ELEIÇÃO E CORRUPÇÃO RIMAM. COM POVO NÃO RIMAM

corrupção 2

Gilvan Freire

                        Está se levantando um clima tenso neste principio de ano eleitoral. O povo sabe que tem de resolver os problemas de uma democracia ineficiente pela via do voto. É como se o regime democrático estivesse cheio de feridas e pus mas o remédio existisse dentro de si mesmo. Algo assim: a democracia pertence ao povo diretamente, e não a seus representantes eventuais. Por isso há solução quando as feridas purulentas estiverem localizadas nos representantes, e não no regime. É o caso.

De feridas em feridas, de pus em pus, de fedor em fedor, a classe política foi desmoralizando o regime e afrontando o eleitor. Os agentes políticos nem mais percebem o quanto estão cínicos – pensam que os eleitores também gostariam de ser corruptos e por isso aceitam tudo. De fato, os eleitores têm aceitado tudo passivamente. Como são dóceis perante a corrupção sem freios que assola o país!

                        O sistema de reeleição deu um baque moral na democracia. Com esses níveis de corrupção dominantes, a lei ainda tolera que um governante redispute o cargo sem se afastar dele. É um escracho incivilizado e tribal. No caso da Paraíba, em que o governante quer fazer quatro anos de governo em um, e quer ganhar a reeleição sem o padrinho que o elegeu, a corrupção, além do que já vem acontecendo, vai chegar a um patamar nunca visto antes. Há, dentro do atual governo gabirus especializados, que vêm atuando há tempos. E há bons estoques de queijo nos cofres governamentais, economizados à custa da desmobilização dos principais programas sociais existentes antes. Ou seja: à custa do agravamento da pobreza.

 

RC precisa não apenas apagar em poucos meses a imagem negativa que projetou em mais de três anos de gestão, precisa vencer a repulsa popular a seu estilo imperial e à sua anormal capacidade de gerar conflitos e crises no lugar de resolver os grandes problemas da população – saúde, educação, inclusão social e, especialmente, as questões dramáticas da seca e da segurança pública. Ficou tarde demais para resolver tudo e ainda ter de desconstruir a imagem de homem mau. É preciso ser agora um super-homem bom, coisa incompatível com a real natureza do governador.

 

Ricardo precisa de mais. Precisa vencer seu tutor  aquele a quem o povo atribui o papel de tê-lo feito governador -, ajoelhar-lhe a seus pés e bater-lhe no lombo, para que toda a Paraíba saiba e aprenda a cultuar seus dotes de domesticador de escravos rebeldes e de povo metido a besta. Mas, quem aceitou essa tirania que pague o pato.

A classe política está em estado de êxtase. O confronto de Cássio e RC gera uma abertuda de mercado financeiro em ano de eleição. Haverá oferta e procura. E preço. Mas, quem suportará esses preços da corrupção política e da promiscuidade? Será algum empresário, alguma empresa privada, algum rico excêntrico e desmiolado? Não, todo mundo sabe de onde vem esse dinheiro – vem das licitações fraudulentas, das compras e serviços contratados em grandes volumes na área da educação e saúde (que consomem quase quarenta por cento dos orçamentos públicos), e das grandes obras.

 

Os urubus estão farejando essa carniça em que os governadores transformam o Tesouro para fins de reeleição. Mas a carniça não é menor do que a degradação moral dos políticos profissionais na Paraíba e fora. Vejam entre eles como é o procedimento: se oferecem a todos ao mesmo tempo. É um leilão, uma extorsão aberta, uma feira livre. Não há fidelidade partidária, nem ética, nem identidade programática, nem princípio de nada, nem compromisso com os eleitores – esses pobres coitados que nem sabem quando estão sendo vendidos nem por quanto. E quem compra ainda corre um grande risco de ser traído. Sim, a traição faz parte – além de ser da natureza humana, ela é essencial à vida política. É oxigênio em ano eleitoral, depois e antes.

 

Mas o ambiente eleitoral está confuso. Há, no Brasil todo, uma Primavera Árabe incipiente, inquieta, se mexendo. Não estão vendo não, é? O alvo são os políticos e os governantes, não a democracia. Só os políticos não vêem. Pode sobrar para alguns. Ou, como de regra, para o povo. Mas, que está esquisito, tá!