Se Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem tirado o sono de Dilma Rousseff, puxando o coro da insurreição dos deputados federais, outros políticos e assessores já passaram por atritos com a presidente — e não se saíram bem. Nas vezes em que se sentiu provocada ou quando avaliou que havia riscos à imagem do governo, Dilma puxou o tapete de aliados sem constrangimentos. Lideranças do governo na Câmara e no Senado, assim como integrantes do Executivo federal, estão entre os que perderam a queda de braço para a petista (leia quadro).
A postura de comando, de poucas concessões e muitas vezes autoritária, acabou isolando a presidente a ponto de, nas últimas semanas, ter perdido o controle da Câmara dos Deputados e o embate com o blocão articulado por Cunha. Outro reflexo da mão de ferro de Dilma é o clamor de alas petistas pelo retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao centro do debate eleitoral, com uma candidatura ao terceiro mandato. Para especialistas, a viabilidade política de um eventual segundo governo da presidente — desde a composição de alianças, até a formação da base aliada — só poderia ser garantida nas urnas, uma vez que de traquejo político e capacidade de liderança ela tem pouco.
“Ela carece efetivamente de uma postura de líder político. Ela não é uma líder; é uma pessoa que tem o cargo mais importante da República, mas não tem capacidade de negociar. Procura sempre impor o ponto de vista dela”, analisa Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Para ele, além das nuances de autoritarismo, a “concepção gerencial levada ao extremo” seria outra característica central na presidente. “Ela sempre ocupou papel de liderança na burocracia, em que a estrutura é muito mais hierárquica do que no jogo da política no Congresso”, complementa Lúcio Rennó, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Do Correio Braziliense