RAONI E O “TIRO NO PÉ” - Por Paulo Santos

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O vereador pessoense Raoni Mendes sempre se apresentou como um parlamentar moderado, aparentando não ser temperamental nem entusiasta da pirotecnia. Essas características do seu perfil são perfeitamente compreensíveis, pois dizem que “filho de peixe, peixinho é”.
O pai, Onaldo, e a mãe, Nara, são pessoas de fino trato. Além disso, tem formação católica que lhe que chega à condição de ter o arcebispo Dom Aldo Pagotto quase como um “cabo eleitoral” nas suas campanhas. Isso tudo, porém, não o impediu de tomar duas decisões radicais nos últimos tempos.
A primeira quando se rebelou contra a camisa de força que o PDT tentou impor aos seus filiados de João Pessoa nas eleições municipais do ano passado e quis obriga-los, quase à força, a votarem na candidata do governador Ricardo Coutinho, Estelizabel Bezerra (PSB). Raoni votou em Cartaxo e, pela vitória do petista para a Prefeitura, mostrou que tomara a decisão acertada.
Naquela oportunidade, contudo, Raoni não estava sozinho. Foi acompanhado, na decisão, pelo então colega de Parlamento Geraldo Amorim, que postulava uma oportunidade de disputar o Paço Municipal. Também frustrado, foi engrossar as fileiras de Cartaxo, saiu vitorioso e hoje comanda a Secretaria Municipal de Segurança.
O segundo entrevero de Raoni, nessa fase política da Capital, foi por causa da lei do IPTU Proporcional, que entraria em virgo neste ano, mas foi derrubada pelo prefeito Luciano Cartaxo numa manobra que deixou o vereador indignado e, agora, o expõe ao rompimento político com o esquema oficial, indo engordar as hostes da oposição.
Pode ser cedo para avaliar a decisão de Raoni, mas o rompimento pode resultar num “tiro no pé”. O prefeito Luciano Cartaxo, mesmo com essa defecção, continuará com folgada maioria na Câmara Municipal de João Pessoa e, além disso, dividir com outros vereadores as benesses com que aquinhoava Mendes.
Não que a condição de neo-oposicionista não possa caber no perfil de Raoni. Ao contrário, pode continuar exercendo o mandato com a mesma dignidade, mas é certo que seus planos futuros poderão ser prejudicados. Um deles: a tentativa de chegar à Assembleia Legislativa nas eleições de outubro.
Ao abrir uma frente de conflito com o Prefeito da Capital, Raoni deve ter pesado e medido todas as consequências desse ato. O processo evolutivo da crise criada com o episódio acaba sendo ruim para os dois lados, mas pode ser pior para o vereador em face da desproporcionalidade das estruturas.
O rompimento de Raoni abala consideravelmente a imagem de conciliador do prefeito Luciano Cartaxo, que se diz afeito ao diálogo, mas não soube estancar a sangria desatada de insatisfação do vereador. Este, por sua vez, pode amargar sérios prejuízos imediatos e futuros em favor das suas ações.