Não, não vou cuidar hoje da famosa troca de terrenos. A história é outra. Seguinte: corremos o risco de ainda esta semana assistir a uma temerária mudança de comando na Superintendência Federal da Agricultura na Paraíba.
Por obra e arte de uma indicação política da pior qualidade, dessas que têm como critério exclusivo o interesse pessoal e familiar de quem indica, a SFA-PB pode deixar de ser dirigida por um de seus técnicos mais competentes para cair nas mãos do jovem filho de um deputado federal.
O jovem vem a ser Bruno Roberto, filho de Wellington Roberto (PR), que estaria empenhadíssimo junto aos altos escalões da República para dar de presente ao seu rebento um dos cargos federais de maior importância para o nosso Estado.
Não haveria problema algum nessa indicação se o indicado fosse alguém dotado de conhecimento técnico-científico mínimo em agropecuária ou, pelo menos, com experiência de gestão pública bem referenciada nessa área. Mas esse, definitivamente, não é o caso – muito menos o perfil – do filho do parlamentar.
Pelo que é de domínio público, a experiência do rapaz resume-se a uma passagem, por um período de cinco meses e pouco, pelo cargo de secretário da Agricultura e Pecuária do Estado no Maranhão III. E, segundo informações e depoimentos de quem é do ramo, de quem entende o assunto, fontes às quais dou crédito, a gestão do secretário Bruno Roberto foi um desastre cavalar.
Pra vocês terem uma idéia, ele teria protagonizado um incidente tragicômico durante reunião com pecuaristas e técnicos da Secretaria e do próprio Ministério da Agricultura para debater estratégias e rumos para a vacinação contra a febre aftosa na Paraíba.
Pois bem, depois de ouvir sugestões e ponderações de vários dos presentes à reunião, o secretário finalmente abriu a boca para se manifestar e nessa manifestação recomendou que se estendesse a vacinação ao nosso ‘rebanho equino’.
A incredulidade dos participantes diante do que acabavam de ouvir foi tamanha que a maioria se levantou e abandonou o encontro, em protesto.
Compreensível. Afinal, dificilmente alguém ali esperava que um secretário de Estado da Agricultura e Pecuária não soubesse que febre aftosa pode dar em tudo quanto é boi, bode e até porco, mas não dá de jeito algum em cavalos ou burros, além de raramente, excepcionalmente, acometer outros bichos. O bicho homem, por exemplo.
E é porque o rapaz assumiu a pasta, no dia 8 de julho do ano passado, anunciando que uma de suas prioridades seria, justamente, reforçar a vacinação contra a febre aftosa. Tanto que disse à imprensa, em matéria publicada no dia anterior à posse, que tinha como meta “aumentar a abrangência da vacinação do rebanho na Paraíba”.
Bem, já que ele falou em “aumentar a abrangência da vacinação”, vai ver foi isso…
Pode parecer piada, mas não foi. Aquele episódio expôs, simbólica e lamentavelmente, todo o despreparo do então secretário, embora o estrago decorrente não tenha se limitado à figura do Doutor Bruno Roberto.
A gafe do secretário mostrou o quanto uma indicação meramente política para um cargo técnico e estratégico como o de Secretário da Agricultura é capaz de prejudicar o interesse coletivo e toda uma população que precisa e merece ter dos governos uma condução competente em áreas vitais para o desenvolvimento do Estado.
Entidades repudiam
Por essa e outras, a Faepa – Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba, já pressentindo o perigo e sabendo das articulações de bastidores do deputado Wellington Roberto, divulgou desde 4 de março deste ano uma nota em que deixou bastante clara a sua apreensão quanto à possível indicação e conseqüente nomeação de Bruno Roberto para o cargo de Superintendente Federal da Agricultura na Paraíba.
“A notícia deixou a direção da Faepa perplexa, visto que o jovem demonstrou total despreparo quando ocupou a cadeira de titular da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Sedap), no governo passado”, disse a entidade, acrescentando:
– O jovem Bruno Roberto assumiu como Secretário em julho de 2011 e nos seus seis meses de mandato a Sedap ficou como um barco a deriva. Nesse período, ele sequer fez uma visita ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) nem a muitas outras organizações do setor agropecuário.
Naquela oportunidade, o presidente da Federação, Mário Borba, falou com todas as letras que Bruno não tinha a menor condição para assumir o cargo e deplorou ver “cargos técnicos serem novamente leiloados na política paraibana, promovendo escândalo e grande indignação”.
E completou, sem peias nem rédeas na língua: “É uma falta de respeito com a sociedade, especialmente a classe produtora rural, além de demonstrar total falta de compromisso com o desenvolvimento do Estado”.
As palavras de Borba não refletiam tão somente uma opinião pessoal ou a posição da Faepa, isoladamente. Esse posicionamento, pelo que vi e li, é o mesmo de entidades como Fetag, Senar-PB, Asplan, Organização das Cooperativas do Brasil na Paraíba, Sindicato dos Fruticultores, dos Produtores de Leite, dos Produtores de Açúcar, de Álcool e, seguramente, de todo o corpo técnico da SFA-PB.
Todos esses defendem veementemente a permanência no cargo do atual superintendente, Hermes Ferreira Barbosa, e disso já cientificaram o Ministério da Agricultura. Wellington Roberto bem poderia associar-se a essa reivindicação, abraçar essa causa e, numa demonstração de elevado espírito público, fazer coro com as entidades junto ao Palácio do Planalto.
Desse modo, não apenas ganharia o reconhecimento como o agradecimento de todos que sabem ou compreendem que não pode ser submetida a uma vontade pessoal ou a um interesse menor uma função como aquela – fundamental para a defesa agropecuária e zelo pela saúde animal e sanidade vegetal, serviços de extrema utilidade para a saúde de todos nós cidadãos, particularmente quando nos encontramos no papel de consumidores.
O melhor que o deputado tem a fazer é, portanto, procurar outra ocupação para o seu menino. Até por amor paterno, para poupar o filhão de novos vexames. Além do mais, com o talento e a disposição que tem para negociar, não vai ser difícil arranjar no governo um emprego mais adequado às aptidões de Bruno Roberto.
Isso, sem descartar a alternativa de deixar essa história de ‘pegar uma boquinha’ na administração pública, que os dois não precisam disso, e passar a investir mais pesado na carreira política do rapaz, já que o nome de Bruno aparece como um dos postulantes à Prefeitura de Campina Grande.