– Caro Rubens, acredito que o caso do troca-troca de terrenos entre o Mago de Miramar e o Mago do Manaíra (Caso Mangabeira Shopping) vai continuar em pauta até o fim do recesso da Assembléia e acho que essa questão pode render ainda muito debate. Você vai voltar ao assunto?
– Claro, vou sim. Agorinha…
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– Prezado jornalista, e o caso do terreno do Geisel, que foi desapropriado por Cássio em 2005 e cinco meses depois, segundo ouvi do presidente do Creci, vendido a um particular em 72 suaves prestações? Vai ficar por isso mesmo? O Ministério Público Estadual não vai fazer nada, não vai apurar, não vai investigar?
– Faço minhas as suas perguntas, meu caro, mas acredito que o MPPB vai tomar esse pião na unha, sim, porque todos os indícios apontam para a ocorrência de uma transação irregular que foi essa venda do bem público para um privado.
– Até onde sei, aquela desapropriação foi feita com uma finalidade específica: construir um show-room da indústria paraibana, pela Cinep, vez que o imóvel foi indenizado (por R$ 2,9 milhões) com dinheiro do Fain.
– Exatamente, do Fundo de Apoio à Industrialização da Paraíba.
– Daí por que é preciso saber como foi que esse terreno foi parar no patrimônio do Atacadão. Não teria que ter um outro decreto anulando a desapropriação e revogando o decreto anterior? Nesse caso, uma vez cancelado o negócio, ao antigo proprietário não teria que ser dada a preferência de reaver o imóvel?
– Bem, amigo, justamente por conta de dúvidas assim, dessa ordem e relevância, que entendo como urgentemente necessária a intervenção do Ministério Público nessa história. O que não pode é o cidadão de bem ficar inerte, passivo, sabendo dessas coisas e assistindo a tudo isso calado, de braços cruzados. Esse troca-troca, tenha certeza, fede mais do que o mangue aterrado em Manaíra por um shopping que tem lá.
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– Rubão, escutei a entrevista de Benjamim Maranhão e Anísio Maia esta semana, no Polêmica PB (programa da Rádio Paraíba, 101.7 FM), e gostei muito da posição dos dois. Anísio é que deveria ser o candidato do PT (a prefeito da Capital). Anísio foi pra cima e tanto questionou o governo quanto o ‘bichin’ de Roberto Santiago.
– Anísio é grata e impactante revelação do nosso pobre Parlamento.
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– Caro colunista, e as mudanças no governo, hem? A que mais me impactou foi o rebaixamento de Walter Aguiar para uma subsecretaria, que vem a ser apenas um emprego para um empresário do ramo de restaurantes, como ele é. É triste ver como essa banda do PT à qual Aguiar pertence aceita esse tratamento de Ricardo Coutinho e continua numa subserviência canina, colocando até os interesses partidários estratégicos em segundo plano para defender os interesses do atual governador.
– Disseste bem: de uma banda do PT…
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– Na mensagem anterior, esqueci de dizer que a subserviência daquela banda do PT vem desde a gestão de RC na Prefeitura, quando o partido recebeu um tratamento humilhante para a dimensão que alcançou no país. Da mesma maneira que RC colocava membros do PT para representar a Prefeitura nos confrontos com os camelôs, no atual governo foi Walter Preto enviado para negociar com os estudantes do Lyceu em rebelião contra a intervenção do governo no maior e mais tradicional colégio público da Paraíba, no qual eu tive a honra de estudar. Enquanto isso, o Sub-Chefe da Casa Civil defendia o governo na imprensa e na Assembléia. E nada do que Aguiar negociou com os estudantes foi implementado porque Sua Excelência não quis.
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– Lamentável, meu Caro, realmente lamentável, principalmente o que aconteceu a Walter Aguiar, um cara inteligente, que reputo homem sério, bem intencionado, da mesma forma que vejo com preocupação o caso da Professora Rossana Honorato, que considero uma pessoa incrível, além de profissionalmente muito competente. Anteontem, pra você ter uma idéia, ouvi em uma emissora local um porta-voz oficioso do governo dizendo que o problema dela na Sudema foi ‘excesso de zelo’. O que é isso, companheiro? Temos um governo que pune auxiliares por excesso de zelo com a coisa pública? É isso? Se for, estamos pebados, completamente.
– Concordo, mas, politicamente, grave mesmo foi o tratamento dado a Walter Aguiar. Um tratamento que o desmoraliza, desmoraliza sua história e desmoraliza a banda do PT que apoiou Ricardo tão renhidamente, especialmente Luiz Couto. A este último uma pergunta se impõe: em nome de quê vale a pena tanto sacrifício, deputado?
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– Caríssimo, ao ver sua menção ao deputado Luiz Couto, lembrei artigo que o Professor Flávio Lúcio Vieira escreveu ano passado comparando Ricardo a Lampedusa e resgatei o seguinte trecho que encontrei nos meus guardados:
– Luís Couto e seu grupo não perceberam ainda que a candidatura de Ricardo Coutinho é a expressão mais legítima da máxima que Tomasi de Lampedusa imortalizou através dos seus personagens, o Príncipe de Salinas e Tancredi, seu sobrinho, em diálogo imortalizado nas páginas de O Leopardo: “Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude”. Tancredi havia aderido às tropas do republicano Giuseppi Garibaldi, que lutava pela República e pela unificação italiana, sendo, portanto, expressão de modernidade, do novo. O Príncipe de Salinas mantinha-se aferrado às tradições aristocráticas da dominação familiar. Convencido de que a mudança era inevitável, o Príncipe adere à nova ordem para mantê-la conservadora.
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– Rubens, meu dileto, todos nós sabemos que determinado candidato foi eleito com: 1) o cacife político de Cássio Cunha Lima; 2) a militância espiritual da Igreja Universal e 3) o dinheiro farto de… Pergunto: não é justo e lógico que agora os credores queiram receber com lucro o montante que investiram?
– Lógico, mas, em vez de credores, vamos chamar de ‘investidores’.
– Perfeito.
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– Rubens, meu prezado, ainda referente às dívidas da eleição daquele candidato, seria muita maldade da minha parte pensar que o dízimo ou oferta da Igreja-Universal-do-Reino-do-Deus-Edir-Macedo saiu do corte de gratificações dos servidores do Estado perfazendo uma verdadeira “fogueira santa”? Seria também muita maldade de minha parte dizer que agora só falta saber as pretensões do nosso senador eleito e o quanto isso ainda poderá nos custar.
– Pois é, estimado amigo, como diria o poeta Ataulfo Alves, frequentemente citado pelo filósofo Nonato Bandeira, “a maldade dessa gente é uma arte”.