Lena Guimarâes

Do PMDB pode-se dizer tudo, menos que não foi paciente. Há seis meses espera que a presidente Dilma Rousseff reavalie sua participação no Governo, adequando-a ao seu tamanho e influência no país e na base, e que o PT, enquanto aliado, respeite seus espaços e concilie projetos regionais.

Dilma disse não, repetidas vezes, a um novo ministério (para o qual foi indicado o senador paraibano Vital do Rêgo), e o PT avançou nas áreas do PMDB, a exemplo do Rio de Janeiro, com vontade. E como se o partido não fosse relevante, embora comande Senado e Câmara, ainda trabalhou para impedir a candidatura do senador Eunício Oliveira ao governo do Ceará, para favorecer seus amigos Cid e Ciro Gomes, que estão no PROS.

A troca de farpas entre o presidente do PT, Rui Falcão, e o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que em pleno Carnaval usou o Twitter para propor a reavaliação da aliança entre os partidos, levou a crise ao limite. Ele também anunciou que o blocão que comanda (formado por oito partidos e com 250votos) vai votar projetos importantes na pauta da Câmara, entre eles o do Marco Civil, que interessa ao governo mas que os parlamentares consideram que limita a liberdade na internet.

Na sequência, Dilma cometeu outro erro grave: se antes negou uma vaga no Ministério para indicação dos senadores peemedebistas, passou a admitir nomear Vital do Rêgo, mas para o Ministério do Turismo, cargo que consta como da cota dos deputados. O paraibano recusou alegando que não poderia ser desleal com a bancada da qual recebeu apoio unânime para o Ministério da Integração. Foi jogada divisionista que não prosperou.

Os deputados agora querem convocar convenção nacional extraordinária para decidir a aliança. O presidente Valdir Raupp admitiu que se acontecer, os insatisfeitos decidirão os rumos do PMDB, pois já seriam maioria entre os 742 votantes. Disse que a participação no governo já teria perdido importância em relação as disputas regionais. Em todo o país, só existiria clima para alianças em seis Estados. A Paraíba está fora dessa lista.

Hoje, Dilma, Lula, Michel Temer, Valdir Raupp e outros integrantes das cúpulas dos partidos vão tentar uma pacificação.  Qualquer acordo incluirá os Estados. A Paraíba, com Vital ou com aliança, estará no pacote.

 

 

 

TORPEDO

Espero manter na essência o governo que trabalha da forma que está e cada vez melhor. Quero quem está comigo e não adianta estar sem estar.

 

Do governador Ricardo Coutinho, sobre os reflexos do rompimento do PSDB em sua base no Legislativo.

 

 

 

Atitude de Vital

Ao dizer não ao convite para o Ministério do Turismo, o senador Vital do Rêgo fez mais que recusar um cargo. Respondeu com lealdade a confiança unânime que recebeu dos deputados, quando indicado para o Ministério da Integração.

 

Reciprocidade

A vaga que foi oferecida a Vital do Rêgo tem sido da cota de indicação da bancada de 74 deputados federais do PMDB, cujo líder, Eduardo Cunha, tem confrontado o governo em defesa dos interesses do grupo. Praticou reciprocidade.

 

Saldo na imagem

Vital pode ter perdido a chance de um cargo importante, mas seu saldo é positivo: a atitude de resistir ao poder e não trair os amigos contará mais para sua imagem de político do que qualquer obra cuja paternidade viesse a assumir.

 

Valores em alta

Aliás, valores éticos também conquistaram destaque nos discursos de Ricardo Coutinho, que desde que assumiu culpa o clientelismo por muitos dos problemas do Estado. Neste final de semana, condenou a troca de votos por esmolas.

 

 

 

ZIGUE-ZAGUE

+ Segundo o presidente Ruy Carneiro, o PSDB definiu 10 sedes para a consulta sobre caminhos a seguir neste 2014, para assegurar participação de todos os filiados.

+ Como o Estado tem 223 municípios, cada local concentrará entre 20 e 25, dependendo da geografia. Todas as lideranças e filiados serão identificadas por crachás.

+ Ruy descartou cédulas de votação. Disse que os filiados poderão defender suas posições e no final a decisão sobre as teses em questão será por aclamação.

 

 

 

Só o Senado

O deputado Wilson Filho descartou categoricamente a hipótese de seu pai, o ex-senador Wilson Santiago desistir de disputar cadeira no Senado para ser vice-governador, principalmente depois de deixar o PMDB para não correr o risco de ter candidatura negada. Agora, preside o PTB, que tem bom tempo de propaganda eleitoral e estrutura no Estado, sendo a dele própria a mais significativa. “Wilson nunca colocou o seu nome para vice porque temos uma base muito grande de gestores municipais e todos defendem Wilson para o Senado Federal”, avisa o deputado.

 

 

 

PONTO FINAL

Na reunião que Lula e Dilma terão com a cúpula do PMDB, hoje, tem pelo menos um ponto inegociável: a candidatura do paraibano Lindberg Farias ao governo do Rio de Janeiro, que confronta os interesses do atual governador, Sérgio Cabral.  Para o PT, é prego batido e ponta virada.