
Já falamos nessa série em dois presidentes da República que chegaram a estabelecer residência na cidade da Parahyba (atual João Pessoa) antes de assumirem o cargo máximo da administração pública brasileira: Floriano Peixoto e Café Filho. Peixoto, morou na cidade ainda na época do Império, e Café Filho, no período imediatamente anterior à deflagração da Revolução de 1930.
Outro futuro presidente que residiu na capital paraibana, bem antes de assumir o cargo, como quarto indicado pela ditadura militar a presidir o país e o regime, foi o gaúcho Ernesto Geisel (que deu início ao processo de abertura política, mas que, segundo a CIA, teria autorizado a execução de adversários do regime já presos). Ele viveu em João Pessoa no período posterior à Revolução de 1930 – da qual fez parte, ainda enquanto tenente do Exército -, ocupando a Secretaria da Fazenda e Obras Públicas durante a interventoria Gratuliano de Brito.
Segundo o Atlas Histórico do Brasil, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas, o período em que Geisel esteve à frente dos negócios das finanças e das obras públicas da Paraíba aconteceu em dois espaços de tempo: de janeiro a maio de 1934, e de agosto do mesmo ano a janeiro de 1935.
Geisel, segundo a Cpdoc/FGV, antes de assumir o cargo na Paraíba, “entre março e junho de 1931, ficou à disposição do interventor federal do Rio Grande do Norte, primeiro-tenente Aluísio de Andrade Moura, sendo nomeado secretário-geral do governo estadual e chefe do Departamento de Segurança Pública”. Pelo que parece, era um jovem militar gaúcho destacado para missões do governo Getúlio Vargas, e da Revolução de 1930, junto a interventorias estaduais.
No entanto, sobre o período em que assumiu o cargo na Paraíba, há um equívoco na informação da FGV. Isso porque, em 18 de julho de 1933, o jornal A União reproduzia em letras garrafais, na capa, um telegrama de Geisel, direto do Rio: “Interventor Gratuliano de Brito-Foi aberto o crédito para o pagamento das contas atrasadas da Inspetoria das Obras Conta as Secas, no total de trinta mil contos. Abraços, Ernesto Geisel”.
As manchetes e submanchetes do jornal terminavam por explicar o telegrama: “Interesses financeiros do estado. A Parahyba acaba de resgatar o seu compromisso com a empresa “Geobra”, constructora do Porto de Cabedello”. “O tenente Ernesto Geisel, secretário da Fazenda, continua trabalhando no Rio em defesa dos problemas mais urgentes do Estado”. Portanto, em julho de 1933 Geisel já exercia o cargo na Paraíba, há meses.
Isso porque, no corpo da matéria, tem a seguinte informação: “Trabalhando, mezes a fio, no empenho de conseguir o equilibrio das finanças do Estado, o tenente Ernesto Geisel assignalou, com exito magnifico, a sua operosidade e dedicação pela Parahyba”. Sem faltar, lógico, os devidos créditos políticos: “Cumpre salientar a assistencia moral que nunca faltou, de parte do ministro José Americo, a todos os passos dados pelo sr. Interventor Federal e pelo tenente Ernesto Geisel, a fim de conseguir resolver a liquidação das operações referentes à taxa ouro.”
Ficava, assim, devidamente explicado o sucesso do governo paraibano em acertar suas finanças, diante do esforço do então ministro da Viação e Obras Públicas, do governo Getúlio, o paraibano José Américo, um dos próceres da Revolução de 1930. Registre-se que a única foto a ilustrar a referida primeira página de A União era a de José Américo.

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.