PARAHYBA E SUAS HISTÓRIAS: Cordão Encarnado, um refúgio da memória pessoense - Por Sérgio Botelho

Há um bairro em pleno Centro Histórico de João Pessoa que é um verdadeiro refúgio da memória pessoense. Trata-se do Cordão Encarnado, que existe mais marcadamente entre as ruas Rodrigues Chaves (a Leste) e São Miguel (a Oeste) e as ruas Nino Lima (ao Sul) e Índio Piragibe (ao Norte), sendo esta sua via de maior extensão atualmente.
O bairro se estende do plano superior ao inferior da urbe pessoense, da Cidade Alta ao Varadouro. Na parte de cima, a principal referência, pela proximidade, é a Praça Venâncio Neiva (Pavilhão do Chá) e, na de baixo, o Cemitério Senhor da Boa Sentença. Cordão Encarnado, antagonista do Cordão Azul, tem a ver com o tradicional folguedo da Lapinha de Natal e Reis que, por sinal, já foram de grande popularidade na João Pessoa de outros tempos, destacadamente naquele local da urbe, com histórias para contar.
Buscando mais informações sobre a origem do nome do bairro, li um anúncio em A União, do ano de 1936, sobre uma casa à venda na rua Martim Leitão, e a devida referência: “antiga Cordão Encarnado”. Procurei saber mais e confirmei que Cordão Encarnado era mesmo o nome antigo da referida via, até início do Século XX. Por perto existia também a Rua do Cordão Azul, ainda citada até a década de 1930, como tal, mas cujo destino, enquanto denominação, não consegui encontrar.
O trabalho me foi facilitado porque nas primeiras décadas do Século XX, A União costumava divulgar listas dos moradores de cada uma das ruas de João Pessoa e da Vila de Cabedelo, com valores devidos à Recebedoria de Rendas. As quantias eram referentes à “décima urbana”, o que hoje conhecemos como Imposto Predial e Territorial Urbano. As listas continham os nomes de proprietários ou inquilinos, rua a rua, casa a casa.
Portanto, a inspiração inicial do nosso Cordão Encarnado tem mesmo a ver com a Lapinha, já que possuía ruas com os nomes das duas alas do folguedo. A do Cordão Encarnado, a Martim Leitão, era a maior referência local, o que pode ser comprovado pela lista de moradores da Recebedoria de Rendas, bem mais extensa que a do Cordão Azul. E, dessa forma, naturalmente, acabou se estendendo para a denominação de todo o bairro.
O bairro foi inicialmente ocupado por pessoas de baixa renda, mas foi mudando de perfil social e econômico, ao longo do tempo, acompanhando o crescimento da cidade, e hoje é local de classe média. Um dos destaques históricos do Cordão Encarnado fica por conta da presença, na Rua Índio Piragibe, dos seguidores da Doutrina Espírita, codificada pelo francês Allan Kardec, expressa fisicamente pela tradicional Casa da Vovozinha.

Na foto, a rua Índio Piragibe, a partir da rua São Miguel.

Sérgio Botelho

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.