CÁSSIO ESTÁ SENDO DILUÍDO

cassio 23

GILVAN FREIRE

O ano de 2013 chega ao fim sem contar maiores vantagens aos líderes políticos do Estado. As administrações municipais, que mudaram de chefia em Janeiro, não trazem qualquer alento aos eleitores em nenhum município. Os grandes problemas são os de sempre: recuperar as finanças exauridas na última eleição em que os prefeitos anteriores ganharam ou perderam com o uso escandaloso e afrontoso dos recursos públicos na campanha, premiando a si, aos parentes ou aos apaniguados. Para isso a lei é morta, a justiça cega e o povo conivente. Há ainda a inapetência e despreparo para o exercício do cargo e a corrupção que vicia o gestor já antes da eleição quando pensa em gastar muito mas em se locupletar depois. Dos prefeitos, os saídos e os entrantes, só se tem noticia diária dos descalabros e de imputações de delitos contra os cofres municipais, sem contar com o protecionamento que muitos recebem dos órgãos de controle e fiscalização. Quando há ao menos uma aferição de aprovação pela opinião pública, como é o caso atual de João Pessoa, parece uma ilha cercada de má-fama e desastre por todos os lados do continente do aquém-mar. As esperanças vagam em todo canto, inclusive na gestão estadual. Parece um ciclo de destruição devastadora.

Enquanto no âmbito administrativo a PB parece uma Serra Pelada sem ouro, na área política, apesar de tudo, o povo se movimenta como se vivesse numa Ilha da Fantasia, onde a população quer festejar e cantar sem que ninguém saiba o que e porque. É como uma copa do mundo milionária em país cheio de pobres e analfabetos que não sabem quanto lhes custam noventa minutos de diversão dentro dos coliseus olímpicos que se transformam em circos de ocasião. É o mais nítido retrato da prosperidade econômica que esbanja e concentra riqueza e distribui pães e espetáculos circenses aos que ignoram as injustiças sociais contra si mesmos. Essa é a via mais sólida para a manutenção do atraso e a desconstrução de uma sociedade consciente e politicamente correta. Faz pena.

 Apesar de tudo, o povo da Paraíba está com a autoestima elevada. Em 2013, nem mesmo o clima de depressão coletiva imposta pelas tensões sociais causadas pelos desacertos e crises do governo de RC e suas inimagináveis anormalidades, conseguiu afastar o povo da política. Isso faz parte do histórico do paraibano ou é, particularmente, uma fase singular da nossa história recente? Possivelmente, são as duas coisas. O eleitor da Paraíba gosta de política, embora, como no resto no Brasil, tenha rala confiança na categoria. Nos últimos anos, as paixões cresceram, por causa de uma rivalidade acendrada entre o maranhismo e o cassismo/ronaldismo, que dividiu o comércio, a indústria, os serviços, gregos e troianos, santos e pecadores, em todo o Estado. O que ou quem alimenta essa situação hoje em dia?

 

É Ricardo Coutinho quem mantém essa chama viva. Ele é o inimigo comum de todos os líderes e seus liderados. São muitos – a maioria dos eleitores da Paraíba. Por causa dele Maranhão está vivo na memória do povo, Veneziano cresce, Luciano Cartaxo desponta, Agra surpreende sem ser político, Ricardo Marcelo converte-se em reserva técnica, Cícero se recupera dos Tsunamis e Cássio transita na multidão como um príncipe das realezas populares do Oriente.

 

Mas só Cássio não tem mais para onde crescer. Os outros têm, menos RC, que ainda pode ficar menor do que já é. Na grande obra do mal, ninguém cresce, a não ser se regenerando antes da perdição ou eliminando os focos de resistência à força. E, na Paraíba, os focos de resistência a RC são imensos e fortes, bem maiores do que o próprio RC.

 

Existe, contudo, um enigma que embaralha as coisas e lança cinzas sobre os fatos políticos na Paraíba. Há insegurança do povo com relação ao papel de Cássio na tentativa de salvação ou no linchamento final de RC e sua ejeção do trono de governador. O panorama vem ficando sombrio e opaco de certo tempo para cá. As dúvidas crescem, e mesmo sem Ricardo ganhar nada, Cássio tateia e se perde aos poucos, numa sessão prolongada de desidratação que já compromete a sua musculatura. É o preço das indecisões, da falta de clareza e das frustrações geradas no seio da população. Nos últimos meses, já há uma clara diluição do fenômeno Cássio, uma espécie de desesperança de seus eleitores, o que põe em risco seu futuro. Mas, para Veneziano e Zé Maranhão, este é o melhor instante. A vida é sinuosa mesmo. E o tempo pouco perdoa erros humanos.