A CRISE ENTRE CÁSSIO E RC. E A CORRUPÇÃO

Gilvan Freire

                        Não parece ética e politicamente correto se defender a corrupção sob qualquer pretexto. Ela é a maior inimiga da moralidade pública e um monstro devorador dos costumes, além de destroçar o Estado, sugar-lhe as receitas e condenar o povo a grandes sofrimentos, carências e frustrações.

Nada é mais vil e mais abjeto do que um agente público corrupto, mais ainda sendo um agente público eletivo, desses escolhidos pelo voto popular nos regimes democráticos. Eles não apenas arrombam os cofres do Estado, mas surrupiam recursos destinados a suprir as mais urgentes necessidades de camadas pobres ou miseráveis da sociedade.

Os corruptos nem precisam de artefatos bombásticos para explodir o Tesouro, como os assaltantes de bancos – eles, via de regra, estão de alguma forma cuidando dos cofres, direta ou indiretamente. Hoje em dia, se há inconformação do povo quanto aos que tomam por assalto o patrimônio alheio, imagine-se quanta inconformação não haveria se todos os assaltos fossem praticados exclusivamente pelos próprios agentes da segurança pública, encarregados de cuidarem da ordem social e da defesa dos cidadãos e de seu patrimônio.

                        É ISSO MESMO: A CORRUPÇÃO É GRAVE E ABSURDAMENTE ANÔMALA E VIL PORQUE TRADUZ O ARROMBAMENTO PERMANENTE DOS COFRES POR QUEM ESTÁ ENCARREGADO DE CUIDAR DELES E ZELAR PELA SUA INCOLUMIDADE, vez que o Tesouro é o cofre das economias populares, destinadas a amparar as vítimas das injustiças sociais – os males que o próprio povo comente contra seus semelhantes vulneráveis. Os tachos mais quentes do inferno deveriam está reservados aos que se favorecem das desgraças e misérias dos outros.

 

Mas a democracia, nas sociedades pobres, tem uma contradição curiosa, ou espantosa, ou escandalosa: ela também é distribuidora dos ganhos da corrupção. Ou seja: a democracia socializa o roubo e a corrupção. Como assim?

 

As eleições no Brasil distribuem entre os eleitores uma monumental montanha de dinheiro público, vindo da mais diversificada estrutura de crime que um país sem lei pode ter: fundos partidários, caixa dois, emendas parlamentares, mensalões, licitações fraudulentas, evasão fiscal, sonegação fiscal, desvios de dinheiro, etc, não bastasse agora a associação às drogas e ao tráfico. No segmento político, quem quiser se eleger com mais facilidade tem de meter a mão nessa cumbuca e distribuir aos eleitores a parte que seria destinada a eles se os recursos públicos não tivessem sido desviados de sua finalidade.

 

Não se sabe se essa equação é tão justa quanto seria se os recursos públicos fizessem o caminho certo até chegar ao povo. Mas que, nas campanhas, o dinheiro da corrupção chega a uma parte da população, chega.

 

NA PARAÍBA, ATUALMENTE, PARTE DO DINHEIRO PÚBLICO ESTÁ FAZENDO ESSE PERCURSO ESCABROSO. A briga entre Cássio e Ricardo Coutinho começou a desenfrear este processo lamacento, antes mesmo que os recursos desviados possam chegar aos eleitores, líderes e sublíderes e cabos eleitorais. As disputas estão ainda no andar superior, entre líderes de maior expressão, ou de expressão intermediária. RC não quer morrer afogado antes do tempo e estrebucha. Qual é a sua arma? É o Tesouro, que ele mesmo abarrotou para estuprá-lo depois.

 

Acreditem: já há hoje um mensalão na Paraíba: quotas fixas de pacotes financeiros dadas a líderes importantes para não abandonarem RC, ou a outros que queiram provar do pecado da corrupção. Valor? Uma parte em dinheiro, outra em contracheques e outra num produto que o Estado consome, desviado de sua rota original. É um escândalo gigantesco e inimaginável àqueles que pensavam que RC não seria capaz de tamanha insanidade. Mas ele é capaz. Capaz só disso (e de massacrar os pobres e afrontar o que ainda resta da consciência do povo da Paraíba).