa a favores escusos pagos pela máquina estatal.

                        Nada é mais incompatível hoje no país do que o casamento entre o PT e o PMDB, mas o governo de Dilma, vulnerável a ação saqueadora dos dois, os une em matrimônio forçado. Não pelas leis canônicas ou cíveis, mas pela lei da sobrevivência do poder, o único ponto de afinidade que pode manter os dois em cima de um palanque só.

MAS ISSO, A RIGOR, OCORRE TAMBÉM COM OUTROS PARTIDOS, PORQUE AS INDECÊNCIAS NÃO SÃO PRIVILÉGIOS DE PT E PMDB. São hábitos modernos de toda a vida partidária, inclusive, como se verá, em torno das alianças governistas na Paraíba, onde os aliados nem precisam se gostar. Não é que Wilson Santiago, transitando entre os polos Norte e Sul, pode até ficar com Cássio, com quem mais quer e o cassismo menos quer?

 

Pelo menos Cássio e RC atraem, neste momento, as atenções gerais dos partidos. Um, por conta do favoritismo popular e pela expectativa de poder iminente. O outro, pela força do poder em funcionamento que, queimando a antiga biografia de seu ocupante, pode fazer de tudo do que não deve.

 

VENEZIANO, EFETIVAMENTE UM LÍDER DE GRANDE POTENCIAL POLÍTICO, está virando catolé em meio a duas pedras que parecem esmagadoras. Se continuar esse efeito polarizante entre Cássio e RC – o poder in natura e o poder em conserva -, a candidatura dele caminha para o naufrágio.

 

O que poderia fomentar a candidatura de Veneziano seria o anticassismo, um setor imenso do eleitorado, baseado especialmente no PMDB, que vinha se revezando com Cássio no governo. Mas esse segmento, em parte, já troca figurinhas com o próprio Cássio, e uma parte menor troca moedas com RC. Isso é real.

 

Além de não sair do imobilismo – não por culpa só sua, mas por fatores externos – Veneziano é forçado a assistir passivamente a forte formação dos confrontos entre seus prováveis adversários, impressão que começa a causar desânimo entre seus correligionários.

 

PRA PIORAR, VENEZIANO SE COLOCA NA DEPENDÊNCIA DE UMA ALIANÇA COM O PT que pode lhe oferecer o palanque petrolífero de Dilma no Estado e lhe assegurar um bom tempo na mídia eletrônica eleitoral. Da parte do PT e de suas necessidades, Dilma teria o único líder de projeção disponível na Paraíba para lhe recomendar o nome e defender uma bancada minguada e frágil que precisa reeleger-se a duras penas.

 

Mas esse jogo de interdependência ainda não serve para tirar Veneziano do esmagamento. É que o PT é useiro e vezeiro na prática da deslealdade em tempos de eleições. Ele vende a grife Lula e o aparato oficial de Dilma, mas não entrega. Assim como usa o dinheiro da campanha presidencial a favor de seus candidatos e não repassa ao candidato a governador do PMDB. De outras vezes foi assim.

 

Além do mais, rouba de saída uma vaga importante na chapa, de costume com um líder sem dimensão eleitoral. É uma ajuda para puxar para baixo o candidato principal. É água para quem precisa de boias salva-vidas.

 

DE TUDO, ENTRETANTO, O MAIS GRAVE É QUE O PT NUNCA ESTÁ UNIDO NEM MESMO DENTRO DE SUA PRÓPRIA CASA e umas correntes traem as outras por mero instinto animal de compulsão, não havendo nenhuma possibilidade de ser diferente agora. Pelo contrário, vai ser ainda pior nestas eleições.

 

Talvez fosse mais conveniente Veneziano deixar de lado o PT e formar uma chapa partidária com Maranhão pro Senado e Naborzinho pra vice. Só assim evitaria que uma parte do PMDB o traísse com Cássio e RC, juntamente com um pedaço grande do PT, hoje esbandeado para vários lados, mas pouco esbandeado pro seu lado. É sobreviver ou morrer.