
O processo sucessório à direção nacional do Partido dos Trabalhadores esquentou no último mês com a renúncia de Gleisi Hoffmann à presidência para assumir como ministra das Relações Institucionais. O partido é presidido interinamente pelo senador Humberto Costa (PE) e a disputa, marcada para o dia seis de julho, promete ser uma das mais acirradas da história recente da agremiação. Cinco nomes já anunciaram que vão concorrer, representando diferentes correntes e visões estratégicas sobre o futuro da sigla. Estão no páreo: Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, Romênio Pereira, do Movimento PT, Rui Falcão, do Novo Rumo, Washington Quaquá, CNB dissidente e Edinho Silva – CNB – Construindo um novo Brasil, este último considerado o preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo reportagem do “Congresso em Foco”, a candidatura de Edinho tornou-se alvo de petistas que defendem um discurso de maior combatividade ao bolsonarismo e uma maior reaproximação dos quadros do partido com as bases históricas do PT. Ex-prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Dilma Rousseff, Edinho Silva é tido como favorito da cúpula e conta com o apoio informal de Lula, embora esse apoio tenha gerado divisões internas na própria CNB, a maior e mais influente corrente do partido. Edinho tem viajado pelo país em campanha, o que motivou questionamentos públicos sobre o financiamento dessas atividades, como os feitos por Valter Pomar. Mesmo dentro da CNB, há resistências à sua candidatura, como foi revelado em um encontro com Lula e Gleisi Hoffmann. A estratégia de Edinho parece ser a de atrair o apoio de setores mais ao centro do partido para garantir uma vitória já no primeiro turno. Este terceiro mandato de Lula tem sido praticamente refém dos votos de partidos do Centrão, que detêm a maioria na Câmara dos Deputados.
Os críticos da candidatura de Edinho alegam que ele é moderado demais. Em entrevista à revista “Veja” no ano passado, Edinho disse que o PT precisa ser mais humilde e defendeu que o partido trabalhe contra a polarização política com os bolsonaristas. No reverso da medalha, os apoiadores do ex-prefeito ressaltam que ele é um político com boa capacidade de diálogo, além das fronteiras do PT, mantendo interlocução com empresários e demonstrando habilidade para articular alianças visando as próximas eleições. Romênio Pereira, atual secretário de Relações Internacionais do PT, é um dos fundadores da legenda. Com trajetória firmada no movimento sindical, tem atuado nos bastidores da política externa petista e busca imprimir à sua candidatura um perfil conciliador e institucional. Rui Falcão foi presidente nacional do PT entre 2011 e 2017 e é atual deputado federal por São Paulo. Voltou à cena com o apoio de parte da corrente Novo Rumo, embora nem todos os seus integrantes estejam unificados em torno de seu nome. Falcão também conquistou adesões de outras correntes de esquerda, como O Trabalho, Militância Socialista e Democracia Socialista.
O historiador e dirigente nacional do PT Valter Pomar registrou sua candidatura pela corrente Articulação de Esquerda, defendendo um projeto socialista e militante para o partido. Ele fez duras críticas ao processo interno de eleição que, segundo afirma, sofre com baixa participação e fraudes. Sua candidatura propõe uma descentralização interna, maior atuação de base e alinhamento com reformas estruturais para uma transformação radical da sociedade brasileira. Pomar considera que o PT deve ser um instrumento real da classe trabalhadora e não poupa críticas ao que vê como distanciamento do partido em relação às suas origens populares. Entre os desafios que aponta para a nova direção estão a mobilização social, o enfrentamento ao neofascismo, mudança na política econômica e protagonismo em eventos internacionais como a COP30. Romênio já ocupou os cargos de vice-presidente, secretário-geral, secretário de Assuntos Institucionais e secretário de Organização do PT. Nos últimos anos, tem se dedicado a representar o partido em agendas internacionais relevantes, fortalecendo o diálogo com partidos de esquerda da América Latina, Europa e Ásia.
Washington Quaquá, candidato da CNB dissidente, é prefeito de Maricá (RJ) pela terceira vez e rompeu com o consenso interno da corrente majoritária Construindo um novo Brasil ao lançar-se contra Edinho Silva. Vice-presidente do PT, Quaquá critica o favoritismo construído em torno de Edinho e questiona se há, de fato, um apoio consolidado de Lula ao ex-prefeito de Araraquara. Quaquá renunciou ao mandato de deputado federal para assumir a prefeitura de Maricá este ano e é conhecido por posições polêmicas, como a defesa que fez do deputado Chiquinho Brazão (RJ), preso há um ano como mandante do assassinato da vereadora MarielleFranco. O resultado da disputa pelo comando do PT nacional será importante para redefinir os rumos da agremiação, que se prepara para o ocaso de Lula, ainda que seja reeleito para mais um mandato na Presidência da República.