
Paraíba - O professor Dr. Pablo Riul, do Laboratório de Biodiversidade e Ecologia Integrativa, vinculado ao Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), participou de uma expedição científica internacional realizada entre os dias 2 e 7 de abril.
Roteiro da Expedição
A equipe de cientistas partiu da cidade de Punta Arenas, no Chile, a bordo do navio OPV-83 Marinero Fuentealba, da Marinha Chilena, sob o comando do oficial José Andrés Sandino De Ruyt. O trajeto seguiu rumo ao sul, contornando o Cabo Froward, ponto mais austral da massa continental da América do Sul e, em seguida, a embarcação navegou para o noroeste pelas passagens Froward e Largo, alcançando o arquipélago das Ilhas Evangelistas, localizadas na saída ocidental do Estreito de Magalhães, no Oceano Pacífico.
Posteriormente, a expedição prosseguiu para o leste pelo Canal Beagle, até a cidade de Puerto Williams. De lá, o grupo partiu rumo ao sul em direção ao arquipélago de Cabo de Hornos, navegando na Passagem de Drake e alcançando o remoto arquipélago das Ilhas Diego Ramírez, onde se encontra o ponto mais austral da América do Sul.
Projeto de Cooperação Científica
A iniciativa, entre outras atualmente em desenvolvimento, integra um projeto de colaboração científica internacional entre o professor brasileiro e os colegas chilenos, com apoio do CNPq (Brasil) e FONDECYT (Chile). A coordenação no Chile é do professor Dr. Andrés Mansilla, do Laboratório de Ecossistemas Marinhos e Subantárticos da Universidad de Magallanes, em Punta Arenas. Ele também lidera a sublinha de pesquisa em Ambientes Costeiro-Marinhos do programa Sentinelas das Mudanças Climáticas, vinculado ao Centro Internacional Cabo de Hornos para Estudos de Mudança Global e Conservação Biocultural de Puerto Williams, um centro de excelência dedicado à conservação biocultural subantártica, com financiamento da ANID (Chile).
Objetivos da Missão
O objetivo principal da missão foi investigar a biodiversidade de algas e invertebrados marinhos em regiões remotas do ambiente subantártico chileno, contribuindo para o avanço do conhecimento científico sobre ecossistemas ainda pouco explorados.
Foco nas Florestas Submarinas de Algas Gigantes
Um dos focos específicos da colaboração é o mapeamento dos bosques de “Huiros”, nome local dado à espécie Macrocystis pyrifera, uma alga gigante que pode ultrapassar 45 metros de comprimento, formando extensas florestas subaquáticas em ambientes marinhos costeiros de zonas temperadas, como os da região subantártica chilena.
Essas algas são capazes de modificar profundamente o ambiente em que vivem, influenciando fatores como a quantidade de luz que chega ao fundo do mar, a intensidade das correntes e ondulações, e até a composição química da água. Isso permite a formação de habitats que sustentam uma rica biodiversidade de espécies de micro e macroalgas, invertebrados e vertebrados marinhos.
A Macrocystis pyrifera também se destaca por sua importância econômica. Rica em alginatos — compostos naturais utilizados como espessantes e estabilizantes —, ela é amplamente empregada nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. Seu rápido crescimento e alta produtividade despertam interesse crescente na produção de biocombustíveis sustentáveis, tornando a espécie uma aliada estratégica na transição energética. Além disso, sua exploração controlada contribui para a economia local, especialmente por meio da aquicultura e da geração de novos produtos biotecnológicos, reforçando o valor do uso sustentável dos recursos marinhos.
Mergulho Inédito
Durante a missão, o professor Pablo Riul teve a oportunidade única de realizar um mergulho na Isla Gonzalo, no arquipélago das Ilhas Diego Ramírez — um feito inédito para um pesquisador brasileiro — tornando-se uma das poucas pessoas no mundo a explorar esse ambiente submerso extremo.
Metodologia e Ferramentas Utilizadas
A pesquisa do professor Pablo Riul integra dados coletados em campo, como os obtidos durante essa expedição, imagens de satélite e parâmetros ambientais da água, como temperatura, salinidade, luminosidade, velocidade e direção das correntes marinhas, além do uso de ferramentas de modelagem ecológica para criar estimativas da área de ocorrência, da biomassa e do estoque de carbono das florestas de Macrocystis em toda a região subantártica chilena.
Impacto e Importância da Pesquisa
Essas informações são fundamentais para a criação de estratégias de conservação marinha voltadas à proteção da biodiversidade e à gestão sustentável dos ecossistemas costeiros. Elas também fornecem subsídios essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes capazes de mitigar os impactos das mudanças climáticas globais, promover a resiliência ambiental e garantir o equilíbrio dos serviços ecossistêmicos marinhos para as gerações futuras.