Henrique Alves: ‘Não há clima no PMDB para rompimento com Dilma

De volta de uma viagem que fez aos Estados Unidos no feriadão do Carnaval, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, antecipará para este domingo (9) sua chegada a Brasília. Foi convocado por Michel Temer para uma conversa preparatória da reunião que o vice-presisente terá com Dilma Rousseff.

A despeito da atmosfera de crise no relacionamento do seu partido com o governo, Henrique afirma que “não há clima no PMDB para um rompimento com a presidenta Dilma.” Segundo ele, “o partido deseja majoritariamente manter a aliança” com o PT.

Não bastasse a presença de Temer na chapa, afirma Henrique, os antagonistas de Dilma não constituem alternativas capazes de estimular o PMDB a mudar de rumo a poucos meses da eleição. “Nem Aécio Neves nem Eduardo Campos adquiriram musculatura para representar candidaturas viáveis”, diz.

A despeito disso, prossegue Henrique Alves, é preciso reconhecer que há no PMDB uma grande insatisfação. “O desconforto existe, é real. Precisamos consertar. O primeiro passo é abandonar a arrogância e o emocionalismo. Do contrário, podemos perder o rumo. Lamentarei profundamente se isso acontecer.”

Henrique atribui as faíscas que afastam o PMDB do PT ao embate que as duas legendas travam para aumentar suas respectivas bancadas. “Nós queremos eleger 100 deputados. Eles falam em eleger 130. Esse movimento pela renovação das bancadas não pode envolver a presidenta Dilma.”

Para o deputado, Dilma e auxiliares como o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) “deveriam ficar acima das disputas partidárias. Até porque o governo não é apoiado apenas pelo PT, mas por um conjunto de partidos. Se isso for entendido, vai facilitar muito as coisas.”

Henrique recorda que, quando concorreu à presidência da Câmara, parte do PT ensaiou o rompimento do acordo celebrado com o PMDB. E Dilma interveio para avalizar o compromisso. “De novo, ela tem que se colocar acima de PT e PMDB. É melhor para o governo dela e fundamental para a reeleição.”

Sem mencionar o nome do presidente do PT, Rui Falcão, Henrique disse lamentar que “supostos porta-vozes da presidenta, certamente não autorizados por ela, estejam se atritando com o PMDB, provocando um emocionalismo que só prejudica.”

Nas palavras de Henrique, “o PMDB tem que ser tratado com o respeito e o carinho que merece —pela sua história e importância política.” Isso inclui a concessão de um sexto ministério à legenda. “É preciso deixar claro que esse espaço a mais não é para a Câmara. Não há a indicação de mais um deputado. Estamos apoiando o senador Vital do Rêgo para um ministério que o partido considera justo.” Qual? Cabe a Dilma determinar.

Já o vice-presidente Michel Temer vive dias crivados de ironia. Numa justaposição de extremos, ele mal chegou de uma viagem familiar ao mundo de sonhos da Disneylândia e já tem de encarar os pesadelos de uma Brasília mais convulsionada do que aquela que deixara para trás ao voar para os EUA, antes do Carnaval.

Neste domingo (9), ainda com a imagem do castelo de Branca de Neve fresca na memória, Temer vai se encontrar com Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada. Antes, receberá no vizinho Palácio do Jaburu, sua residência oficial, três correligionários do PMDB: Henrique Eduardo Alves, Renan Calheiros e Valdir Raupp, presidentes da Câmara, do Senado e do partido.

O nó a ser desatado é o mesmo: ocupante de cinco ministérios, o PMDB quer porque quer obter de Dilma uma sexta pasta. Trabalha com três hipóteses: Ciência e Tecnologia, Portos ou Desenvolvimento. O diabo é que Dilma não quer entregar nenhuma das três. Já não queria. No Carnaval, ficou querendo menos ainda.

