Insatisfeita com a proposta feita nesta terça-feira, 4, pela presidente Dilma Rousseff para reacomodar o PMDB na reforma ministerial, a bancada do partido na Câmara ameaça se rebelar contra o governo, criar dificuldades para o Palácio do Planalto e entregar os dois cargos que controla na Esplanada dos Ministérios.
Foi com esse objetivo que o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), convocou uma reunião de emergência com os 76 deputados federais da bancada para esta quarta-feira, às 15 horas. O motivo da revolta tem nome e sobrenome. Ao se encontrar na noite de segunda com o vice-presidente Michel Temer e com líderes do PMDB, Dilma ofereceu o Ministério da Integração Nacional para o senador Eunício Oliveira (CE). Em troca, o PMDB cederia a vaga de Turismo para Benito Gama, do PTB.
Eunício é pré-candidato do PMDB ao governo do Ceará e o convite a ele foi feito com o objetivo de tirá-lo da disputa, abrindo caminho para um acordo entre o PT e o PROS do governador Cid Gomes. O senador não aceitou a oferta. A bancada do PMDB no Senado insiste na nomeação de Vital do Rêgo (PB) para Integração Nacional, mas Dilma aposta na reforma do primeiro escalão para arrumar os palanques estaduais, facilitar as composições políticas e, ao mesmo tempo, garantir o tempo do PMDB no horário eleitoral.
Depois da tensa reunião com Dilma, no Planalto, Temer chamou os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves; e do Senado, Renan Calheiros, além de Vital do Rêgo, Eunício Oliveira, Eduardo Cunha e dos líderes do governo e do PTB no Senado, Eduardo Braga e Gim Argelo, para uma conversa reservada. O encontro ocorreu no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, e terminou às 2 horas desta terça.
Temer passou esta terça tentando acalmar os ânimos no PMDB, já que uma ala do partido ameaça não apoiar a reeleição de Dilma. Para contornar a nova crise, ele tentou marcar um almoço com Cunha e com Henrique Eduardo Alves. Cunha avisou logo cedo que não iria.
Deputados licenciados pelo PMDB, o ministro do Turismo, Gastão Vieira, e da Agricultura, Antônio Andrade, já anunciaram que deixarão os cargos até o carnaval para concorrer a mais um mandato parlamentar. O problema é que Dilma veta indicações da bancada peemedebista na Câmara para essas vagas e, ainda, quer trocar Turismo por Integração Nacional, desde que o nomeado seja Eunício, para resolver o problema de Cid Gomes.
“Estou muito feliz onde estou e vou manter minha candidatura ao governo do Ceará. Quem está na frente em todas as pesquisas, como é o meu caso, só não sai candidato se o partido não quiser. E o PMDB quer que eu seja candidato”, afirmou Eunício.
O impasse continua. Se o senador não voltar atrás em sua decisão, o Ministério da Integração Nacional ficará sob controle do PROS, de Cid Gomes. “O clima é tenso e vamos tomar uma posição amanhã, às 15 horas. A bancada do PMDB na Câmara tem de ser tratada como foi até hoje. Se for tratada fora desse processo, entregará os cargos”, disse Cunha, nesta terça.
O PMDB quer ampliar o seu espaço na Esplanada de cinco para seis ministérios, mas até agora não recebeu oferta nesse sentido. Caso não consiga Integração Nacional — objeto do desejo de Vital do Rêgo –, o partido está de olho na Secretaria dos Portos — hoje também com o grupo de Cid Gomes — e no Ministério da Ciência e Tecnologia.
Estadão