RAZÕES DA RENÚNCIA DE JOÃO PAULO CUNHA....POR CARLOS CHAGAS

Joao-Paulo-Cunha

Diversas razões terão levado João Paulo Cunha a renunciar ao mandato de deputado. A lógica, em primeiro lugar, pois como poderia exercer suas funções estando preso?  A ética, também, tendo em vista que obrigaria seus companheiros do PT  a votar pela sua cassação ou a  desgastarem ainda mais o partido,  absolvendo-o de crimes pelos quais já se encontra na cadeia. Sem esquecer a vergonha de ostentar o título de Excelência com que seus carcereiros e os internos da Papuda  certamente utilizariam no trato com ele.

Tanto faz se convencido, pressionado ou tendo decidido sozinho, a verdade é que o ex-presidente da Câmara renunciou. Ignora-se seu relacionamento com os demais companheiros de cela, onde agora só faltam dois colchões, um para José Genoíno, outro para Roberto Jefferson, ambos em regime domiciliar por questões de saúde, à  espera da decisão do ministro  Joaquim Barbosa.

Teria o Supremo Tribunal Federal feito a justiça necessária no caso do mensalão? Há quem duvide, pois tamanha movimentação de recursos ilícitos, como ficou demonstrado no julgamento, exigiria a punição de montes de deputados supostamente beneficiados,  cujos nomes deixaram de ser investigados. Muito mais gente recebeu as mensalidades. Mesmo assim, assiste-se a episódio inédito em nossa crônica política: ex-deputados atrás das grades, todos levados a renunciar após as condenações. Alguns até pouco  de  presença fundamental na política e no governo, não apenas do PT.

Que a presidente Dilma não se tenha pronunciado a respeito, admite-se. Chefe de um poder, não poderia imiscuir-se nos negócios de outro. Estranhável, mesmo, é o silêncio do Lula.  Depois da esfarrapada versão de que tudo se resumiu a coleta de recursos para pagar despesas de  campanhas eleitorais anteriores,  o ex-presidente calou-se. Não defendeu seus antigos ministros e correligionários, pelo menos de público. Antes de entrarem na Papuda, receberam telefonemas e até visitas, mas agora, proibidas as ligações celulares, se não ignorados, são discriminados.  Devem estar meditando como são efêmeras as relações políticas. Caso volte ao palácio do Planalto, em 2018 ou repentinamente agora, caso se complique a reeleição de Dilma, teria o Lula condições e coragem para anistiar os companheiros presos? A prerrogativa é dos presidentes da República, havendo quem mantenha esperanças disso acontecer. Seria, obviamente, um escândalo, como também um ato de solidariedade. Mas não devem, os  mensaleiros presos, confiar muito nessa hipótese.