
A Bica do Tambiá ou Parque Arruda Câmara ou simplesmente Bica é outro ótimo exemplo de como a escolha popular pode se sobrepor às nomenclaturas oficiais.
Voltando no tempo, os anos 1920 foram particularmente importantes para a cidade de João Pessoa. A capital paraibana terminou aquela quadra histórica muito beneficiada no que tange a melhoramentos urbanos.
Entre as boas obras de então, uma delas foi a do Parque Arruda Câmara, em 1921. A popularidade do local vem de uma nascente, com batismo inspirado em tocante lenda indígena como Bica do Tambiá (existente desde priscas eras, mas construída em 1782), e que durante muito tempo abasteceu de água potável grande parte da população da cidade de Parahyba, hoje João Pessoa.
O nome do parque homenageia o botânico paraibano, de Pombal, Manuel Arruda Câmara, figura de notáveis serviços prestados ao naturalismo e à história nordestina. Ao ser inaugurado, o Parque Arruda Câmara ensejou a preservação de área da antiga Mata do Róger, baluarte natural da Mata Atlântica na capital paraibana.
Desde então, com breves períodos destinados a serviços corriqueiros ou de recuperação ou de ampliação, o nome que pegou foi mesmo Bica, pelo qual a população chamava a fonte, nas idas e vindas cotidianas em busca de água potável para a sobrevivência diária.
Assim, o aparato do parque, inteiro, findou sendo Bica, mais reconhecida e evocativa do que o nome formal, mesmo que não sirva mais como fonte de abastecimento d’água da cidade, em nenhum nível.
O local virou símbolo afetivo para João Pessoa, associado a memórias de passeios familiares, piqueniques e eventos culturais.
A denominação Bica é mais um exemplo da força que tem a oralidade e o hábito coletivo na construção da identidade urbana, onde o que importa não é apenas o que está nos registros, mas como os cidadãos realmente vivem e nomeiam seus espaços.
Na foto, a Bica do Tambiá que abastecia a cidade de João Pessoa em tempos antigos, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Fonte: Sérgio Botelho
Créditos: Polêmica Paraíba

Sergio Mario Botelho de Araujo Paraibano, nascido em João Pessoa em 20 de fevereiro de 1950, residindo em Brasília. Já trabalhou nos jornais O Norte, A União e Correio da Paraíba, rádios CBN-João Pessoa, FM O Norte e Tabajara, e TV Correio da Paraíba. Foi assessor de Comunicação na Câmara dos Deputados e Senado Federal.