A presidente se irritou com o comportamento do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. Em meio a uma troca de insultos com petistas, o deputado ensaiou a defesa do rompimento da aliança reeleitoral. É chantagem, disse Dilma em reunião com o alto comando de sua campanha, na Quarta-Feira de Cinzas.

Presente ao encontro, Lula avalizou a decisão da pupila de negar o sexto ministério ao PMDB. Decidiu-se isolar Eduardo Cunha. Fácil de falar. Complicado de fazer. O líder peemedebista não fala sozinho. Ele ecoa a insatisfação de boa parte dos seus liderados. E a qualificação de chantagista ateou na bancada de deputados do PMDB um sentimento de solidariedade.

Eduardo Cunha sustenta que não fez senão reagir a ataques que lhe foram dirigidos, no Sambódromo do Rio, pelo presidente do PT, Rui Falcão. Repisou o discurso do suposto desinteresse do PMDB por cargos. O que estimulou Dilma a tocar adiante seu plano de entregar o Ministério do Turismo, da cota do PMDB da Câmara, a um senador do partido: o paraibano Vital do Rêgo.

O problema é que na sexta-feira (7), ainda nos EUA, Temer consultou Vital. Que refugou o ministério. Ele já havia informado a Henrique Alves que não faria o papel de “traidor” dos correligionários da Câmara. Só admitiria sentar-se na Esplanada se o PMDB recebesse a fatídica sexta poltrona, exatamente como ficara combinado há cinco meses.

Em setembro, quando o PSB de Eduardo Campos devolveu a Dilma o cobiçado Ministério da Integração Nacional, o PMDB reivindicou o “espaço”, que já fora seu no governo Lula. Senadores e deputados da legenda uniram-se no apoio ao nome de Vital. Em conversa com Temer, Dilma pediu calma. Trataria da Integração junto com a reforma ministerial. Coisa para dezembro de 2013.

Quando dezembro chegou, Dilma informou a Temer que não seria possível entregar a Integração Nacional ao PMDB. Comprometera-se com o governador cearense Cid Gomes. Seria uma forma de premiá-lo por ter trocado o PSB pelo Pros, para manter o apoio à sua reeleição. Temer e seu grupo entenderam. Sobretudo porque Dilma deixou no ar a hipótese de compensá-los com outra pasta.

Falava-se, então, de Portos e Ciência e Tecnologia. Vital do Rêgo, que estava na geladeira desde setembro, foi ao microondas. Sobreveio fevereiro. Dilma chamou Temer, Renan e o líder do governo no Senado, Eduardo Braga. Informou-lhes que  decidira entregar ao PMDB a tão cobiçada Integração Nacional, aquela pasta que ela dizia ser impossível negociar.

Dilma impôs duas condições: o ministro teria de ser o líder do PMDB no Senado, o cearense Eunício Oliveira, não Vital do Rêgo. E o Ministério do Turismo passaria do PMDB para o PTB. Tudo isso sem a cortesia de uma consulta ao PMDB da Câmara, até então “dono” do Turismo. Quando Henrique Alves, o presidente da Câmara, chegou para a reunião, Renan e Eduardo Braga saíam da sala. O jogo estava jogado. Era pegar ou largar.

Consultado por Eduardo Braga, Eunício Oliveira largou. Farejou no convite uma manobra de Cid Gomes para retirá-lo da disputa pelo governo do Ceará. Dilma insistiria mais quatro vezes. E Eunício nem tchum. É contra esse pano de fundo que Vital do Rêgo, agora já bem passado, recusa o convite para assumir o Turismo.

Pelo menos dois dos conselheiros de Temer –Henrique Alves e Valdir Raupp— recomendam a ele que reitere na conversa que terá logo mais com Dilma o pedido do sexto ministério. Do contrário, segundo compromisso que já assumiu com os deputados, Vital não dirá “sim” a Dilma. E um pedaço do PMDB continuará de cara virada para o Planalto.