Opinião

Agendas de Hugo Motta já têm “digitais” do seu protagonismo político - Por Nonato Guedes

Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo
Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

   A programação cumprida pelo deputado Hugo Motta (Republicanos) no fim de semana, sobretudo na Paraíba, seu Estado de origem, já sinalizou as “digitais” do projeto de protagonismo político que ele passou a exercer desde a sua vitória consagradora para presidente da Câmara dos Deputados. Foi uma verdadeira maratona, que incluiu agendas administrativas e políticas, reuniões com o governador João Azevêdo (PSB), com deputados federais, estaduais, prefeitos municipais e visitas a instituições assistenciais ou entidades de classe, neste último caso envolvendo diálogo com a seccional estadual da Ordem dos Advogados do Brasil. Motta fez ainda uma escala no Recife onde se encontrou na pré-folia com o prefeito João Campos, deu declarações sobre temas políticos e institucionais e palpites sobre a pré-campanha ao governo do Estado, onde seu partido espera estar representado à altura do seu tamanho.

      O deputado Hugo Motta, com esse périplo roteirizado, surpreendeu analistas políticos que acreditavam que devido às suas responsabilidades na presidência da Câmara Federal iria restringir suas vindas à Paraíba e pautas de interesse dos paraibanos. O que ele evidenciou, falando à imprensa, foi que tem compromisso efetivo com as demandas mais urgentes do Estado e que seu mandato está à disposição para colaborar no encaminhamento de soluções dos pleitos apresentados. Hugo tem consciência de que a sua ascensão ao comando da Casa Legislativa, com seu consequente ingresso na linha direta de sucessão presidencial, redobra o seu cacife e o prestígio pessoal que ficou expresso no resultado espetacular da votação para suceder a Arthur Lira na chefia da Câmara. Ao mesmo tempo, o fato possibilitou à Paraíba recuperar espaços importantes num Poder que hoje divide competências com o próprio Executivo, inclusive, na aplicação de recursos orçamentários da União para obras e investimentos.

         O figurino da maratona cumprida na Paraíba, entre Patos e João Pessoa, exprimiu o “estilo Hugo Motta” centrado no diálogo com diferentes forças políticas e em análises serenas sobre a conjuntura nacional, fugindo dos extremismos políticos que têm se aguçado a partir de decisões da Procuradoria-Geral da República inquinando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e colaboradores próximos de mentoria na formação de uma organização criminosa especializada em tentar destruir o Estado Democrático de Direito. A respeito dessas questões candentes, o posicionamento do deputado Hugo Motta foi de cautela, evitando formular juízes de valor polêmicos a respeito de temas como o da anistia, cuja deliberação deverá passar pelo plenário do Parlamento e pela análise do Supremo Tribunal Federal. Numa de suas falas, o presidente da Câmara deixou claro que, se lhe cabe organizar ou articular a pauta de votações essenciais no Legislativo, em paralelo pretende reger-se por decisões colegiadas, mediante manifestação legítima e democrática de integrantes do Colegiado de Líderes da instituição. Uma atitude, sem dúvida, preventiva, de acautelamento, para evitar a prática de excessos ou abusos de poder na esteira do cenário de radicalização política-ideológica que vigora no país.

          A imagem que o novo dirigente da Câmara procurou transmitir aos seus conterrâneos paraibanos foi a de maturidade perante o contencioso de desafios que lhe cabe administrar numa quadra dificílima da conjuntura nacional. Essa maturidade engloba a compreensão de que, para além dos conflitos políticos-ideológicos, há uma complexidade de assuntos reclamando prioridade e, portanto, solução adequada, para corresponder às expectativas de uma sociedade que deseja transformações sociais e econômicas em condições de mudar suas condições de vida e favorecer ações proativas que tenham o condão de projetar o Brasil além-fronteiras, no concerto das nações civilizadas. Desse foco da problemática nacional o presidente Hugo Motta não admite se afastar, revelando sensibilidade para com os grupos organizados de pressão que, democraticamente, buscam fazer valer seus direitos e conquistas, muitas delas aguardadas há décadas e, infelizmente, não levadas à execução ou adiante por representantes das elites dirigentes que representam o povo. A crise econômica, por exemplo, está na ordem do dia das preocupações da sociedade – e o Parlamento, pelo que Motta aparenta, não está indiferente nem refratário ao aprofundamento de alternativas que possibilitem evitar proporções maiores e desgastantes para a população brasileira.

    No tocante à participação do Republicanos, partido que ele preside no Estado, na chapa majoritária para as eleições de 2026, o deputado Hugo Motta concorda que o partido seja contemplado com o respeito à sua musculatura política-eleitoral, por entender que é uma agremiação que está em visível crescimento e com perspectivas de avanço nos escalões de poder. Mas o parlamentar preconizou que a discussão seja fita e forma realista, no agrupamento liderado pelo governador João Azevêdo (PSB) e que sejam esgotadas s gestões para promoção de “convergências” entre partidos que estão na base e se consideram comprometidos com o projeto de governo que está sendo implantado. Para ele, é um processo que ainda vai passar por muitas conversas e, mesmo, concessões, da parte dos signatários do pacto da atual governabilidade. De sua parte, está pronto para somar e para tentar a convergência dos interesses.