Acho que fui um desses jovens do “rolezinho”. Na minha escola em Guaianases, extremo da zona leste de São Paulo, passávamos horas infinitas discutindo quem tinha o boné mais legal, o tênis mais bonito ou com o maior número de molas. Nunca chegamos a nenhuma conclusão.
Fui, em 2005 e 2006, a diversos “rolezinhos”, que não tinham esse nome, rede social, crítica ou apoio. Também não tinha shopping, porque na minha região não havia. Agora tem: o de Itaquera.
O “rolezinho” era invisível e geralmente acontecia numa praça do bairro ou num posto de gasolina. No fundo, queríamos era “pegar alguém”. Acho que isso não mudou.
Antes usávamos boné da Nike; agora o pessoal usa o da John John, que nem deve saber que seu produto é um fenômeno dos extremos.
Sempre houve, sim, certo preconceito de quem analisava de fora: que pobre não tem o direito de desejar esses produtos caros só porque é pobre. Que pobre deve se contentar com o Lojão do Brás e se preocupar com outras coisas.
Quem pensa assim, geralmente, diz: “Veja que absurdo, é pedreiro e tem um tênis de R$ 700. Deveria investir em livros”. E daí? O dinheiro não é da pessoa que o ganha?
Por outro lado, hoje, com o “rolezinho” pop, existe o “coitadismo”, que tenta vitimar demais o morador da periferia muitas vezes para justificar algumas causas.
“Esses meninos são vítimas do império do consumo, etc…” Tá, e quem não é? Não estamos todos navegando nesta canoa furada?
OPÇÕES DE LAZER
Outro erro é dizer que existe o “rolezinho” porque faltam opções de lazer. Faltam mesmo, sempre faltaram! Ou alguém gosta de se divertir em um posto de gasolina?
Mas o “rolezinho” existiria mesmo que, nos bairros afastados, houvesse centenas de parques ao lado dos córregos, museus e pistas de skate.
Os “rolezinhos” estão aí porque são divertidos, ao menos para quem participa.
Todo jovem -de qualquer classe social- gosta de “rolezinho”, de beijar na boca, dançar, cantar.
O pior, penso, é que a periferia virou causa e alvo de críticas sem antes ser ouvida.
Teorizaram e politizaram atitudes que têm nuances muito mais difíceis de serem percebidas.
LEANDRO MACHADO é repórter da Folha e um dos editores do blog Mural