DIANTE DA CONSPIRAÇÃO DOS PODEROSOS
Carlos Chagas
Não houve desmentido para a informação aqui divulgada ontem, de que Joaquim Barbosa pedirá aposentadoria antes de Ricardo Lewandowski sucedê-lo na presidência do Supremo Tribunal Federal, ano que vem. Menos pela dificuldade de convivência com seu desafeto, mais por estar certo de que em seguida serão abertos processos de revisão das penas dos mensaleiros, com ampla chance de sucesso, o ainda presidente da mais alta corte nacional de Justiça prepara-se para cair fora.
Ainda teria dez anos de permanência no Supremo, mas prefere não ser voto vencido no desmonte da obra a que se dedicou por muitos anos, de demonstrar o fim da impunidade para criminosos politicamente influentes ou ricos. Conseguiu a condenação de 24 dos implicados no maior escândalo político dos últimos tempos, comandando a prisão da maioria, mas na presunção de rápida liberdade para muitos dos criminosos, não vê outra saída senão aposentar-se.
Joaquim Barbosa interpreta a hipótese da revisão das penas como uma conspiração urdida entre advogados regiamente pagos e de muita influência no país, mais a ação do PT, além da simpatia de ministros do Supremo. Uma frente ampla de peso, capaz de desfazer o esforço que o país inteiro aplaudiu quando anunciadas as condenações.
Caso não mudem os ventos, é assim que as coisas estão, abrindo-se a dúvida a respeito do futuro do presidente do Supremo. Dificilmente se candidataria às eleições de outubro, mesmo diante de múltiplas ilações a respeito de poder disputar a presidência da República? Abriria banca de advogado, ele que jamais advogou, oriundo do Ministério Público em sua carreira jurídica?
Quem quiser que opine, ou melhor, que pergunte a ele, ainda que por enquanto com poucas chances de obter resposta. Ignora-se, até mesmo, se entrará no período de férias, em janeiro. Não deverá ir para Miami, precisa cuidar da mãe, já em fase de recuperação depois de grave problema de saúde.
AUDÁCIA CAUTELOSA
Entre 10 e 12 de dezembro realiza-se a Quinta Reunião Nacional do PT, excelente oportunidade para o partido rever posições, abandonar a postura defensiva e elaborar um elenco de propostas capazes de demonstrar que os companheiros preocupam-se com algo mais além de ocupar espaços de poder. Seria uma forma de, com todo o respeito para com a presidente Dilma, sinalizar que o governo é uma coisa e o PT, outra. Apesar de unidos, ocupam planos diferentes.
Um pequeno grupo de petistas imagina conseguir retornar às propostas dos tempos da fundação do partido, sensibilizando ao menos parte da maioria insossa, amorfa e inodora que dirige seus destinos. Pelo menos, fazer com que a Quinta Reunião Nacional signifique algo mais do que um novo capítulo de endeusamento do Lula. Resta saber se terão voz, nas reuniões, já que lhes faltam votos.
A MESMA QUADRILHA
Terça-feira Brasília amanheceu e passou o dia inteiro sem que nem um ônibus circulasse. Transporte coletivo, só o metrô, além, é claro, dos carros particulares dedicados a transportar passageiros cobrando preços várias vezes superiores aos usuais. Os rodoviários declararam greve geral, plenos de motivos, menos de arcar com as consequências do caos verificado na capital federal.
No fundo, mais um escândalo. Durante décadas, duas ou três empresas exploraram o transporte de ônibus, jamais renovando como deveriam as velhas frotas e penalizando passageiros, motoristas e trocadores. Decidiu o governador melhorar o transporte coletivo, abrindo oportunidade para novos grupos se apresentarem. Os velhos, já com os cofres cheios, preferiram cair fora. Ótimo, não fosse o golpe que obtiveram da Câmara Distrital: um projeto que mandava, na liquidação de suas atividades, o governo local assumir as dívidas trabalhistas com seus funcionários, da ordem de 120 milhões de reais. Jamais se viu isso nas relações entre poder público, capital e trabalho.
Por incrível que pareça o governador Agnelo Queirós sancionou o projeto mil vezes inconstitucional, que o Ministério Público contesta mas certamente cujo processo se arrastará por muito tempo. Resultado: demitidos e sem receber o que as empresas já lhes deviam, os rodoviários deflagraram greve. Pior para a população…