Em mais uma tentativa de se contrapor ao PSDB, o governo Dilma saiu em defesa dos jovens que promovem “rolezinhos” nos shoppings e tentou acusar os adversário de fazer discriminação social. Na avaliação do Palácio do Planalto, o apoio à manifestação não apenas serve de antídoto a possíveis atos de vandalismo como ajuda a aproximar a presidente Dilma Rousseff de jovens da periferia, nas redes sociais, neste ano de eleições.
Responsável pelo diálogo com os movimentos sociais, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, criticou a repressão policial aos “rolezinhos” em São Paulo e a concessão de medidas liminares, por parte da Justiça, a lojistas de shoppings, receosos com o movimento dos jovens da periferia.
Gasolina no fogo. “Mais uma vez, a ação inadequada da polícia acabou botando gasolina no fogo”, afirmou Carvalho, que esteve nesta quinta-feira, 16, no Recife, onde participou de dois encontros com jovens de Pastorais da Juventude da Igreja Católica. “Eu não tenho dúvida de que a concessão dessas liminares (para proteger os shoppings contra os rolezinhos) também é um erro. Para mim é, no mínimo, inconstitucional.” O ministro disse que “os conservadores deste País” devem se conformar que os direitos vieram para todos. “Qual o critério que você vai selecionar uma pessoa da outra? É a cor, é o tipo de roupa que veste? Tudo isso implica preconceito, no prejulgamento de uma pessoa e fere a Constituição”, insistiu Carvalho.
Para a chefe da Secretaria da Igualdade Racial, Luiza Bairros, declarações como as do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que chamou os manifestantes de “cavalões”, podem acirrar os ânimos. Para ela, a intenção dos jovens da periferia é totalmente pacífica, mas a reação “preconceituosa” das pessoas brancas tende a causar problemas.
Na terça-feira, Dilma chamou ao Palácio do Alvorada os ministros Carvalho, Luiza Bairros, José Eduardo Cardozo (Justiça) e Marta Suplicy (Cultura). “Ela nos alertou a ter cuidado ao tratar do assunto”, contou o secretário-geral da Presidência. “Não dá para embarcar nessa história de repressão.”
A ordem do Planalto é para tratar o assunto com naturalidade e, sempre que possível, criticar a posição de parlamentares do PSDB e do governador Geraldo Alckmin, candidato ao segundo mandato. É em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, que o PT vai disputar com Alckmin a agenda da segurança.
Dilma, porém, não quer que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo – em férias a partir desta sexta-feira, 17, – entre nesse tema. Motivo: o Planalto fará de tudo para não passar a impressão de que a presidente está preocupada com depredações e com mais uma crise de segurança, em uma reedição dos protestos de junho.
Monitoramento. Na prática, a orientação do Planalto é apenas para que ministros monitorem atentamente os “rolezinhos”, principalmente na internet, com o objetivo de evitar que as manifestações sejam apropriadas por vândalos e black blocs. “A gente tem de ter a humildade de observar primeiro, de acompanhar e procurar entender mais profundamente do que se trata”, disse Carvalho. “Todos nós precisamos ter cuidado para não querer dar uma de sábios.”
Estadão