Gilvan Freire
Desde aquele dia em que Ricardo completou mais de 50 anos sem nunca dizer quantos anos efetivamente tem (para não passar a ideia de que não é mais tão jovem quanto gostaria de ser), não se fala mais em nada na Paraíba senão em duas coisas: primeiro, os discursos dele e de Cássio, cada um medindo as palavras para não se prestarem a sentidos não pensados; e, segundo, as bravatas ferozes do governador dizendo que ia usar a vara contra os adversários.
Antes disso, porém, houve uma expectativa grande sobre Cássio ir ou não ir à festança de gosto oficial, pois disso dependia a imaginação do povo na busca de palavras que pudessem decifrar o enigma existente na relação entre os dois e o futuro de ambos. É natural que houvesse tanta curiosidade porque, a depender do que eles vêm dizendo nesses últimos tempos, ninguém pode ter certeza de nada. E quanto mais são exigidos pelos jornalistas e por setores ponderáveis da opinião pública e do eleitorado, mas eles disfarçam. Disfarçam tão bem que há quem pense que se houver no Estado alguém enganado sobre o destino dos dois, será, mais tarde, pelo menos um deles.
De fato, de tanto se esconderem do povo em relação ao que efetivamente pensam um do outro, Cássio e RC correm o risco não apenas de frustrarem, mas de chocarem e ferirem quase a população inteira da Paraíba, que, aos poucos, nos anos recentes, vem sendo politizada de mais por causa de desavenças acirradas entre líderes locais. Mas vai chegar a um ponto em que ou o povo confirmará suas suspeitas de que RC e Cássio não se gostam nem se confiam mas fazem cenas de enganação, ou então eles se entenderão a qualquer custo e circunstâncias, e o povo pagará o preço de haver tido “suspeitas infundadas” e de ser incapaz de entender a falsidade e a simulação dos políticos e seus malabarismos profissionais.
Na festa de aniversário de RC, onde foi armado pela primeira vez um palco da reeleição para tirar retratos do suposto líder popular e seus súditos comissionados do governo, ao lado do povo regiamente conduzido ao local através de ônibus contratados, houve o encontro mais emblemático entre as esfinges misteriosas. Ir ou não ir, foi o maior dilema de Cássio, que poderia mandar uma mensagem canchuda, com palavras de vários sentidos para que nenhuma valesse muito, com a mesma insinceridade que estão habituados a ter um com o outro. Mas não ir, sim, poderia carregar o sentido de uma desatenção máxima, um sinal cabal de desfeita e inicio da ruptura que só virá depois. Só por isso ele foi, afora ter pensado que lá estaria Wilson Santiago, querendo que ele se afaste um centímetro para poder entrar alguns metros. Mesmo indo, Cássio nem disse e nem ouviu nada de especial, como se o palco estivesse armado para gerar imagens psicodélicas e uma ilusão de ótica.
Fora do palco, cuja atração foi o ato teatral que não se exibiu conforme o esperado, RC pregou uma bravata dos tempos do cangaço, que o Deputado Ricardo Marcelo atribuiu a um fantasma dos coronéis antigos, garantindo que seus adversários serão enfrentados a vara. Esse recado vale tanto para os adversários hipotéticos quanto para o mais provável deles, Cássio, para quem RC não teve palavras afetivas mas apenas a lembrança de um cipó que não poupará lombos, a não ser dos próximos aliados (que só serão chicoteados depois). Como tem acontecido. Mas, até agora, a vara de RC sozinha só tem batido nas costas dos desprotegidos, servidor público, pobres e gente muito pequena, ninguém do tamanho dele ou maior do que ele. Tá na hora de testar. Mas, de qualquer forma, para quem tem vara mole, o melhor mesmo é proteger o próprio lombo.